A recente e polêmica decisão do STF sobre prisão em segunda
instância representou uma perfeita metáfora do Brasil atual. O resultado, um
apertadíssimo 6 X 5, expressa com perfeição que o país continua dividido. Quase
ao meio, quando se chega a decisões essenciais.
No caso, não há a menor dúvida de que o Supremo restabeleceu
na matéria o entendimento determinado pela Constituição. Que é muito clara
quando diz que ninguém pode ser preso a não ser após ter a sentença transitado
em julgado. E a própria Lei Maior estabelece algumas exceções onde se aplica
prisão preventiva ou cautelar. Algumas situações específicas, que devem ser
apreciadas caso a caso. Fora isso, só flagrante delito ou sentença para a qual
não caiba mais recurso. Até lá, todos são considerados inocentes, perante a
lei.
O que causa espanto é que algo tão simples, que não precisa
ser jurista para entender, tenha sido interpretado e aplicado de forma
diferente durante tanto tempo.
A democracia é uma conquista da sociedade brasileira. As
novas gerações, que não viveram os anos sombrios da ditadura (1964/1985),
talvez não dêem tanto valor ao direito de expressão plena, livre, sem ameaças à
manifestação do seu pensamento sobre qualquer assunto, respeitando o direito
dos outros, naturalmente. E o que é mais importante ainda: ao respeito às
garantias individuais. Ao direito de ir e vir. Ficar, se quiser. Mais uma vez,
desde que respeitando os direitos alheios e as regras em vigor.
Os jovens precisam ser educados nesta direção.
Porém reconheço que não é fácil quando os mais velhos,
supostamente mais sábios, aqueles que deveriam dar exemplo, ‘’interpretam’’ as
leis à sua conveniência, contrariando o mais elementar bom senso. Porque quando
a regra é clara, como nesse caso é, não cabe interpretar e sim aplicar.
Gostar ou não gostar, concordar ou não com o que está
escrito lá, é outra conversa. Tudo pode ser mudado, aprimorado, modernizado.
Até que isto aconteça, a Constituição tem que ser simplesmente cumprida. A lei
vale para todos. Ninguém está acima dela. Nem abaixo.
Como ninguém está acima, todos podem ser investigados, aliás
já é tempo da sociedade se acostumar com isso. Ser investigado ou processado
não constitui demérito para ninguém.
Em contrapartida, todos têm direito à mais ampla defesa. E
ninguém deve ser condenado, nem pela justiça nem pela sociedade, antes da hora.
Repito: do mesmo jeito que as pessoas, especificamente as
que ocupam cargos públicos, devem estar
preparadas para terem suas atividades passadas a limpo, têm o direito de não
serem submetidas a linchamentos morais ou mesmo a sentenças milicianas, a execuções
sumárias, enfim, à ‘lei do Cão’’.
A Constituição representa garantia para todos, ricos e
pobres, poderosos ou humildes. A injustiça contra quem quer que seja, é uma
ameaça para o conjunto.
Por isso, é tão importante que erros sinceros ou abusos
cretinos, praticados diariamente sob os nossos olhos, sejam corrigidos. Por
isso é tão importante que os agentes públicos entendam que são servidores do
público. Por isso, é tão importante que aqueles que aproveitam os seus cargos
para praticarem abusos sejam exemplarmente responsabilizados e punidos, ao
invés de premiados, como acontece atualmente.
A democracia não nós foi conceda de mão beijada. Ela permite
que os desvios sejam corrigidos e a lei sempre aprimorada.
Respeitar a lei.
Respeitar os que pensam diferente.
Abolir do dia a dia o ódio por quem discorda.
Garantir que todas as garantias sejam de fato garantidas.
Consolidar as conquistas e aperfeiçoar as regras e a sua
aplicação.
Avançar, sem abrir mão do que foi conquistado.
Este é o desafio para as novas gerações.
A sociedade na qual nossos netos vão viver será resultado
das lutas que nossos filhos vão lutar.
Por: José Nivaldo Júnior.
Ótimo artigo. A lei existe para ser cumprida, e não distorcida como ocorreu no episódio da prisão em Segunda Instância de Lula, ou no impeachment bancal da Presidenta Dilma, ambos abusos tendo levado à eleição de Bolsonaro.
ResponderExcluir