Interior de Pernambuco possui título de A capital da Vaquejada, com a mais tradicional e antiga festa de gado do país.
Foto: Maluma Marques. |
Pela PE – 90 chegamos ao Parque
J. Galdino onde acontece a mais antiga festa de gado do Brasil. Na estrada de
terra, já sentimos o cheiro de bois e cavalos correndo na pista e a emoção do
público quando ele cai na faixa e o locutor diz “Valeu o boi. Olhamos pro alto
e a arquibancada cheia que se chegar tarde ficará sem assento viu?” O povo
comendo pipoca e algodão doce, vibrando com a entrada dos vaqueiros e quando se
vê, já é tarde. Está chegando ao fim. Mas os homens, mulheres e crianças saem
contentes e animados por terem prestigiado nossa cultura regional.
A cidade de Surubim comemora em
setembro, 81 anos de tradição e cultura da mais antiga vaquejada do Brasil. O
evento chega a atrair mais de 100.000 visitantes que conta com além da
tradicional festa de gado, atrações musicais nacionais como Wesley Safadão e
Xand Avião, confirmados na edição 2018.
A história
desse esporte tem como partida as práticas da zona rural entre os vaqueiros
nordestinos com a apartação do gado que posteriormente com o uso de cercas de
arame farpado, tornou-se uma atividade de exposição dos vaqueiros. O primeiro
registro da prática no país, hoje é
documento comprobatório, foi a edição do Diário de Pernambuco em 1937 com “Realizam-se
desde ontem, a vaqueijada de Surubim”. Apresenta o escritor, jornalista
(editor do jornal Correio do Agreste), poeta e artista plástico Fernando Guerra
em seu livro documentário Memórias das Vaquejadas de Surubim – A História da Vaquejada mais
antiga do Brasil.
Fernando relata em entrevista a existência de reivindicações do Estado
do Ceará a respeito do detentor deste título, porém os anos de pesquisas
realizadas pelo escritor comprovaram de fato que não há discussão: “Não existe
nada documentado de outra vaquejada até a década de 30 no Brasil”, afirma ele.
Todo o debate gerado acerca da disputa em receber o nome de “pioneira”, se deu
pela proibição de tal prática na cidade pelo Juiz Oscar Loureiro em 1942. Assim, durante longos 7 anos, Surubim,
com a economia voltada à pecuária, ficou sem a famosa Vaquejada.
Em 1949, com
a morte do Juiz, há então O Grande
retorno da Vaquejada de Surubim, como Fernando menciona em seu livro. O
fato recebeu repercussão nacional e foram
dedicadas 10 páginas para retratar a volta da grande festa, expostas no
maior jornal do país na época, O Cruzeiro.
Hoje, a
Vaquejada em Surubim é marco da Cidade. Nas mãos de Dão Galdino o Parque J.
Galdino surgiu em 1972 e mantém a cultura viva por entre as gerações. José
Galdino, filho do pioneiro, ex-praticante do esporte, afirma: “Agora há muita
inovação e qualidade em relação às atividades em campo, conta com um bom forro
de areia para não maltratar o boi, regras bem definidas para julgamento do
bovino, subdivisões como aspirante, amador, profissional, jovem, feminino,
master (a cima de 50 anos) e premiação para cada categoria”.
Em 2016 houve
uma grande repercussão envolvendo o evento. O Supremo Tribunal Federal (STF)
decidiu por sua proibição, realizado
no Ceará, alegando maus tratos aos animais envolvidos. Essa decisão inquietou
o Brasil todo, porém com, a força popular e após análises, foi visto que os
animais não sofrem e visaram também ao
movimento da economia com a vaquejada na
cidade. Após a lei ser sancionada, foi estabelecida a vaquejada como patrimônio cultural do Brasil. A regulamentação do manual de bem estar animal, com os direitos já existentes, se tornaram regras que podem inclusive
retirar o vaqueiro da competição.
Com intuito
de garantir o bem estar animal e a regulamentação da Vaquejada como patrimônio cultural do Brasil, o
Artigo 4º É terminantemente proibida a realização de vaquejada sem o uso do
protetor de cauda e o Artigo 10º É
proibido uso de instrumentos que possam provocar qualquer sangramento nos
animais em competição e/ou que provoquem dor aguda ou perfuração, são duas
das regras claras assegurado pela Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ).
As festividades em Surubim acontecem sempre no
terceiro fim de semana de setembro, mas, no domingo de manhã que antecede, acontece a missa do vaqueiro. Há o
desfile de vaqueiros junto à população surubinense e turistas que, montados em
seus cavalos percorrem as grandes ruas da cidade e se concentram para a
celebração a céu aberto. É uma grande emoção para todos, ainda bem que não é
pecado chorar, pois a felicidade em viver esse momento é tanta que é possível
ver pessoas, durante a missa, chorando com o momento.
Além da
tradicional derrubada do boi, durante a festa, também ocorre a prática do
futboi, com os envolvidos
jogando futebol na
pista com o animal solto. “Eu mesmo
viajando, cheguei em Minas Gerais, em uma vaquejada, e vi esse futboi. Vim pra
cá e comecei a fazer aqui também por volta de 1984”, diz José Galdino,
afirmando hoje a inclusão dele na programação
tradicional que atrai muito o público para se divertir. Uma apreciadora da
festa de gado é Adjanira Moraes e diz “Já
fui a vários parques de vaquejadas, para poder apreciar esse esporte
nordestino. Gravatá, Serrita, Salgueiro, Caruaru, Carpina, Limoeiro, Frei
Miguelinho e Vertentes são alguns dos
lugares que já fui procurar uma festa de gado, mas nada se compara a festa da
capital da querida Surubim. Começo à
frequentar o parque na quarta-feira pra ver o futboi e da quinta- feira ao domingo temos o grande espetáculo, a
derrubada de boi”.
Adjanira
ainda ousa: “Quem disse que mulher não
curte vaquejada está muito equivocado, pois sou mulher e amo esse esporte,
tenho orgulho de ser do Nordeste e morar na capital da vaquejada”,
residente em Surubim e há mais de 10 anos aprecia esse esporte nordestino com foco no respeito aos animais, diverte o povo e ainda é
investimento na economia da cidade.
Já o amante do esporte e filho da casa, José
conclui: “Mas a vaquejada de Surubim
é grande dos dois jeitos, tem que ter atração boa, o povo gosta”, A festa teve início dia 12 e irá ser finalizada no próximo domingo, dia 16 de setembro.
Artistas como Wesley Safadão, Léo Santana e Jonas Esticado farão a festa
na primeira noite, na sexta dia 14.
Enquanto que a animação do sábado, dia 15 será por conta de Xand Avião,
Gabriel Diniz e Avine Vinny, prometendo casa cheia de turistas e população
local para curtir com muita festa e tradição a vaquejada de Surubim.
Foto: Maluma Marques. |
Por: Iara Lima - Revisão Prof. Moisés.
incrível a tradição da cidade de Surubim
ResponderExcluirDescrição minuciosa e de forma peculiar de alguém que consegue traduzir em palavras emoções e sentimentos de um povo numa tradição que alegra e movimenta a cidade por inteira. Parabéns Iara Lima, sua dedicação ao que faz lhe levara a uma grande vitória e futuro promissor.
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