Ana Margareth Mata de Aguiar Brito é Assistente Social, graduada pela Universidade Federal de Pernambuco, pós graduada em famílias e intervenções psicossociais (Faculdade Esuda) e curso em especialização em direitos humanos (UFPE).
Com vocação para a profissão desde pequena, Ana Margareth entende que o desenvolvimento está chegando ao interior e precisa de gestões modernas para melhorar a vida das pessoas. Para ela, um bom profissional deve dedicar à reciclagem constante de seus conhecimentos. Com uma simplicidade, personalidade forte, muito determinada e com um enorme espírito de solidariedade, fala da satisfação que a profissão lhe proporciona.
BLOG MALUMA MARQUES - Qual o histórico, de modo geral, das famílias? Vocês acompanham a relação dos usuários com estas famílias?
ANA MARGARETH - O histórico das famílias baseia-se em tratá-las no que concerne aos direitos violados como violência doméstica, adolescentes em vulnerabilidade social, crianças e idosos negligenciados e vítimas de maus tratos, drogadição. As intervenções psicossociais baseiam-se em famílias oriundas de classes sociais desfavorecidas economicamente e não obstante, poucos casos de classe da média em geral. Acompanhamos as relações intrafamiliares e o cerne da questão foca-se neste núcleo.
Primeiramente os casos chegam até o nosso Equipamento como forma de denúncia (seja por uma pessoa comum ou disque 100). A partir dos dados repassados para a nossa Equipe ocasionamos a solução através de cartas-convite para comparecimento e elucidação do imbróglio, acolhimento, visitas domiciliares, entrevista social e encaminhamento para outras Secretarias (Saúde e Educação). Acreditamos que o trabalho só será bem realizado se contarmos com toda a Rede de Proteção aos usuários. Destaco aqui a Total interação com o Ministério Público e o Poder Judiciário nos garantindo todo o aporte nas intervenções.
BMM - A família sendo a base de formação de um cidadão, a maior parcela de culpa é dela (por eles terem cometido delitos)? Então, o que impulsionaram a cometerem esses delitos? É a falta de estrutura familiar?
AM - Concordamos que haja um misto de problemáticas, pois nosso Sistema Brasileiro é carente de todas as políticas públicas: saúde, educação, moradia, saneamento básico e afins. A Educação é a mais preocupante no bojo da questão familiar. Não há um compromisso dos entes responsáveis (óbvio que não podemos generalizar a todos) em tomar para si este propósito. A escala se configura como extensão do campo do campo de batalha intrafamiliar, cabendo ao corpo discente abraçar a causa. Percebemos neste contexto a urgência em despertar na população a consciência de seu papel na sociedade e o exercício da plena cidadania exigindo sim, do poder público seus diretos.
Portanto, os delitos que venham a ser cometidos pelas crianças, jovens e adultos têm parcelas significativas de culpabilidade entre duas instâncias.
De certo que seria uma gama de motivações a impulsioná-los a criminalidade, como citei anteriormente, a evasão escolar e a desestruturação familiar. Pessoas ociosas, ou por não frequentarem a escola enveredam sim por caminhos tortuosos, e consequentemente, num futuro próximo não estarão aptas ao mercado de trabalho. Só lhes restará o crime como recompensa: furtos, roubos, tráfico de drogas e assassinatos.
Há sim, aqueles que conseguimos resgatar da criminalidade e maus feitos orientando-os a uma vida equilibrada e sistemática. Nosso trabalho consiste principalmente em acompanhar e monitorar cada um deles com as respectivas famílias dando-lhes total suporte.
Para mim, Assistente Social, mantenho e sempre manterei a fé no Ser Humano, se não, do contrário, não estaria atuando nesta profissão espinhosa, como costumo definí-la, mas gratificante. Há dias em que nós queremos mudar o mundo radicalmente e acabar com o sofrimento das pessoas. Há também os dias a sermos atingidos por tantas notícias ruins que nos sentimos fracos e impotentes. Mas mesmo assim nosso trabalho é achar a força e a esperança dentro de nós e acreditar estarmos caminhando para um mundo melhor.
BMM - Então eles (os usuários) estão abertos a falarem como eles praticaram e o por quê?
AM - No momento da acolhida há obviamente o inesperado, o novo, o não saber no que tudo aquilo irá se transformar.
Mas, para nos familiarizarmos, no decorrer do processo os acolhemos e os vínculos de confiança vão se fortalecendo. O nosso objeto de intervenção tem abordagem metodológica tanto no falar como no agir projetando assim, uma conjunção de fatores que proporcionem a abertura ao diálogo franco e aberto, sem preconceitos.
BMM - Há algum caso que possa nos falar que a chocou muito? Então os usuários estão no CREAS para ressocializarem e entenderem que os mesmos não devem mais cometer estes crimes?
AM - Todos me comoveram ou comovem de alguma maneira, seja os mais simples ou os mais complexos. No nosso cotidiano várias mazelas nos são apresentadas. Há dias nos quais absorvo para a minha vida pessoal os absurdos com os quais me deparo fazendo-me repensar. O sofrimento destas pessoas fragilizadas são infinitamente maiores comparados com os nossos percalços.
Houve um caso que me chamou bastante atenção e tocou-me profundamente. Uma mãe acompanhava seu filho atendido por consumo e tráfico de drogas e nos relatou já está pagando as parcelas de um caixão numa funerária da cidade, pois sabia que o final dele estava próximo.
É gritante em nossa sociedade a falta de oportunidades para estes jovens. Difícil escutar da própria mãe tão angustiada e sofrida estas palavras.
Imagine para mim, além de profissional, mãe de um jovem de 17 anos, com a realidade completamente diferente, pois graças a Deus teve sempre acesso a escolas de qualidade, foi aprovado em duas Universidades públicas e seguirá a carreira de Engenheiro Civil. Os estudos foram e serão custeados pelo seu pai que o mantém num ótimo padrão de vida, por ter condições financeiras em proporcionar-lhe tudo isto.
Gostaria de viver num país onde todos pudessem ter as mesmas oportunidades. Pagamos impostos altíssimos e não os vemos serem revertidos em melhorias à população. A corrupção atroz corroe nossas Instituições em toda esfera pública dificultando muito os repasses das verbas.
BMM – Algo mais que gostaria de acrescentar?
AM - Quero e necessito frisar que nosso ambiente de trabalho está completamente despido de preconceitos, pois estamos receptivos a acolhê-los, servi-los, orientá-los e acima de tudo respeitá-los. Nossa missão é extenuante, perfeitos não somos, mas estaremos sempre imbuídos em atendê-los da maneira mais justa possível, a fim de proporcioná-los de volta ao convívio familiar harmônico, inserção às atividades escolares e na sociedade como um todo, sem estarem à margem de seus direitos e deveres como cidadãos.
Nossa Equipe CREAS é sólida e a cada dia procura reciclar-se e desenvolver com maestria as atividades propostas. Meus sinceros agradecimentos a todos os incansáveis colaboradores: Drª Longina Maria Cardoso Cruz (Advogada), Drª Aline Guerra (Psicóloga), Cinara Barbosa (Assistente Social) e demais estagiárias.
Nosso trabalho não seria realizado com tanto esmero sem a total vontade política do Prefeito Túlio Vieira em busca de recursos para estes fins com a transparência peculiar da sua honrosa administração. Por fim, a Secretária de Assistência Social, Srª Mércia Cristina, que não mede esforços no conjunto da obra.
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