Amigos,
Hoje, não trago um discurso. Trago a alma.
Não trago apenas um texto — embora tenha escrito um,
intitulado "A Dor de um Filho pela Morte do Pai", em homenagem ao meu
velho e eterno companheiro de vida.
Depois de participar da Missa da Esperança, percebi que não
bastava apenas escrever.
Hoje, quero falar. Falar com o coração.
Falar sobre esse homem que, há sete dias, partiu para o
Reino Celestial.
Falar de José de Ribamar Moreira.
Falar do meu pai.
Homem simples, de origem humilde, nascido no povoado Braço
Comprido, no município de Vitória do Mearim, interior do Maranhão.
Homem de chão, de enxada, de sol no rosto, de luta desde
menino.
A vida o chamou cedo para o trabalho. A fome não esperava. O
destino, ainda encoberto, parecia limitar-se ao campo.
Mas ele ousou sonhar.
Compreendeu que seu destino poderia ir além da roça.
Desejou a instrução. Quis estudar. Quis mais.
E assim, com coragem nos pés e esperança no peito, mudou-se
para São Luís, no ano de 1958.
Foi acolhido por um tio, carroceiro de ofício, que lhe deu
teto e oportunidade.
Na casa singela, encontrou abrigo... na cozinha.
Dormia numa rede entre goteiras que, nas noites de chuva, o
faziam levantar-se e passar a noite sentado num tamborete, sob a tormenta do
telhado que chorava sobre ele.
Mas ele não se abalava. Sobreviveu. Insistiu. Persistiu.
Sem diplomas nem oportunidades fáceis, trabalhou em tudo o
que dependesse da força do corpo.
Casou-se com minha mãe, Isabel Furtado Moreira, no dia 22 de
setembro de 1959 — uma união que completou, no ano passado, 65 anos.
Bodas de Platina.
E dessa aliança brotaram filhos — vários — dos quais
restamos, hoje, eu, Augusto e Yd-Olanda.
Foi com essa mulher forte, companheira leal, que ele venceu
as intempéries, superou dificuldades e construiu um lar.
Um lar com pão, com disciplina, com amor.
Levou-nos, ainda pequenos, à terra onde nasceu — queria que
víssemos com os próprios olhos a dureza de sua infância.
Mostrou-nos que o caminho trilhado até ali era feito de
renúncia, esforço e fé.
Ingressou na Polícia Militar do Maranhão depois dos 25 anos,
quando iniciou, enfim, seus estudos formais.
E, mesmo começando tarde, não demorou a revelar talento.
Cresceu na carreira graças à sua disciplina, inteligência e
seriedade.
Conquistou graduações. Conquistou respeito. Conquistou nosso
orgulho.
E, mesmo com soldos modestos, completava a renda com o
ofício de barbeiro.
Com a tesoura em punho, cortava cabelos e costurava o futuro
de sua prole.
Foi um pai íntegro. Um provedor exemplar.
Nunca nos faltou alimento, tampouco dignidade.
Foi meu guia, meu espelho, meu orientador, meu conselheiro,
minha referência de vida.
Incentivou-me a seguir a carreira policial-militar.
Vibrou com cada vitória minha como se fosse sua.
Estava presente em cada solenidade, cada formatura, cada
conquista. E não houve lugar neste Brasil onde estive, que ele não fosse ver
como eu estava.
Em cada cerimônia, dizia com orgulho no olhar:
"Este é o meu filho."
Hoje, amigos, eu não estou triste.
A saudade, sim, me acompanha. Mas não há tristeza.
Porque ele cumpriu sua missão.
Foi pai, marido, servidor, cidadão. Foi gigante.
Honrei-o. Acompanhei-o. E era uma satisfação estar ao seu
lado.
Partiu para o Reino Celestial com a serenidade dos justos.
E eu fico aqui, em paz, com a certeza de que seu legado
permanece.
Na memória. Na história. E, principalmente, no amor que nos
deixou.
Agradeço cada mensagem recebida, cada ligação, cada abraço.
Saibam que todos esses gestos me fortaleceram.
Por: Cel. Carlos Furtado.
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