Fator climático e ação do ser humano são favoráveis ao Aedes
aegypti, que tem sido apontado por especialistas como principal vetor do zika
vírus
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Foto: Rafael Martins/ Esp DP |
Há pelo menos oito anos integrantes do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas já previam
algo semelhante ao que vive o Brasil hoje. “As mudanças climáticas não causam
novas doenças, elas agravam as existentes”, dizia o médico epidemologista da
Fiocruz e um dos exponentes do IPCC, Ulisses Confalonieri (UFMG), em especial
publicado pelo Diario em 2007 sobre aquecimento global. A opinião dele era a de
um coletivo. O IPCC, Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, é o
fórum mais especializado no tema em todo o mundo. Agora quem faz a relação com
o clima é o médico sanitarista Valcler Rangel, vice-presidente de Ambiente,
Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, em entrevista por telefone do Rio de
Janeiro.
“O Aedes está presente em mais de 100 países. Não é um vetor
simples de controle e a situação ecológica e ambiental não é favorável, assim
como a ação antropogênica na organização dos espaços urbanos.” Por isso,
defendeu: “Temos que pensar regionalmente como América Latina”. A relação
ambiental da rápida expansão do zika no Brasil e em outros países ainda não tem
sido pauta principal do governo, mas tende a ganhar visibilidade à medida que
se formule modelos de assistência às vítimas do vírus e suas famílias. Pode vir
a se tornar assunto prioritário do futuro.
Os estudiosos que se preocupam com essa vertente de estudo
vêm aumentando. “Nós temos nos últimos anos situações de seca prolongada e que,
associado à precariedade da gestão nos serviços de saneamento e a questão do
racionamento d’água, se tornam elementos para o surgimento de doenças transmitidas
pelo inseto vetor”, corrobora André Monteiro, engenheiro de saúde pública e
pesquisador titular do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM) da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Vinte e seis países dos Estados Membros das Américas já
confirmaram a circulação do zika vírus dentro do território nacional. Há duas
semanas, o Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC, sigla em Inglês)
informou sobre a infecção de 22 viajantes norte-americanos que retornaram de
países latinoamericanos. Na semana passada, a infecção por zika foi detectada
em nove grávidas. Todas estiveram no exterior. Dos três bebês que nasceram até
então, um apresentou má-formação cerebral. Aqui no Brasil, o pior dano gerado
pelo zika é aquele que causa microcefalia em crianças ainda no ventre.
Por todas essas razões, este verão de 2016 é atípico aqui no
Brasil. Pela primeira vez circulam no país três vírus diferentes transmitidos
pelo mosquito do aedes aegypti - o zika, a febre chikungunya e a dengue. Eles
têm sintomas semelhantes que vêm confundindo a população, provocam prejuízos
distintos sobre o paciente e não há vacina que os impeça de causar maiores
danos. Intrigante e de rápida expansão, o zika tem pesquisas mais embrionárias.
Há pouco, o ministro da saúde, Marcelo Castro, chegou a dizer que “levará anos”
para a imunização ficar pronta. A temperatura no verão é favorável à
proliferação dos mosquitos, que gostam de se manter entre 30 e 32 graus.
A ameaça do Aedes aegypti é ampla. Problemas e soluções se
podem colher com uma lupa sobre a realidade dos municípios. São Paulo, por
exemplo, viveu a pior crise de abastecimento da história, afetando 17 milhões
de pessoas. O Sertão enfrentou a maior seca dos últimos 50 anos, diz a
Organização Meteorológica Mundial.
Em São José do Egito, Pernambuco, idosos ficam sem água até
para consumo porque não chega na torneira. A solução da prefeitura foi instalar
caixas de fibra para armazenar água nas ruas. Idosos, crianças, grávidas e
adultos disputam entre si a sobrevivência. No bairro do Planalto, Edleusa Maria
da Silva, 49 anos, leva os cinco filhos para ajudá-la. São todos com menos de
16 anos. “Se não for assim, a gente morre.”
Por: Diário de Pernambuco.
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