Candidatos ficam surpresos com a redação e reclamam de matemática

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Alguns estudantes do Recife esperavam a proposta de um tema diferente.

Este ano, os candidatos tiveram que escrever sobre a intolerância religiosa.

Elivy e Carla fizeram Enem no Recife (Foto: Thays Estarque/G1)
O tema da redação deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pegou de surpresa boa parte dos candidatos, mas não os intimidou. Na saída da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), um dos locais de prova do exame no Centro do Recife, as reações eram as mais diversas. A maioria acreditava ter feito um bom texto sobre a intolerância religiosa.

Na parte de linguagens e seus códigos, não houve reclamações. Bem ao contrário de matemática. Pedindo uma interpretação textual das questões, a prova ainda exigiu cálculos específicos. "Quem não sabia destrinchar um gráfico, por exemplo, se deu mal", comentou a estudante Débora Carla de Barros, de 17 anos.

Tentando educação física, a jovem também não gostou muito da redação. "O texto de apoio não dava base para elaborar a redação. Me pegou totalmente de surpresa. Tava esperando algo sobre o consumo de álcool e drogas".

Concordando com a amiga, Elivy Batista, 18, comentou que teve dificuldade para argumentar e propor uma solução para a questão. "O tema foi bom, mas fiquei sem saber o que falar para combater. Achei hoje mais difícil que ontem", acrescentou. Ela tenta uma vaga no curso de engenharia.

Com ar de cansada, Camila da Silva, 21 anos, disse que usou a tática de se aprofundar na história das religiões. "A cultura e o diálogo são a chave para combater a intolerância. Procurar saber a história da religião diminuirá o preconceito", acredita. Terminando o curso de biologia, ela agora tenta uma nova graduação, medicina.

Os estudantes André dos Santos, 18 anos, e César Pimenta, 23, contaram que esperavam todos os tipos de tema, menos o que caiu na prova. "Pensei em envelhecimento da população, em sustentabilidade, má distribuição de água no planeta. Tudo menos intolerância religiosa, mas acho que me dei bem. Puxei pela conscientização da sociedade pelas ações de parceria do governo com as instituições religiosas", disse André.

Bianca e Juliana enfrentaram dois dias de testes na Unicap (Foto: Thays Estarque/G1)
Em contraponto, Bianca da Costa, 17 anos, não conseguiu conter a felicidade. Ao encontrar a mãe e a amiga na saída do local de prova, gritou bem algo: "eu arrasei". "Estou fazendo o Enem para psicologia. Li muito o ano todo e esperava algo sobre preconceito. Eu propus o respeito como arma contra a intolerância. Acho que arrasei na redação".

Fazendo o Enem por experiência, Juliana Ferreira, 16 anos, acredita que quem se baseou pelo que viu nas redes sociais pode ter tirado uma nota baixa na redação. "Na Internet você vê de tudo. Muito preconceito e ânimos exaltados. Tem que ponderar o que vai falar na hora da prova".

Carolina Gomes fez prova na Unicap, no Recife (Foto: Thays Estarque/G1)
Com sorriso no rosto, Carolina Gomes era a definição de dever cumprido. Aos 16 anos e tentando uma vaga no curso de direito, ela não conseguia eleger uma questão difícil. "Até matemática estava boa. Tinha muita estatística. Quem estudou se deu bem".

Quanto ao tema da redação, ela acredita que o assunto é tão pertinente que é importante ser discutido até numa prova de Enem. "Precisamos de políticas públicas e leis mais rigorosas que preguem o respeito. Esse é um problema social. Todos, de uma forma ou de outra, em diferentes graus, são atingidos por essa intolerância. O diálogo é a única forma de acabar com isso".

Provas

Horas antes de encarar a  prova escrita, candidatos tentavam adivinhar qual seria o tema. De política a problemas ambientais, em um ponto eles concordavam: é preciso ler muito para não ser pego de surpresa e tirar nota baixa.

Aos 23 anos, Cíntia Matias largou odontologia na metade do curso. Tentando uma vaga em medicina, ela acreditava que o assunto não fugiria muito do que acontece atualmente no Brasil e no mundo. "Acho que vai cair algum tema social, pobreza ou alguma questão indígena. Acredito que não tem como ir muito além disso", palpitou.

