Substituto de Dilma preside a máquina partidária do PMDB há
15 anos.
Vice-presidente rompeu oficialmente com governo do PT no fim
de março.
Caçula de oito filhos de uma família de imigrantes
libaneses, Michel Miguel Elias Temer Lulia, 75 anos, chega ao comando do
Palácio do Planalto no clímax de uma carreira política de 35 anos pavimentada
na máquina partidária peemedebista.
Substituto de Dilma Rousseff durante o período de
afastamento da presidente, o vice é reconhecido, por aliados e adversários,
como um articulador político de bastidores que domina as engrenagens do
Congresso Nacional e da federação de interesses regionais do PMDB.
Presidente nacional do partido há 15 anos, o jurista Michel
Temer se elegeu vice-presidente da República, pela primeira vez, em 2010, ao
lado de Dilma. À época, além de comandar o PMDB, ele presidia a Câmara dos
Deputados, pela terceira vez em 13 anos.
Respaldado pelo poder que acumulava no Legislativo e na
cúpula partidária, Temer impôs ao PT o próprio nome para a vaga de vice como
condição para o PMDB apoiar a candidatura da afilhada política do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Inicialmente, Lula resistiu e tentou obter uma lista
tríplice de peemedebistas para escolher quem entraria na corrida eleitoral ao
lado da candidata. Temer negou.
Embora exibisse significativa força política como presidente
do maior partido do país e da Câmara dos Deputados, Michel Temer vinha de uma
eleição apertada para o parlamento.
Em 2006, ao se reeleger para o quarto mandato consecutivo de
deputado federal por São Paulo, não conseguiu contar apenas com os próprios
votos para se manter no Legislativo.
Na ocasião, obteve 99.046 votos, menos da metade dos 252.229
votos que somou na eleição de 2002. Mas mesmo com a significativa queda de
rendimento nas urnas, o peemedebista conseguiu se reeleger "puxado"
pelo conjunto dos votos dos demais integrantes da coligação do PMDB.
Apesar do receio que tinha em relação ao perfil de Temer,
Lula não podia abrir mão do tempo de rádio e TV dos peemedebistas na eleição em
que tentaria fazer a ex-ministra da Casa Civil sua sucessora no Palácio do
Planalto. Além disso, ele sabia que Dilma precisaria do apoio do PMDB no
Congresso Nacional para garantir a governabilidade.
Com a bênção de Lula, o casamento político entre Dilma e
Temer foi consumado. A aliança acabou bem sucedida nas urnas, com a dupla
derrotando José Serra (PSDB-SP) no segundo turno da eleição de 2010.
No primeiro mandato de Dilma, Temer teve um papel discreto.
Fez questão de manter uma relação protocolar com a chefe do Executivo, sempre
chamando-a de “senhora presidente”.
Nas ocasiões em que substituiu a petista na Presidência por
motivos de viagens, fazia questão de despachar do próprio gabinete, no anexo do
Palácio do Planalto, onde fica a estrutura da Vice-Presidência.
No anexo, Temer passou os primeiros quatro anos de mandato
recebendo uma romaria de peemedebistas insatisfeitos com o dote que o partido
havia recebido na Esplanada dos Ministérios – a legenda ocupou cinco pastas no
primeiro mandato de Dilma – e com o suposta exclusão do PMDB nas decisões do
governo.
À época, ele ouvia atentamente a todas as queixas dos
colegas de partido, mas nunca esboçava qualquer intenção de deflagrar um motim
contra a presidente.
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Em 17 de abril, vice-presidente assistiu à votação do
processo de impeachment na Câmara com aliados no Palácio do Jaburu, sua
residência oficial em Brasília (Foto: Divulgação/Reuters)
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Reeleição e rompimento
Em 2014, o casamento político de Dilma e Temer foi
reeditado. E ao final de uma campanha presidencial intensamente disputada e
agressiva, os dois se reelegeram no segundo turno, derrotando o senador Aécio
Neves (PSDB-MG) por uma diferença de cerca de 3,4 milhões de votos.
Na segunda fase do governo Dilma, em meio aos apuros da
presidente com a Câmara dos Deputados presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
Temer foi convidado, em abril do ano passado, a assumir a articulação política
do Planalto.
Ele deixou o papel de vice figurativo e entrou oficialmente
nas negociações de cargos e emendas com o "varejo" do Legislativo,
apoiado pelo então ministro da Aviação, Eliseu Padilha, um especialista no
mapeamento de intenções de voto na Câmara.
Entre derrotas, vitórias e “pautas-bomba” no Congresso, a
dupla Temer-Padilha conseguiu aprovar a base do pacote de meta fiscal do então
ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Porém, quatro meses depois de se tornar o articulador
político do governo, Temer abandonou o posto, reclamando de ter sido sabotado
por ministros petistas nas negociações com deputados e senadores.
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Na foto, Dilma conversa com o vice enquanto aguardam a
chegada da chanceler alemã Angela Merkel para um jantar no Palácio da Alvorada,
em Brasília (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
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Dali em diante, a relação com Dilma, que era protocolar, se
tornou ainda mais distante e fria.
Em 7 de dezembro, cinco dias após Eduardo Cunha ter acolhido
o pedido de impeachment da presidente da República, Temer surpreendeu o país
com uma carta enviada a Dilma na qual se ressentia do tratamento que havia
recebido ao longo dos cinco anos de governo e reclamando, inclusive, de uma
suposta tentativa de desvalorizá-lo, por meio da demissão de aliados próximos.
O episódio azedou de vez a relação entre Dilma e Temer. No
final de março, com o aval e a articulação do vice-presidente da República, o
PMDB aprovou, por unanimidade, o rompimento com o governo federal,
oficializando o divórcio político.
A saída oficial do PMDB, principal sócio do PT no governo,
escancarou a guerra política entre os dois partidos.
Michel Temer, então, saiu em busca de votos favoráveis ao
impeachment e conseguiu atrair para o seu flanco os principais partidos da
oposição e ainda as legendas do chamado "centrão", que, até então,
ainda se mantinham na frágil base aliada de Dilma.
Na tentativa de neutralizar o novo adversário político, a
presidente passou a acusá-lo, no Brasil e no exterior, de "golpista"
e "traidor".
Temer evitou o confronto público, mas manteve as
articulações de bastidores para assegurar a instauração do impeachment.
Transformado em bunker político do vice, o Palácio do Jaburu
se tornou ponto de procissão de adversários de Dilma e de políticos cotados
para integrar o ministério de Temer.
Lava Jato
A operação que investiga o esquema de corrupção que atuava
na Petrobras também bateu às portas de Michel Temer.
Em sua delação premiada, o ex-líder do governo e senador
cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS) relatou ao Ministério Público o
suposto envolvimento de Temer em um esquema de compra superfaturada de etanol
na BR Distribuidora, subsidiária de combustíveis da estatal do petróleo.
Leia a íntegra da delação de Delcidio
De acordo com Delcídio, as supostas irregularidades teriam
ocorrido entre 1997 e 2001, durante o governo do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Ainda segundo o senador cassado, o operador do esquema seria
João Augusto Rezende Henriques, ex-diretor da BR Distribuidora que fez, em
2011, depósitos apontados pela Lava Jato como propina para o presidente
afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Delcídio afirmou aos procuradores da República que Henriques
havia sido “apadrinhado" por Temer no esquema de compra ilícita de etanol
que teria ocorrido durante a gestão FHC.
À época em que a denúncia do ex-líder do governo veio à
tona, Temer afirmou, por meio de nota, que refutava as “insinuações” de
Delcídio.
"Não conhecia Henriques e não o poderia ter indicado.
