![]() |
(Crédito: Divulgação). |
Até o próximo dia 22, defensores públicos da União em todo o
Brasil farão vistorias em hospitais para levantar a situação do atendimento
oncológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o defensor Daniel Macedo,
o objetivo é mostrar uma radiografia da realidade que os pacientes enfrentam,
não ficando apenas no discurso do governo.
“É preciso entrar nessas unidades, verificar número de
pacientes, porque câncer é um tratamento multidisciplinar, envolve
cintilografia, quimioterapia, radioterapia, cirurgia oncológica,
quimioterápicos, atenção básica, agendamento de exames, agendamento após o
resultado. É preciso entrar nas unidades para conhecer a realidade e não ficar
apenas no discurso do governo. Vasculhar para fazer uma radiografia da atenção
oncológica no Brasil, porque não é o que eles vendem”.
Macedo explica que o trabalho só começou no Rio de Janeiro,
mas que o prazo é factível, já que as vistorias seguem um relatório prévio.
“Nós já vamos direto nos problemas, já sabemos o que perguntar e aonde ir”,
destacou. As vistorias serão feitas em hospitais federais, estaduais e em
clínicas privadas habilitadas pelo SUS.
Hospital de Bonsucesso
O trabalho começou na segunda-feira, quando Macedo
acompanhou representantes do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de
Janeiro (Cremerj) em vistoria ao Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), no Rio
de Janeiro. Segundo ele, a situação da unidade é muito grave, com mais de 60%
dos tratamentos oncológicos interrompidos por falta de quimioterapia adjuvante
e coadjuvante.
“O adjuvante é para pessoas que precisam do remédio e tem a
viabilidade de manter-se viva, que o câncer desaparece. E os coadjuvantes são
para tratamento paliativo, para pessoas que não tem como regredir o câncer. E o
quimioterápico é o principal. Encontramos a farmácia totalmente desabastecida
de quimioterapia. Mais de 60% dos tratamentos oncológicos interrompido.”
Segundo o Cremerj, a situação da oncologia em Bonsucesso
piorou depois da vistoria feita em abril. Na ocasião, faltavam medicamentos
para 50% dos tratamentos. Agora, esse atendimento foi reduzido pela metade.
Também foi constatada falta de quimioterápicos, de aparelhos para exames e
recursos humanos. De acordo com o órgão, o número de atendimentos ambulatoriais
caiu de 800 por mês para 400, com 191 sessões de quimioterapia feitas. A agenda
para novos pacientes está fechada.
“Encontramos uma pastinha com o nome dos pacientes esperando
para fazer quimioterapia e radioterapia, uma fila de espera. É uma
desorganização generalizada na administração da unidade, porque o paciente
começa a fazer a quimioterapia, há um gasto nisso, interrompe o tratamento e
tem que fazer tudo de novo, não dá para recomeçar de onde parou. Isso viola o
princípio da economicidade da administração pública, além da banalização da
vida”, disse o defensor.
Macedo qualificou como “criminosa” a situação de Bonsucesso.
“É criminoso o que está acontecendo ali, numa unidade que recebe R$ 170 milhões
por ano, segundo o Portal da Transparência, para fazer sua autogestão. Não pode
faltar quimioterápico. Fizemos o levantamento dos valores, R$ 1 milhão
resolveria o problema dos quimioterápicos de baixo custo e alto impacto,
reabastecendo por três meses a farmácia”.
Após as vistorias, a defensoria vai consolidar um relatório
atualizado da situação em todo o Brasil. Para o HFB, Macedo adianta que
pretende ajuizar uma ação coletiva para o pronto reestabelecimento da unidade.
“Como medida de urgência, nós vamos pedir ao Inca [Instituto Nacional do
Câncer] que dê suporte ao HFB com abastecimento de quimioterápico, mas isso é
uma gambiarra. O certo é ter um diretor que tenha experiência em gestão
hospitalar e que tenha um coração, e não uma pedra no lugar, que compre os
materiais necessários, porque essas pessoas estão indo a óbito.”
Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde enviou nota na qual a direção do
Hospital Federal de Bonsucesso informa que tem tomado providências para manter
o estoque abastecido e que foram investidos R$ 3,4 milhões em farmacológicos de
julho a outubro, “além da criação de uma enfermaria com 12 leitos para
retaguarda dos pacientes oncológicos”.
“A chefia do Serviço de Oncologia do HFB se pronunciou
contra o fechamento do setor, como foi sugerido pelo Cremerj, e afirmou que não
há 60% de pacientes com tratamento quimioterápico interrompido por falta de
insumos. De janeiro a setembro deste ano, o HFB realizou 5.718 atendimentos
oncológicos, além dos atendimentos de emergência a pacientes com câncer”, diz a
nota.
Sobre a falta de pessoal, o Departamento de Gestão
Hospitalar (DGH), que coordena a integração assistencial dos seis hospitais
federais no Rio de Janeiro, informa que “realiza consultoria com o Hospital
Sírio-Libanês para promover, nos hospitais e institutos federais, uma rede mais
eficiente para a população. O Ministério da Saúde também já iniciou o processo
para a realização de um novo certame de contratações temporárias imediatas, a
partir da avaliação das necessidades apresentadas pela consultoria”.
Por: Agência Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário