Medida de fracionamento foi cogitada pelo Ministério da Saúde em março. Agora, Fiocruz avalia se eficácia de dose com menos cópias do vírus se mantém a longo prazo.
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Segunda parte de estudo da Fiocruz avaliará eficácia da
vacina diluída a longo prazo (Foto: André Borges/Agência Brasília)
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Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) testará a eficácia de uma
dose diluída da vacina da febre amarela. Trata-se da segunda parte de um estudo
realizado pela primeira vez em 2009, quando 900 homens receberam a vacina
diluída pela primeira vez. Agora, a entidade está avaliando se anticorpos
contra o vírus se mantêm a longo prazo. A iniciativa tem financiamento da
organização britânica Wellcome Trust e apoio da Organização Mundial de Saúde.
O trabalho de campo está sendo concluído, mas a Fiocruz fará
ainda os testes laboratoriais para concluir os estudos. “Se esse grupo se
mantiver protegido, isso vai dar uma confiança de que doses reduzidas permitem
imunidade a longo prazo”, diz Reinaldo Menezes, consultor da Fiocruz e
coordenador científico dos testes. A perspectiva é que os resultados sejam
divulgados até o final do ano.
Em março, o Ministério da Saúde avaliou adotar um método
fracionamento da vacina no Brasil em face da demanda pelo imunizante. A medida,
no entanto, não chegou a ser adotada."O fracionamento não é trivial e tem
que ser feita toda uma mudança na produção. Não é assim na semana que
vem", diz Menezes. Uma das questões é a compra de uma seringa especial em
larga escala para a administração da dose de 0,1 ml -- ao invés de 0,5 ml.
"Ela não existe no mercado. Deve ser feita uma compra internacional."
Na diluição, há a presença de menos cópias do vírus na
vacina; já no fracionamento, a vacina é administrada em uma dose menor. O princípio
da eficácia, contudo, é o mesmo. Quando o Ministério da Saúde cogitou o
fracionamento, uma das questões levantadas era sobre o tempo de eficácia, já
que os estudos com a dose diluída haviam acompanhado indivíduos por 10 meses e
a vacina protege por 10 anos. "Isso não significa que a vacina diluída não
protege, só indica que a efetividade precisa ser avaliada e é isso o que vamos
fazer."
A vacina diluída poderá ser usada em situações emergenciais,
já que hoje há apenas dois grandes laboratórios que produzem a vacina no mundo:
Biomanguinhos, ligado à Fiocruz, e a empresa Sanofi Pasteur, com sede na
França. As iniciativas também serão discutidas em painel na 19ª Jornada
Nacional de Imunizações SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), que
acontece em São Paulo, entre 9 e 12 de agosto.
“A investigação sobre a eficácia da diluição da vacina é
importante porque doenças como a febre amarela estão em expansão no mundo e há
a previsão de aumento na demanda”, diz Reinaldo Menezes, consultor da Fiocruz.
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Seringa especial para dose fracionada da vacina da febre
amarela (Foto: Organização Mundial da Saúde)
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Diluição garantiu imunidade
Na primeira parte do estudo, feito em 2008 e 2009, 900
homens receberam a vacina diluída. Com os resultados, pesquisadores atestaram a
eficácia do imunizante em uma diluição que pode chegar a 50 vezes menor que a
dose usualmente aplicada. “Essa diluição significa que há 50 vezes menos cópias
do vírus”, explica Menezes.
As pessoas que receberam a vacina nessa primeira fase foram
acompanhadas por 10 meses – e a proteção se manteve. Agora, com os testes de
2017, será possível analisar se o imunizante é capaz de proteger indivíduos por
um tempo maior. A entidade já conseguiu contato com um terço dos participantes
que participaram do primeiro estudo feito há 8 anos.
Ainda, a Fiocruz planeja novos estudos para 2018 – dessa
vez, com testes da vacina diluída em crianças para comprovar também a
efetividade da estratégia nessa faixa etária.
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Estratégia de fracionamento de doses foi utilizada no Congo
e cogitada no Brasil (Foto: André Borges/Agência Brasília)
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Medida ajudou a combater surto no Congo
No ano passado, os estudos de diluição realizados na Fiocruz
ajudaram a Organização Mundial de Saúde a combater surto de febre amarela na
República Democrática do Congo. Por recomendação da OMS, a vacina de 0,5 ml foi
fracionada e o país aplicou uma dose 5 vezes menor: de 0,1 ml.
“Já que atestamos que uma diluição de até 50 vezes era
eficaz, a conclusão é que um fracionamento em cinco vezes poderia ser utilizado
para ampliar a oferta da vacina em face da emergência”, explica Menezes.
Com a recomendação da Organização Mundial de Saúde, o país
conseguiu imunizar 7 milhões de pessoas em duas semanas em 8000 postos de
vacinação. Foram utilizadas vacinas apropriadas e a e a epidemia foi
rapidamente controlada.
"Essa experiência amplia o conhecimento sobre a
utilização de doses menores da vacina de febre amarela, que permite aumentar
rapidamente o número de doses disponíveis em situações emergenciais", diz
o especialista.
Por: Bem Estar.
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