Estudante Cíntia Matias, no Recife (Foto: Thays Estarque/G1)
A estudante Brenda Mouta, 17 anos, seguiu um pensamento bem diferente de Cíntia. "O Enem não gosta de colocar um tema que ainda está tão presente, que ainda está acontecendo. Por isso, acho que a redação vai trazer algo em relação ao meio ambiente ou preconceito. Não acho que trará um tema envolvendo a política, por exemplo", pontuou acompanhada do pai e da mãe. Brenda tenta o curso de engenharia.

Dennis Henrique da Silva, de 25 anos, também tenta sua segunda graduação. Ele largou o curso de engenharia de produção para fazer ciências contábeis. "Eu já acho que vai cair política sim. Algo em torno da Lava Jato e da corrupção", comentou. "A redação é que vai falar quem passa e quem não passa. Ela é muita importante para determinar uma boa nota e a sua chance de entrar numa boa universidade", acrescentou.

Dennis Henrique da Silva, de 25 anos, também tenta sua segunda graduação (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Esse também era o ponto de vista dos amigos Carlos Henrique Rodrigues, 18 anos, e Awanna Ramos, 18. "É muita coisa que acontece no ano que o Enem pode usar para o tema da redação. Assim como pode também trazer algo que aconteceu lá trás, no passado. É uma caixinha de surpresa", disse Carlos, ao dar seu palpite. "Acessibilidade ou inclusão".Ele tenta uma vaga e odontologia.

Já Awanna, que tenta o curso de medicina, aposta no xenofobismo como tema da prova. "Vimos um ano com o assunto refugiados, a decisão dos países de recebê-los ou não e os cidadãos discutindo se querem fechar as portas dos seus países para eles", completou.

Amigos Carlos Henrique e Awanna também tentam adivinhar tema da redação minutos antes da prova começar no Recife (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Sem prova

Atrasada, a estudante Bianca Nascimento, de 22 anos, não conseguiu entrar no local de prova para fazer o segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Agarrada ao portão de acesso do Bloco G da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), no Centro do Recife, ela se justificou: "meu ônibus atrasou".

Moradora do Vasco da Gama, na Zona Norte da capital, ela disse que saiu de casa no mesmo horário de sábado (5), às 10h30. "Da minha casa para cá demora apenas 30 minutos. Ontem, cheguei aqui faltando 30 minutos para fechar o portão. Só que o ônibus resolveu atrasar hoje. A via até estava livre, sem trânsito, mas meu ônibus atrasou". Bianca estava tentando uma vaga nos cursos de educação física ou logística.

Estudante chega atrasada ao Enem no segundo dia de provas e tentar conseguir documento para comprovar participação no concurso (Foto: Thays Estarque/G1)
No entanto, Bianca não se desesperou. A preocupação da candidata era com uma declaração de comparecimento. "Como trabalho também aos sábados, preciso dessa declaração para entregar ao meu supervisor. Mostrar que eu faltei ao trabalho para vir fazer o Enem. Só que eu esqueci de pegar ontem. Então, quero pegar o de ontem hoje", contou. Ela trabalha como analista de suporte técnico.

O pedido de Bianca não foi aceito pela fiscal do prédio. Segundo a funcionária, ela teria que ter solicitado a declaração na data de ontem. Desesperada e quase chorando, Bianca só se acalmou ao entender que o caderno de provas do primeiro dia já bastava como indício de que ela havia feito o exame no sábado.

"Fazer o que? Tento meu sonho ano que vem. Sem estresse, só chateada, pois consegui ontem, fiz boa prova, e estava confiante com as provas de hoje", declarou.

Primeiro dia

O sábado, o primeiro dia de provas do exame, terminou com grupos de jovens se reunindo para corrigir as questões. Na saída da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), no Centro do Recife, eles comentaram que a prova não surpreendeu nos temas e no grau de dificuldade. Ciências Humanas e Ciências da Natureza pareceram não amedrontar e nem desanimar os concorrentes para as provas do segundo dia, no domingo (6).

Falando alto e gesticulando muito, o grupo de amigos formado por cinco alunos tentava encontrar os erros e acertos nas provas. Pela correção dos jovens, química foi a grande vilã deste sábado. "É o monstro da galera", soltou Chrystian Ramos, de 22 anos. "Teve duas questões sobre gases poluentes em química. Quem não sabia já perdeu duas vezes", ponderou Douglas da Silva, 19 anos.

