Governo alega que o desmatamento da Caatinga é necessário para a construção da barragem de São Bento do Una, no Agreste do Estado
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Governo já conseguiu autorização para suprimir 54 ha de mata
nativa para construir a barragem de Ingazeira
Foto: Bruno Lopes / Cortesia
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Um mês após o Poder Executivo conseguir a aprovação da
Assembleia Legislativa de Pernambuco para desmatar 18 áreas de floresta de
Caatinga às margens do rio Pajeú que, somadas, equivalem a 54,48 hectares, um
outro pedido para desmatar mais Caatinga está em trâmite na Casa Legislativa.
Na solicitação, enviada por meio de projeto de lei, o governador de Pernambuco,
Paulo Câmara, pede a supressão de uma área de 45,35 hectares - equivalente a
cerca de 45 campos de futebol -, composta de vegetação com espécies exóticas e
nativas do bioma, para a construção da barragem de São Bento do Una, no
município de mesmo nome, localizado no Agreste.
Entre as considerações, Paulo Câmara assegura que a
supressão de Caatinga será “devidamente compensada, com a preservação ou
recuperação de ecossistema semelhante”, ou seja, de preservação permanente.
Essas flexibilizações na lei, que permitem desmatar Áreas de Preservação
Permanente (APPs) com a justificativa de que se tratam de “obras de interesse
público”, é uma das críticas mais persistentes de estudiosos da área ambiental.
Para o professor de biologia da Universidade de Pernambuco
(UPE) Clemente Coelho, fica a incerteza se as compensações ambientais são mesmo
feitas. Ele criticou, inclusive, a morosidade com a qual esse processo é feito.
“Suape, por exemplo, naquela supressão gigantesca de mangue, um levantamento
feito até 2015 mostrou que nada havia sido compensado. Só depois que
transformaram áreas já protegidas em Unidades de Conservação (UCs)”, criticou.
Mesmo a transformação de uma área em Unidade de Conservação
(UC) sendo um dos métodos de compensação ambiental, Coelho fez ponderações. “É
uma lei que, na verdade, autoriza a supressão e pronto. Criar UC numa área já
consolidada naturalmente é muito estranho porque ela já presta serviços
ecossistêmicos por muito tempo. Não é conservando legalmente uma área que todos
os serviços ambientais perdidos com a supressão de um outro trecho serão
compensados”, avaliou o estudioso.
Embora o desmatamento da Caatinga seja para a implantação de
uma obra hídrica de interesse público, conforme o governador justifica na
proposta, essa realidade contribui para o aumento da vulnerabilidade dos rios
pernambucanos. Um levantamento inédito do Centro de pesquisas Ambientais do
Nordeste (Cepan), divulgado recentemente pela Folha, revelou que 66,5% das APPs
dos municípios pernambucanos cortados por rios não possuem cobertura florestal
nativa.
Na natureza, a floresta ciliar (situada às margens de corpos
hídricos) serve de barreira natural por conter o processo de assoreamento,
evitando enchentes. O Governo de Pernambuco informou que não comenta projetos
de lei em trâmite na Alepe.
Por: Folha PE.
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