O processo é conhecido genericamente como PCR (sigla inglesa de "reação em cadeia de polimerase", por causa da molécula de mesmo nome que monta a cadeia bioquímica de material genético)
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SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) - Pesquisadores do ICB-USP
(Instituto de Ciências Biomédicas da USP) mostraram que é possível usar um
método mais simples e barato, que não depende de reagentes importados, para
detectar de modo confiável a presença de material genético do novo coronavírus
no organismo humano.
Com resultados similares aos do teste mais complexo, hoje
considerado o "padrão-ouro", a adaptação proposta por Edison Luiz
Durigon e seus colegas do poderia ser empregada com facilidade em universidades
e laboratórios em cidades médias, o que facilitaria a ampliação da testagem da
doença no Brasil.
"A gente percebeu que era preciso dar um passo atrás e
fazer algo mais simples, condizente com a realidade do país", explicou
Durigon à Folha. "Mostrar que é possível seguir esse caminho sem perder
confiabilidade nos resultados pode ajudar não só o Brasil como também outros
países da América Latina ou da África, que têm limitações semelhantes às
nossas."
Eles calculam que, nesses moldes, cada teste custaria entre
R$ 10 e R$ 15, enquanto a testagem "padrão-ouro" hoje custa R$ 70.
Para saber se uma pessoa está infectada pelo novo
coronavírus no momento da coleta de amostras, é preciso identificar a presença
do RNA viral (equivalente ao DNA humano) no organismo do paciente.
Essa identificação é feita com a ajuda de um pequeno pedaço
de material genético correspondente ao do vírus, o chamado "primer",
que se liga a um trecho de um dos genes virais e permite que sejam feitas
muitas cópias dele, as quais, depois disso, são detectadas em laboratório.
O processo é conhecido genericamente como PCR (sigla inglesa
de "reação em cadeia de polimerase", por causa da molécula de mesmo
nome que monta a cadeia bioquímica de material genético). Mas existem diversas
formas de PCR, e o método que acabou se tornando o padrão desde os primeiros
meses de pandemia é o da RT-qPCR em tempo real, que exige insumos que não são
fabricados no Brasil, aparelhos caros e pessoal treinado, pré-requisitos raros.
"Notei isso conversando com o próprio pessoal do meu
grupo. Trabalho com bastante gente, umas 15 pessoas, e só duas sabiam usar o
método", conta Durigon.
Por outro lado, quase todos os estudantes de pós-graduação e
técnicos de laboratório que trabalham com a área no Brasil aplicam sem
dificuldade as formas mais tradicionais de PCR, além de já estarem equipados
com termocicladores, máquinas que esquentam e resfriam as amostras nos ciclos
que permitem a cópia do material genético.
Em artigo na revista científica Brazilian Journal of
Microbiology, a equipe do ICB publicou dados validando a abordagem, que não
mostrou grandes diferenças de precisão em relação à forma mais sofisticada de
PCR.
Os pesquisadores da USP também desenvolveram outro formato
de teste, baseado na detecção de anticorpos que o organismo produz contra o
Sars-CoV-2, que pode indicar tanto contato recente com o vírus quanto o
desenvolvimento da imunidade a ele depois do fim da infecção.
Com custo estimado de R$ 20 para cada testagem, a análise de
anticorpos foi validada a partir de amostras de 934 pessoas, das quais 9,3%
apresentaram sinais de ter desenvolvido imunidade.
Esses participantes continuarão a ser monitorados nos
próximos meses, junto um grupo maior de pessoas, na tentativa de saber quanto
tempo dura a presença dos anticorpos contra o coronavírus no organismo, diz
Luís Carlos de Souza Ferreira, diretor do ICB.
Essa informação ainda não está clara –estudos mundo afora
indicaram que nem todos os recuperados desenvolvem anticorpos, e outros
coronavírus produzem imunidade passageira, na escala de tempo de um ou dois
anos.
O teste de anticorpos ainda não está aprovado para uso
comercial. Já os protocolos para a forma mais simples de PCR poderiam ser
implementados imediatamente a partir da publicação feita pelo grupo de
pesquisadores.
Por: Notícias ao Minuto.
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