No
ano em que a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil - Coordenadoria
RS (1980-2020) comemora 40 anos de sua fundação, com o lema “A Perenidade do
Pensamento pela Palavra”, eis que nasce a “Coletânea Palavras 2020” com o tema
“Pandemia“. O que se lê nas 100 páginas são poemas, contos, minicontos,
crônicas e quintas de 50 escritores, ajebianas e convidados, que expressam com maestria
os momentos históricos vividos, mergulhados na insegurança e nas incertezas sob
ameaça do inimigo invisível, o vírus da Covid-19.
A
organizadora e presidente coordenadora da AJEB-RS, Eliane Tonello, inicia com a
apresentação da Coletânea pontuando: “Sem interromper as edições anteriores,
fomos desafiados a inovar e a explorar ao máximo a nossa criatividade, prova de
que a arte pode ser um dispositivo de saúde mental”. Na sequência, em sua
apresentação à obra - Palavras do nosso
tempo -, Andrea Barrios, Vice-presidente da AJEB-RS descortina nossa
realidade: “o sorriso atrás das máscaras, guardar distância se torna um gesto
de amor pelo próximo. Eis que a palavra nos salva”. Salienta a segunda
Vice-presidente, Tatiana Fadel Rihan, “(...) surge - neste ano tão intrigante –
de maneira expandida e ousada, moderna e diferente (...) esta obra é mais uma
linda flor, que nasce para completar o buquê desta querida associação (...)”. E
as palavras da Presidente Nacional, Maria Odila Menezes de Souza: “No dia 8 de
abril de 2020, a AJEB completou 50 anos de ininterruptas atividades culturais.
Falar sobre a AJEB remete àquelas mulheres intelectuais do passado, arquitetas
de nossa história, idealizadoras de planos e realizações literárias profícuas
que elevaram o conceito da nossa Entidade”.
A
leveza desejada na ilustração da capa está representada pela flor “dente-de-leão”,
não apenas devido à semelhança com o vírus exibido nas mídias, mas sobretudo pelos
significados que engloba - esperança, liberdade, otimismo e cura. Da mesma forma,
ao assoprarmos suas pétalas e estas com facilidade se espalharem com o vento, o
fato de disponibilizar de forma gratuita é levar aos quatro cantos do mundo um
afago literário aos queridos leitores.
Segue
adiante um “pout-pourri”, fragmentos da
belíssima obra publicada mesclados e sobrepostos criativamente. “Escrever é
como brincar com a mãe. Expressa emoções, sentimentos e angústias. Encontra-se
lamento. De joelho rezo. Na oração o véu encobre o dia. Inúmeros são os
questionamentos neste tempo de reclusão. E agora?, perguntava José. O que vamos
fazer? Ainda não encontro palavras, muito nasceu e morreu em mim. Procura-se em
meio à pandemia uma palavra que possa responder, mas que seja uníssona. A realidade
é dura. Na madrugada pandêmica, a escritora acorda, mas não quer abrir os
olhos. Mesmo tendo certeza de que a vida é minha amiga. Amo a vida e tenho
orgulho de quem me tornei. Realmente os tempos são difíceis, turbulentos. O
medo invade o interior, aterroriza o pensamento. Amor em confinamento. Depois.
Depois do quê? Vivemos em uma guerra, inesperada. Nasce Pedro. Pan-tempo. Coronavírus:
início de um novo tempo. Desfrutamos primavera. Outono furtado. A vida é
agridoce. Dois mundos.”
“Sufocadas
vozes, ressoam madrugadas. Você é danado, quer ser dono do pedaço. Soldados de branco
continuam a nos proteger nesta batalha. Ontem, remexendo gavetas, surgiram
metáforas. Postergação de Iduna. A voz mantém o mundo. Catarse. Desconexo.
Lâmpada da memória. A força da palavra. Causas. Cativeiro. Presente.
Subitamente surgem lembranças e máscara do medo. O grito é de todos os que se
importam. Sim. Um poema respira, é um impulso. As janelas são tantas, não
sabemos o que nos espera dentro dela. Guarda mistério. Quarentena, madrugada
insone. Ideias são as que nos alimentam. Restam-nos as palavras. A menina no
espelho. Pedaços de mim. Chuva. Sem dormir, acaba o livro, volta para o mundo.
Vazio.”
“Na
vida somos peregrinos, o que nos diferencia é o fardo. Garras martirizantes,
feridas mutáveis. Faz cinco cadernos que estamos em quarentena. O flagelo
estrangeiro funde silêncios às cinzas. A falta do abraço, símbolo necessário
para nós, humanos. Aqui e agora em três tempos. Confinamento, vamos contar às
próximas gerações que a morte andou rondando nossos passos. Ser mãe na pandemia
tem medo e mãos frias. Ele ela. Despertar. O depois? Somente o olhar alheio
saberá. Fôlego.”
“Desalinhado.
Tudo parecia sonho, mas na realidade, se mescla ao lúdico e ao imaginário. Quando
teus olhos azuis, os meus fitaram senti alegria e amor. Cartão-postal enquadrado
na moldura da janela, sopro do vento alisa a face. Entre lençóis revoltos, no
crepitar das chamas, o tempo não passa. A bandeira avermelhou e a pressão
baixou. Só passamos a fazer amor em versos e poesias.”
Agradecimentos
ao Guilherme Hernandez Moraes, microempreendedor e diretor da empresa HM
Digital Design, com um belíssimo trabalho na criação do livro impresso e do
livro digital.
O
desejo é de uma proveitosa e criativa leitura a todos.
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