Muito menos, ter participado de suposto esquema do etanol, do qual só tomo
ciência agora. Reitero que o conheci anos depois. Mantive com ele alguns poucos
contatos. Repito, portanto, que jamais o apadrinhei e ele jamais solicitou esse
apadrinhamento”, escreveu Temer na ocasião em um comunicado divulgado à
imprensa.
Em abril, o ministro Teori Zavascki, relator dos processos
da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, autorizou, a pedido da Procuradoria
Geral da República, a inclusão, no maior inquérito em tramitação na Corte para
investigar o esquema de corrupção que agia na Petrobras, os trechos da delação
premiada de Delcídio nos quais Michel Temer é citado.
A inclusão desse trecho no processo não torna Temer
investigado no caso, mas acrescenta informações no inquérito destinado a
revelar como funcionava a "organização criminosa" que desviava
recursos da Petrobras em benefício de partidos e políticos.
Ingresso na política
Michel Temer nasceu em 1940, no município paulista de Tietê,
a 167 quilômetros da capital. Dezesseis anos antes, seus pais March e Miguel
Elias, cristãos maronitas, haviam deixado para trás o vilarejo de Btaaboura, no
norte do Líbano, com três filhos a tiracolo.
Atualmente, o vice-presidente dá nome a uma rua na entrada
da cidade dos antepassados e vai batizar uma praça.
Temer estudou direito na Universidade de São Paulo (USP) na
transição das décadas de 1950 e 1960, mas não se envolveu com a efervescência
estudantil de esquerda que marcou o conturbado mandato do então presidente João
Goulart. Ele, ao contrário, fazia parte de um grupo de estudantes que seguia o
pensamento liberal.
Em meio ao curso de graduação, chegou a flertar com a
política estudantil, elegendo-se segundo-tesoureiro do centro acadêmico da
faculdade. Ele até aspirou um voo mais alto, como presidente do centro
acadêmico, mas saiu derrotado da disputa eleitoral.
O peemedebista se formou em direito em 1964, ano em que os
militares depuseram Jango. Recém-graduado, montou uma banca de advocacia com
três ex-colegas da USP. Quatro anos mais tarde, retornou para a academia para
lecionar direito constitucional na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP).
Até os 28 anos, Temer escreveu quatro livros de direito. O
livro “Elementos de Direito Constitucional” é, até hoje, referência nas salas
de aula de faculdades de direito.
Na época em que deu aulas na PUC-SP, teve contato com o
professor André Franco Montoro, que, na ocasião, já era um político experiente,
com passagem pela Câmara e pela Esplanada dos Ministérios.
Quando Montoro se elegeu governador de São Paulo no início
dos anos 80, a amizade dos tempos da academia abriu para Temer as portas da
vida política. Em 1981, ele ingressou no PMDB, herdeiro do oposicionista MDB da
época da ditadura.
Fazia pouco mais de uma década que havia sido aprovado no
concurso para procurador do estado quando, em 1983, foi convidado por Montoro
para assumir o comando da Procuradoria-Geral de São Paulo.
Em meio a uma profunda crise entre as polícias civil e militar,
Temer foi deslocado pelo governador para a chefia da Secretaria de Segurança,
cargo que viria a ocupar outras duas vezes na carreira. Ali, em meio ao fogo
cruzado das polícias paulistas, ensaiou pela primeira vez o papel de
articulador político.
Primeiro, apaziguou o entrevero entre delegados e oficiais
da PM. Depois, chamou a atenção de Montoro ao conseguir convencer, por meio de
uma conversa, centenas de estudantes a desocuparem o prédio da reitoria da USP,
evitando que o Batalhão de Choque tivesse de invadir o local.
Ascensão em Brasília
Em 1986, Temer tentou a sorte nas urnas pela primeira vez
para uma cadeira na Câmara dos Deputados. Terminou a corrida eleitoral apenas
como suplente, mas, dois anos mais tarde, debutava no Salão Verde da Câmara
como deputado constituinte substituindo Antônio Tidei de Lima, que havia
assumido o comando da Secretaria de Agricultura paulista.
