Dia do Exército reuniu manifestantes em Brasília
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Foto: Marcelo Casal Jr Agência Brasil. |
O presidente da República, Jair Bolsonaro, defendeu nesta
segunda-feira (20) Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional
"abertos e transparentes". Ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã
de hoje (20) ele parou para falar com apoioadores sobre a participação dele em
um ato em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, nesse domingo
(19).
Na ocasião, depois de acenar para centenas de pessoas, o
presidente fez um discurso em cima da caçamba de uma caminhonete. "Eu
estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no
Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que
tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos,
sem exceção no Brasil, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte
para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece.
Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder", disse no ato.
Hoje, provocado por um apoiador, que pediu o fechamento do
Supremo, Bolsonaro reagiu: “Sem essa conversa de fechar. Aqui não tem que
fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia, aqui é respeito à Constituição
brasileira. E aqui é minha casa, é a tua casa. Então, peço por favor que não se
fale isso aqui. Supremo aberto, transparente. Congresso aberto, transparente”,
afirmou.
O presidente afirmou que a pauta do ato do domingo, Dia do
Exército, era a volta ao trabalho e a ida do povo para a rua. Bolsonaro também
responsabilizou “infiltrados” na manifestação por gritos e faixas que pediam
fechamento do Congresso, STF e pediam a volta do Ato Instituicional n° 5, usado
no regime militar para punir opositores ao regime e cassar parlamentares.
"Em todo e qualquer movimento tem infiltrado, tem gente
que tem a sua liberdade de expressão. Respeite a liberdade de expressão. Pegue
o meu discurso, dá dois minutos, não falei nada contra qualquer outro poder,
muito pelo contrário. Queremos voltar ao trabalho, o povo quer isso. Estavam lá
saudando o Exército Brasileiro. É isso, mais nada. Fora isso, é invencionice, é
tentativa de incendiar uma nação que ainda está dentro da normalidade",
disse o presidente.
Relaxamento
Defensor do relaxamento das medidas de isolamento social
contra o vírus causador da pandemia, ainda na saída do Alvorada hoje, o
presidente voltou a criticar medidas tomadas por alguns dos governadores.
"Tudo que é feito com excesso acaba tendo problema", disse. De acordo
com presidente, em alguns estados, as medidas restritivas não atingiram seu
objetivo. “Espero que essa seja a última
semana dessa quarentena, dessa maneira de combater o vírus, todo mundo em casa.
A massa não tem como ficar em casa porque a geladeira está vazia”, disse.
"Aproximadamente 70% da população vai ser infectada,
não adianta querer correr disso, é uma verdade. Estão com medo da
verdade?", disse.
Reações
As mensagens vistas na manifestação que pediam o fechamento
do Congresso, STF e a volta do AI-5 causaram reações em representantes do
Judiciário, Legislativo, governadores e entidades que representam a sociedade
civil e até em antigos aliados.
Pelo Twitter, na manhã de hoje, o general Santos Cruz,
ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, disse
que o Exército é instituição do Estado. “Não participa das disputas de rotina.
Democracia se faz com disputas civilizadas, equilíbrio de Poderes e
aperfeiçoamento das instituições. O EB @exercitoofcial tem prestígio porque é
exemplar, honrado e um dos pilares da democracia”, disse.
Na mesma rede social ministros do Supremo Tribunal Federal
criticaram a manifestação. “É assustador ver manifestações pela volta do regime
militar, após 30 anos de democracia. Defender a Constituição e as instituições
democráticas faz parte do meu papel e do meu dever”, ressaltou o ministro Luiz
Roberto Barroso que também citou Martin Luther King: “Pior do que o grito dos
maus é o silêncio dos bons.”
Outro ministro, Gilmar Mendes, disse que a crise do novo
coronavírus “só vai ser superada com responsabilidade política, união de todos
e solidariedade”.
Também pelo Twitter, o ministro Marco Aurélio Mello chamou
os manifestantes de “saudosistas inoportunos” e afirmou que uma escalada
autoritária está em curso no Brasil. “Não há espaço para retrocesso. Os ares
são democráticos e assim continuarão. Visão totalitária merece a excomunhão
maior”, afirmou.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foi um
dos principais alvos dos manifestantes, repudiou, em nome da Câmara dos
Deputados, “todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição”.
Entidades como a Associação Nacional dos Procuradores da
República também se manifestaram. A ANPR disse que “vê com preocupação as
manifestações de grupos pelo país defendendo o fechamento do Supremo Tribunal
Federal e do Congresso Nacional e a volta do AI-5”. “A marcha democrática é uma
conquista civilizatória que não admite retrocessos. Sem democracia, não há
concretização da liberdade nem da cidadania. Não há direitos individuais ou
sociais, não há combate à corrupção. A defesa do regime democrático e de seus
alicerces é, portanto, dever de toda a sociedade brasileira, sendo missão
precípua do Ministério Público”, afirmou.
Vários governadores de estado, inclusive os dos três estados
mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus, São Paulo, Ro de Janeiro e
Ceará também se manifestaram. O governador de São Paulo, João Doria, chamou de
"lamentável" a atuação do presidente neste domingo. "Lamentável
que o presidente da República apoie um ato antidemocrático, que afronta a democracia
e exalta o AI-5. Repudio também os ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo
Tribunal Federal. O Brasil precisa vencer a pandemia e deve preservar sua
democracia", disse.
Wilson Witzel do Rio de Janeiro também se manifestou.
"Em vez de o presidente incitar a população contra os governadores e
comandar uma grande rede de fake news para tentar assassinar nossas reputações,
deveria cuidar da saúde dos brasileiros. Seguimos na missão de enfrentamento do
covid-19.#rjcontraocoronavirus".
Camilo Santana, governador do Ceará, qualificou como
"inaceitáveis e repugnantes" atos como o de domingo em Brasília.
"O Brasil não se curvará jamais a este tipo de ameaça", disse.
Por: Agência Brasil.
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