Estudo indica que animais mortos por humanos poderiam estar infectados
Um estudo feito por pesquisadores, com apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), mostrou que macacos haviam
sido mortos a tiros ou pauladas pela população nos municípios de São José do
Rio Preto (São Paulo) e de Belo Horizonte estavam infectados com o vírus da
zika, o que fez com que adoecessem e ficassem mais vulneráveis ao ataque
humano. Os ataques ocorreram porque as pessoas suspeitavam que eles estavam com
febre amarela.
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Segundo
pesquisadores, o vírus
da zika apareceu
originalmente em macacos
na África e,
esporadicamente, saía das
florestas e infectava
populações humanas -
Arquivo/Fábio Massalli/Agência Brasil
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“A descoberta indica que existe o potencial de um ciclo
silvestre para a zika no Brasil, como acontece com a febre amarela. Se o ciclo
silvestre for confirmado, isso muda completamente a epidemiologia da zika,
porque passa a existir um reservatório natural a partir do qual o vírus pode
reinfectar muito mais frequentemente a população humana”, disse o coordenador
do estudo, Marcio Lacerda Nogueira, que é professor na Faculdade de Medicina de
São José do Rio Preto (Famerp) e presidente da Sociedade Brasileira de
Virologia.
Segundo Nogueira, apesar de o vírus da zika já ter sido
encontrado em macacos que vivem perto de humanos no Ceará, esta é a primeira
vez que é identificado como epidemia. O professor disse ainda que, durante a
epidemia de febre amarela, os pesquisadores perceberam que havia muitos macacos
mortos, não pela febre amarela, mas pela ação das populações humanas, com medo
de serem contagiadas. Esses macacos foram mortos a tiros, pauladas ou mordidos
por cachorros.
“Quando saudáveis, esses primatas, principalmente saguis e
micos, são muito difíceis de capturar. Raciocinamos, então, que, se estavam
sendo mortos com facilidade, era porque poderiam estar doentes. Não com a febre
amarela, uma doença que os mata. Mas com alguma outra doença, que, sem matar,
os deixava mais fracos e vulneráveis”, explicou Nogueira.
Após análise de carcaças dos macacos, constatou-se que o
vírus que os infectou é muito parecido com o que estava infectando os humanos.
No mesmo lugar onde as carcaças foram coletadas, foram encontrados e coletados
mosquitos infectados por zika.
“Para levar adiante o estudo, induzimos infecção
experimental por zika em macacos vivos. E a inoculação dos vírus provocou
presença de vírus no sangue. Os macacos tiveram alteração de comportamento,
confirmando nossa hipótese inicial, de que a infecção os teria tornado mais
suscetíveis a serem capturados e mortos”, acrescentou o pesquisador.
Ciclo da febre amarela
Os pesquisadores concluíram que a infecção natural e
experimental de macacos com zika indica que esses animais podem ser hospedeiros
vertebrados na transmissão e circulação do vírus em ambientes tropicais
urbanos, mas é preciso que sejam feitos mais estudos para avaliar o papel deles
macacos na manutenção do ciclo urbano do zika.
Segundo o professor no Centro de Doenças Tropicais da
University of Texas Medical Branch (UTMB) Nikos Vasilaks, doenças que ocorrem
ao mesmo tempo em vários animais de uma mesma área geográfica serão sempre
fonte de epidemias entre humanos, mesmo após um possível controle e erradicação
do ciclo de transmissão urbana por meio das vacinas e antivirais.
“É um fator fundamental que deve ser levado em conta pelos
responsáveis por políticas públicas e pelo setor de saúde, bem como por
desenvolvedores de vacinas”, afirmou Vasilaks.
O vírus da zika
apareceu originalmente em macacos na África. Esporadicamente, o vírus saía das
florestas e infectava populações humanas. Quando se propagou da África para a
Ásia, o vírus passou a circular só entre humanos. E, aparentemente, manteve
essa característica quando se instalou nas Américas, o que sugeria um ciclo
semelhante ao do vírus da dengue.
Segundo o professor, a a nova descoberta sugere uma epidemia
mais parecida com a da febre amarela, o que, se for confirmado, pode tornar o
combate à zika mais difícil. “Nossas observações terão implicações importantes
na compreensão da ecologia e da transmissão de zika nas Américas. Embora este
seja um dos primeiros passos no estabelecimento de um ciclo de transmissão
entre primatas não humanos no Novo Mundo e mosquitos arbóreos, as implicações
são enormes, pois é impossível erradicar esse ciclo de transmissão”, disse
Vasilaks.
Por: Agência Brasil.
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