O STF deve analisar o mérito de ações que discutem a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, um dos pilares da Lava Jato
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© REUTERS/Adriano Machado
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OSupremo Tribunal Federal (STF) prepara uma série de
julgamentos relacionados à Lava Jato com potencial para contrariar os
interesses de procuradores e mudar o rumo de investigações em curso no País.
Mais do que impor eventuais derrotas para a operação, trata-se de garantir
"a vitória da Constituição", na definição de um ministro da Corte.
Até novembro, o STF deve analisar o mérito de ações que
discutem a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, um dos
pilares da Lava Jato e defendida pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. O
plenário do tribunal também deverá firmar o entendimento sobre o
compartilhamento de dados fiscais e bancários de órgãos como a Receita e o
antigo Coaf sem autorização judicial, além de definir critérios sobre a
anulação de condenações nos casos em que réus delatados não tiveram assegurado
o direito de falar depois de réus delatores.
"Todo mundo é a favor do combate à corrupção, mas
observados os meios contidos na ordem jurídica. Em Direito, o meio justifica o
fim, não o fim ao meio. Não dá é para levar essa persecução penal de cambulhada
(falta de ordem). Não avançamos culturalmente a qualquer custo", disse o
ministro Marco Aurélio Mello ao Estado, em referência à agenda de fim de ano do
STF. "Eu não posso atropelar as normas de regência que revelam franquias e
garantias do cidadão."
Na Segunda Turma - composta por 5 dos 11 ministros da Corte
-, é aguardada a conclusão do julgamento em que a defesa do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva acusa Moro de agir com parcialidade quando era juiz
federal em Curitiba, por condená-lo no caso do triplex do Guarujá e, depois,
assumir o cargo de ministro no governo Bolsonaro.
Procuradores envolvidos nas investigações criticam a
possibilidade de alterações, com o argumento de que podem abrir brecha para a
anulação de condenações. Coordenador da força-tarefa de Curitiba, o procurador
Deltan Dallagnol já falou em entrevistas recentes em "revanchismo" e
"tremendo retrocesso" para a Lava Jato.
Essas críticas também têm alimentado grupos na internet que,
apoiados por parlamentares, se organizam em protestos contra o Supremo. O
último deles aconteceu no fim de setembro, quando manifestantes vestidos de
verde e amarelo tentaram derrubar as grades que cercam a área externa do
Supremo, o que levou policiais a dispararem gás lacrimogêneo para dispersar a
multidão. Os manifestantes falavam em "moralizar" o Supremo. No meio
da confusão, um policial militar foi ferido a pedradas.
A pauta de fim de ano virá à tona depois de o site The
Intercept Brasil publicar o teor de supostas mensagens trocadas pelo então juiz
Sérgio Moro e procuradores durante o curso da Lava Jato. Alvo de tiroteio
político, Moro enfrenta desgaste e dificuldades no Congresso para a aprovação
do pacote anticrime. O presidente Jair Bolsonaro também tem receio de que o
ministro não seja aprovado pelo Senado, para uma cadeira no Supremo, por causa
da retaliação de políticos investigados em operações autorizadas por ele quando
juiz. A partir de novembro de 2020 haverá duas vagas na Corte.
Polarização
Na avaliação de Davi Tangerino, professor de Direito Penal
na FGV Direito São Paulo, as futuras decisões do Supremo envolvendo a Lava Jato
vão reforçar o ambiente polarizado no País. "Temos vivido tempos binários.
Vai ter uma turma grande tomando isso como sinônimo de impunidade e uma outra
dizendo que o Supremo fez justiça ao Lula. Quem vai falar mais alto, fazer mais
barulho? O tempo vai dizer", afirmou. "A Lava Jato é uma força-tarefa
que teve resultados importantes, mas que há muito tempo vem cometendo excessos.
O mais correto é entender que, finalmente, o Supremo percebeu que houve abusos
e agora, pelos indicativos que a gente está recebendo, vai retomar o trilho
constitucional."
Relator de três ações que discutem a execução antecipada de
pena, Marco Aurélio já cobrou tanto o atual presidente do STF, Dias Toffoli,
quanto sua antecessora, Cármen Lúcia, pedindo a inclusão do tema na pauta do
plenário. Em dezembro de 2018, na véspera do recesso de fim do ano, Marco
Aurélio deu liminar derrubando a possibilidade de prisão após condenação em
segunda instância, mas a decisão acabou cassada por Toffoli no mesmo dia.
Agora, a expectativa de ministros tanto da ala alinhada à
Lava Jato quanto da corrente mais crítica à atuação do Ministério Público é a
de que a atual posição do STF sobre o tema seja revista. A dúvida é se o
Supremo vai permitir a prisão apenas após se esgotarem todos os recursos, o
chamado "trânsito em julgado". Também pode optar por uma solução
intermediária, fixando como marco uma definição do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) - posição que já foi defendida por Toffoli e Gilmar. É da ministra Rosa
Weber o voto considerado decisivo para definir o placar, que tende novamente a
ser apertado.
Em abril do ano passado, Rosa votou contra um pedido de
liberdade de Lula, ainda que também já tivesse se posicionado contra a execução
antecipada de pena. Argumentou que seguiu a jurisprudência do tribunal.
Ainda em novembro, o Supremo deve decidir se confirma
liminar concedida por Toffoli que suspendeu em todo o País processos sobre
compartilhamento de dados da Receita e do antigo Coaf sem autorização judicial.
A decisão afeta diretamente o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que entrou na
mira do MP por supostos atos cometidos quando era deputado estadual no Rio de
Janeiro. Por decisão de Toffoli, essa apuração está parada. As informações são
do jornal O Estado de S. Paulo.
Por: Notícias ao Minuto.
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