O ciclo de palestras marca a primeira reunião entre órgãos governamentais federais, estaduais e municipais e entidades do terceiro setor
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© Reuters / Adriano Machado
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Reunidos por uma preocupação com o estado de saúde mental de
vítimas de grandes tragédias, como os rompimentos das barragens de Mariana e
Brumadinho, funcionários de vários órgãos do governo e da ONG Médicos Sem
Fronteiras se reuniram em um ciclo de palestras que discute ações e estratégias
para preparar profissionais que atendem comunidades afetadas por desastres.
De acordo com o psicólogo Sérgio Rossi, que atuou como
coordenador de saúde mental durante o desastre de Mariana e é um dos
multiplicadores de conhecimento do ciclo, a melhor forma de tratar pessoas que
passaram por experiências traumáticas em larga escala é multiplicar as Redes de
Atenção Psicossocial (RAPS). O foco dessas redes é promover cuidados essenciais
a pessoas em situações de risco psicológico, mental e social sem ferir direitos
pessoais.
“É preciso discutir, refletir e pensar na saúde mental de pessoas
que sofrem tragédias. As políticas públicas precisam se organizar para
apresentar respostas que garantam cuidado, proteção e possibilidades de retomar
e recuperar as vidas”, afirma Rossi.
De acordo com o psicólogo, o impacto de tragédias em grande
escala não é mensurável nos momentos iniciais, razão pela qual é necessário
treinar equipes multidisciplinares para atuar nos primeiros socorros das
comunidades afetadas. “O nosso SUS deveria ter todo o protagonismo no socorro
de vítimas de tragédias. A melhor estratégia para garantir a saúde mental e o
apoio necessário a essas pessoas é usar o nosso Sistema Único de Saúde como um
campo intersetorial, multidisciplinar, com apoio de políticas e instituições”,
declarou.
O ciclo de palestras marca a primeira reunião entre órgãos
governamentais federais, estaduais e municipais e entidades do terceiro setor.
Funcionários dos ministérios da Cidadania, da Saúde, do Desenvolvimento
Nacional, membros da Defesa Civil, das secretarias de saúde estaduais e
municipais foram sorteados para a iniciativa.
Jordan Lima, terapeuta ocupacional de um Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) na Bahia, resolveu participar da formação por acreditar que
desastres que anulam direitos básicos e afetam a saúde mental das pessoas
ocorrem no cotidiano.”Pessoas em situação de rua que fazem uso abusivo de
álcool e outras drogas estão em uma posição parecida com a de pessoas que
passam por desastres. E essas cidades [Mariana e Brumadinho] tinham pessoas já
nessa situação [de rua]. Essas populações perdem totalmente o amparo do
Estado”.
Para a doutora Débora Noal, uma das organizadoras do evento,
o compartilhamento de conhecimentos sobre grandes desastres já tem resultados
concretos. “Dentro da realidade da assistência psicossocial, já podemos ver
claramente que houve uma evolução entre Mariana e Brumadinho. Nas primeiras 24
horas do rompimento da barragem de Brumadinho já havia a presença dos três
entes federados e de organismos internacionais discutindo ações de mitigação de
danos e de manutenção da saúde dos afetados. Em Mariana, essa mesma ação
demorou quase um mês”.
A psicóloga disse ainda que já é possível traçar um perfil
das doenças e transtornos mentais mais comuns que acometem pessoas em
tragédias. “Nas primeiras 72 horas, as reações são as mesmas em pessoas do
mundo inteiro: taquicardia, pânico, sudorese. Mas no fim do primeiro mês, esses
sintomas evoluem para dores de cabeça intensas, insônia, ataques de pânico e
dissociação da tragédia, que é quando a pessoa não se vê como alguém que passou
por aquela situação”, explica.
As palestras sobre cuidados de saúde mental em tragédias
acontecem em Brasília, na Escola da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na
Universidade de Brasília, até sexta-feira (08), e deverão ser transformadas em
um curso à distância para profissionais que atuam na área.
Com informação: Agência Brasil
Por: Notícias ao Minuto.
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