Estiagem no São Francisco tem se mantido desde 2013. No ano passado, sua bacia hidrográfica já tinha passado pela maior seca em quase 90 anos de medição oficial
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Usina Hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais
Foto: Manoel Marques/Imprensa MG
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A porção alta da Bacia do Rio São Francisco, na Região
Sudeste, enfrenta sua pior crise, segundo relatório divulgado pelo Centro
Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
O reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias, em
Minas Gerais, encontra-se com aproximadamente 45,4% do volume útil armazenado,
e os cenários simulados sugerem que as vazões fiquem abaixo da média histórica
para os próximos meses, mesmo que as chuvas atinjam a média esperada.
“Mesmo chovendo acima da média, [o volume de] a água que
entrará no reservatório será menor que [o da] a média histórica. Significa que,
independentemente, da chuva nos próximos três, quatro meses, a situação do São
Francisco continuará crítica”, afirma o coordenador-geral de Operações e
Modelagens do Cemaden, o meteorologista Marcelo Seluchi.
A vazão natural média do Aproveitamento Hidrelétrico Três
Marias em junho deste ano foi de 126 metros cúbicos por segundo (m³/s), o que
representa uma redução de 61% em relação à vazão histórica média mensal,
considerando o período de 1983-2017, de acordo com os dados do Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
A estiagem no São Francisco tem se mantido desde 2013. No
ano passado, sua bacia hidrográfica já tinha passado pela maior seca em quase
90 anos de medição oficial.
Para Seluchi, a situação no São Francisco só não é mais
grave por causa da ação de um fórum de acompanhamento da crise hídrica na Bacia
do São Francisco coordenado pela Agência Nacional das Águas (ANA), que se reúne
semanalmente com atores da sociedade civil, governos da região e companhias
hidrelétricas.
“A situação só não é muitíssimo mais grave porque realmente
há uma ação das autoridades, dos organismos de regulação, distribuição,
usuários, que decidem ações tendentes a conservar a água do Rio São Francisco”,
disse o meteorologista.
O fórum foi proposto pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
São Francisco, órgão colegiado integrado por representantes do Poder Público,
da sociedade civil e de empresas usuárias de água. Criado em 2001, o comitê tem
atribuições normativas, deliberativas e consultivas, com o objetivo de tornar a
gestão dos recursos hídricos da bacia descentralizada e participativa.
“Essa articulação [fórum] vem adotando, a cada ano, medias
relativas ao controle de vazões de tal maneira que, no período úmido, se possa
acumular água nos reservatórios para que se chegue até novembro com um nível
que permita evitar a chegada ao volume morto”, disse o presidente do comitê,
Anivaldo Miranda.
De acordo com o comitê, o Rio São Francisco é responsável
por 70% da disponibilidade hídrica da Região Nordeste e do norte de Minas
Gerais.
Sobradinho
O maior reservatório do Nordeste, o de Sobradinho, na Bahia,
também está passando por um controle de vazão para garantir o nível acima do
volume morto em novembro.
“Em Sobradinho, a vazão está em 600m³/s, que é muito menor
que a vazão mínima tradicional, que é de 1.300, mas isso permite que se tenha
um certo horizonte de atendimento com o mínimo de segurança, seja para
abastecimento humano, irrigação, agricultura e geração de energia
hidrelétrica”, acrescentou Miranda. Ele estimou que o principal reservatório do
Nordeste deve estar agora com cerca de 32% do voluma útil e deve chegar a
novembro com 15%.
Cantareira
Segundo o Cemaden, os reservatórios do Sistema Cantareira,
responsáveis pelo abastecimento de cerca de 7,5 milhões de pessoas na região metropolitana
de São Paulo, encontram-se com aproximadamente 42,5% da sua reserva hídrica.
Em junho deste ano, a vazão média afluente a esses
reservatórios foi de 11,9m³/s, o que representa 34% da média histórica para o
mês. e a projeção é de que as vazões fiquem abaixo da média histórica para os
próximos meses, mesmo com chuvas dentro da média para o período.
Para Seluchi, a situação do Cantareira é um pouco pior do
que a de 2013, antes da crise de abastecimento que resultou no uso do volume
morto do sistema. Ele ressaltou, porém, que o impacto da seca deste ano não
deve atingir as mesmas proporções da de 2015.
“Não podemos classificar de crítica, mas é uma situação
delicada, vai precisar de um manejo conservador dos recursos hídricos. Isso já
está sendo feito e devemos contar com uma estação chuvosa que não seja tão ruim
como foi em 2014. É bastante provável que isso não se repita em 2018 e 2019”,
afirmou.
Por: Folha PE.
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