Quase vinte anos após a sua inauguração, a Barragem de
Jucazinho chega ao seu mais baixo nível da história com apenas 0,4% de sua capacidade, segundo
dados recentes divulgados pela Compesa. A seca que assola a região há cinco
anos fez o inacreditável acontecer: Jucazinho, a gigante de 320 milhões de
metros cúbicos de água, secou.
Secas
cada vez maiores e mais constantes, mau uso da água, desperdício, falta de
planejamento hídrico governamental, todos esses fatores juntos geraram a maior
crise hídrica da história de Jucazinho e de toda a região. As quinhentas mil
pessoas das quinze cidades abastecidas pelo reservatório não sabem o que fazer
e os projetos de minimização da seca anunciados pelo governo do estado ainda
vão demorar um pouco até ficarem prontos.
Problemas
à parte, a seca da barragem fez um fato extraordinário acontecer: Jucazinho, o
sítio que deu nome a barragem reapareceu, 18 anos após ter sido engolido pelas
águas da represa. As casas dos antigos moradores, expulsos às pressas pelo
governo e pela obra gigantesca que era erguida, um paredão de sessenta metros
de altura, reapareceram. Jucazinho teria feito aquele povo abandonar sua
história e suas lembranças e fugir para lugares em que a água não os alcançasse
e ali pudessem reconstruir suas vidas.
Assim
aconteceu com as vilas de Capivara em Frei Miguelinho, Couro D’Antas em Riacho
das Almas e com o Sítio Jucazinho, pertencente de um lado a Cumaru e do outro a
Surubim. No meio de dois morros, no Vale do Capibaribe, foi erguida a imponente
barragem, que se tornou a terceira maior do Estado de Pernambuco e a maior
represa do Capibaribe.
“Fui
dias atrás ver pessoalmente as terras onde passei”, como cantou Luiz Gonzaga.
Ali me deparei com o que sobrou das casas de amigos e parentes, fogões de lenha
e carvão antes cobertos pelas águas vieram à tona outra vez, paredes de tijolos
repletos de lembranças, sapatos velhos, utensílios domésticos, ferramentas de
trabalho e uma infinidade de coisas espalhadas pelas margens do Capibaribe,
repletas da história de quem ali viveu por décadas.
Em tudo
vi lembranças, a nostalgia me tomou. Fiquei a lembrar daquele lugar duas
décadas antes habitado por diversos moradores e me pus a imaginar qual seria a
reação deles se ainda estivessem vivos e pudessem novamente pisar naquelas
terras. Quanta coisa passou pela minha cabeça naquela manhã em que eu com meu
pai e algumas primas fomos visitar a Canudos surubinense, berço de nossa
família paterna.
Jucazinho
traz consigo o nome de um lugar que marcou minha vida e a de muitos que ali
viveram. Aquelas paredes frias de concreto armado, escondem em si, pessoas,
lembranças, histórias, cultura. Tudo infelizmente esquecido por muitos ou pouco
divulgado. A barragem para mim e para os que ali viveram é na verdade um oceano
de saudade.
Se
pudesse transformar em versos o sentimento que ali vivi, diria:
Teu paredão frio
Guarda as lembranças de um povo
Histórias interrompidas
Vidas esquecidas
Que muitos nem ouviram falar
Jucazinho velho sítio
Em que o Capibaribe se fazia passar
Cortado todo por morros
Paisagem exuberante
Lembranças de um lugar
A seca que fez história
Trouxe-te também à memória
De quem o tempo quer apagar...
Por: João Paulo.
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