À sombra de líderes históricos do antigo MDB, como Ulysses
Guimarães e Fernando Henrique Cardoso, o então calouro da Câmara conseguiu
aprovar o artigo 133 da Constituição, que assegura a inviolabilidade dos
advogados por atos e manifestações cometidos no exercício da profissão.
No final da década de 1980, quando FHC, Serra e Mário Covas
se desligaram do PMDB para fundar o PSDB após romperem com Orestes Quércia,
Temer optou por ficar nas fileiras peemedebistas, aproveitando a abertura de
espaço gerada pela debandada de caciques históricos da legenda.
A decisão se mostrou acertada nos anos que se sucederam.
Pegando carona no vácuo de lideranças, Michel Temer ascendeu rapidamente na
estrutura peemedebista. Eleito para a Câmara com 70.969 votos na eleição de
1994, ele conseguiu, já no ano seguinte, ser escolhido pelos colegas para a
vaga de líder do partido.
Temer se sentiu à vontade nos carpetes verdes da Câmara. Lá,
se especializou nas negociações de bastidores e nas articulações políticas.
Em 1997, ele disputou pela primeira vez a presidência da
Câmara. Com o apoio do então PFL (atual DEM), conseguiu se eleger derrotando um
candidato tucano. No comando da casa legislativa, se tornou um fiel aliado do
governo FHC. Dois anos mais tarde, candidato único, reelegeu-se presidente da
Câmara, posto que voltaria a ocupar novamente em 2009.
A rápida ascensão de Temer gerou atrito com outras
lideranças políticas do Congresso. Nos quatro anos consecutivos em que presidiu
a Câmara no final dos anos 90, ele protagonizou duros embates públicos com o
então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (antigo PFL-BA), que
morreu em 2007.
Mais tarde, seu principal rival político seria outro
presidente do Senado, o colega de partido Renan Calheiros (PMDB-AL). Até hoje,
os dois rivalizam espaço dentro do PMDB.
Vida pessoal discreta
Discreto, formal e cerimonioso, Michel Temer tem obsessão em
preservar a família de sua vida pública. Ele está em seu terceiro casamento e
tem cinco filhos.
A atual mulher, Marcela Temer, é 42 anos mais jovem do que
ele. Os dois se conheceram quando ela tinha 18 anos e ele, 60. Temer tem um
filho com Marcela: Michelzinho, de 7 anos.
Do primeiro casamento, com Maria Célia, o presidente em
exercício teve três filhas: Maristela, Luciana e Clarissa. Temer tem também um
filho que nasceu de um relacionamento com uma namorada, em Brasília.
Auxiliares próximos do presidente em exercício contam que
ele fala pouquíssimo sobre a família no ambiente de trabalho. Desde que ele
assumiu a Vice-Presidência, em 2011, Marcela fez raríssimas aparições públicas.
Ainda que Temer passe a maior parte da semana em Brasília, a
mulher e o filho mais novo continuaram vivendo em São Paulo. Ele, no entanto,
costuma viajar nos finais de semana para a capital paulista a fim de ficar com
a família.
Temer costuma usar as horas de folga e as viagens de avião
para ler. Segundo interlocutores, é um leitor contumaz.
Pessoas que trabalham diretamente com o presidente em
exercício o definem como um "gentleman" no trato pessoal com os
subordinados, mas ressaltam que é extremamente detalhista, a ponto de corrigir,
pessoalmente, até mesmo as vírgulas dos textos de auxiliares. Também cultiva,
entre pessoas próximas, a fama de pão-duro.
Aos 75 anos, procura fazer caminhadas matinais de cerca de
meia hora para manter a saúde. Em regra, faz os exercícios físicos acompanhado
de sua equipe de seguranças e de um ajudante de ordens, que fica responsável
por atender ao celular enquanto ele está praticando as caminhadas.
Por: G1.
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