Arsenal nuclear de Pyongyang, que lhe rendeu várias séries de sanções do Conselho de Segurança da ONU e ameaças de ações militares do governo de Trump, será a questão central da agenda
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Kim Jong Un chega a Singapura
Foto: Terence Tan/Ministry of Communications and Informa
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O líder norte-coreano, Kim Jong Un, chegou neste domingo
(10) a Singapura para um encontro na terça-feira com o presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, cujo resultado é incerto após décadas de desconfiança
entre o isolado país com armas nucleares e a superpotência mundial.
O arsenal nuclear de Pyongyang, que lhe rendeu várias séries
de sanções do Conselho de Segurança da ONU e ameaças de ações militares do
governo de Trump, será a questão central da agenda.
Encerrar formalmente a Guerra da Coreia, 65 anos após o fim
das hostilidades, também estará sobre a mesa no primeiro encontro entre o líder
norte-coreano e um presidente em exercício do seu "inimigo
imperialista".
Kim chegou a Singapura a bordo de um 747 da Air China, que
segundo o site de registro de voos Flightradar24 decolou de Pyongyang esta
manhã com destino a Pequim antes de alterar o número do voo, uma vez já no ar,
para dirigir-se para o sul.
O ministro das Relações Exteriores da cidade-Estado, Vivian
Balakrishnan, tuitou uma foto de si mesmo saudando no aeroporto o líder
norte-coreano, que foi levado para o centro da cidade em uma limusine
acompanhada por um comboio de mais de 20 veículos.
Kim tem marcado um encontro com o presidente de Singapura,
Lee Hsien Loong, na tarde deste domingo, de acordo com o ministério das
Relações Exteriores, enquanto Trump segue viajando a bordo do Air Force One
depois de ter deixado, no dia anterior, a reunião do G7 no Canadá.
'Os cliques das câmeras'
A cúpula de terça-feira (12) em Singapura é o clímax de uma
espetacular ofensiva diplomática recente em torno da península coreana, mas
muitos críticos alertam para os riscos de um triunfo da forma sobre a
substância.
Washington exige uma desnuclearização completa, verificável
e irreversível da Coreia do Norte, mas até agora Pyongyang só prometeu
publicamente um compromisso com a desnuclearização da península, um termo
difícil de interpretar.
Richard Armitage, subsecretário de Estado de Washington
durante o governo de George W. Bush, aposta em poucos progressos na
questão-chave da desnuclearização. "O sucesso será nos cliques das
câmeras", disse ele.
Trump insistiu na semana passada que a cúpula não seria
"apenas uma sessão de fotos", dizendo que ajudaria a forjar um
"bom relacionamento" que poderia levar a um "processo".
Mas, antes de embarcar para Singapura, mudou o tom e afirmou
que seu encontro com Kim Jong Un é "uma ocasião única", assegurando
que "desde o primeiro minuto" saberia se um acordo pode ser
alcançado. Ele também levantou a possibilidade de que Kim Jong Un visite
Washington se tudo correr bem.
Mas embora a reunião tenha mérito em si, já que era um
anseio de Pyongyang atendido por Trump impulsivamente em março, também levanta
questões."As pessoas dizem que é uma cúpula histórica (...) o que é
importante entender é que esta cúpula estava ao alcance de qualquer presidente
dos Estados Unidos, e a questão é que nenhum presidente americano quis e tinham
suas razões", explicou Christopher Hill, ex-negociador-chefe dos Estados
Unidos sobre a questão da Coreia do Norte.
Décadas de tensão
Os dois países enfrentam-se há décadas. A Coreia do Norte
invadiu o Sul em 1950, provocando uma guerra em que a Coreia do Sul foi
assistida por um contingente da ONU liderado pelos Estados Unidos, que
enfrentou as tropas de Pyongyang, auxiliadas por Rússia e China. O conflito
terminou com um armistício que selou a divisão da península sem um tratado de
paz.
Ao longo dos anos, a Coreia do Norte continuou a lançar
provocações esporádicas, ao mesmo tempo que avançava em seu programa nuclear,
apresentado como uma garantia contra os riscos de uma invasão americana.
No ano passado, realizou o teste nuclear mais poderoso de
sua história e testou mísseis capazes de atingir o continente dos Estados
Unidos, alimentando tensões, que atingiram níveis sem precedentes, com ameaças
e insultos trocados entre Kim e Trump.
Mas a oportunidade proporcionada pelos Jogos Olímpicos de
Inverno em fevereiro na Coreia do Sul catalisou uma série de reuniões com o
líder de Seul, Moon Jae-in, que procurou pavimentar o diálogo. Kim se encontrou
duas vezes com Moon e com o presidente chinês Xi Jinping.
Pyongyang também procurou demonstrar boa vontade ao libertar
americanos detidos e destruir o local onde seus testes nucleares eram
realizados.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou na
semana passada que "progressos" deveriam ser feitos para aproximar as
posições de ambos os lados sobre o que é a desnuclearização.
Mas Trump confundiu os especialistas quando disse que não
planejava se preparar muito para o encontro. "É uma questão de
atitude", disse Trump.
Por: Folha PE.
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