Aymilly Lira tenta uma vaga de medicina (Foto: Thays Estarque/G1)
Para Aymilly Lira, de 18 anos, a questão mais fácil foi a que trazia a revolução islâmica como problemática na prova de história. Já a mais difícil foi a pergunta sobre o RPM de um relógio, na prova de física.

"Em história, caiu o tema sobre África Ocidental. Essa foi difícil. Em Geografia, achei fácil da taxa de fecundidade do Brasil, mas complicada a de projeção da carta geográfica. Química passei um bom tempo na taxa média do aquecimento. Já física foi fácil a da resistência da lâmpada", detalhou, ao mencionar que tenta o curso de medicina. "Acho que me dei bem. Vamos ver amanhã".

Diego Souza, 24 anos, comentou que se complicou nas questões de eletricidade. "Em especial, a que perguntava em física sobre a resistividade elétrica de uma lâmpada. Todas que perguntavam sobre eletricidade. Em química, a de formação de benzeno foi muito chata. Espero que a nota dê para passar no curso de odontologia".

Ana Teresa sonha com uma vaga de medicina (Foto: Thays Estarque/G1)
A aluna Ana Tereza de Oliveira, de 17 anos, estava confiante e contava  com um bom resultado já neste primeiro dia. Tentando medicina, ela mencionou que a prova estava fácil para quem se preparou ao longo do ano. "Teve uma de biologia que achei muito fácil. A sobre protozoário. Em geral, a prova estava fácil. Era só uma questão de interpretação textual".

Aos 21 anos e tentando o curso de arquitetura pela primeira vez, André Campelo concordou com Ana Tereza. Para ele, as questões estavam, justamente, muito interessantes pela quantidade de intertexto. "Quem que se preparou não foi pego de surpresa. Eu não vou corrigir para não ter numa surpresa negativa e me abater para amanhã, mas vou olhar os assuntos abordados porque pode conter alguma pista para a redação".

A única questão difícil lembrada por André foi a de calor específico na prova de física. "Deixei para o último momento. Fiz toda a prova e voltei para ela, mas acabei chutando. A prova mais fácil que achei foi a de geografia. Tinha uma questão lá muito fácil. A sobre migração urbana", acredita.                      

Oração

Antes dos testes, a oração foi uma forma que muitos encontraram para ficar mais calmos e confiantes antes de enfrentar a bateria de questões que decidirá seus futuros acadêmicos. Na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), um dos locais de prova que mais recebe candidatos no Recife, uma igreja e um grupo de estudo bíblico ajudavam os estudantes nesse momento de tanto nervosismo.

Para o porta voz de um igreja evangélica Igreja em Recife, Rogério Paiva, os pedidos de boa sorte e as orações são fundamentais. Independentemente de religião, eles auxiliavam tanto com informações sobre a localização dos blocos da universidade quanto desejos de um momento de paz em Cristo.

"Nossa proposta aqui é levar paz de espírito para eles. Os candidatos passaram o ano todo estudando, trabalhando seus psicológicos, suas mentes. Já dormiram e se alimentaram. Agora, nós estamos aqui dando o abraço de Deus neles para que na hora da prova eles possam ter tranquilidade e, quem sabe, um bom resultado", contou. Esse foi o o quarto ano da iniciativa.


Faltando um pouco menos de dez minutos para fechar o portão do local de prova, Eugênio Juliano Neto, de 18 anos, não pensou duas vezes e parou para rezar com o grupo de voluntários. Tentando o curso de direito, ele acredita que qualquer energia boa é interessante.

"Eu sou cristão. Não frequento muito a igreja, mas acho que isso não importa. O que importa mesmo é saber que Deus está ali por nós. Rezei e senti algo diferente. Passou uma energia boa, uma energia de confiança. Acredito que energia boa só faz ajudar", relatou.

Estudante Gabriel Carvalho espera que Deus interceda por ele na hora da prova do Enem (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Aos 17 anos, Gabriel Carvalho também faz o Enem buscando uma vaga em direito. Abraçado pelo grupo e concentrado em suas orações, ele espera que Deus interceda por ele na hora da prova.

"Senti uma força inexplicável. Acredito que a palavra de Deus tem poder e vai estar comigo", disse o jovem que é evangélico. "Minha família toda está rezando por mim agora", completou.

A família de Cryslainne Cardoso, 17 anos, também está reunida rezando pela estudante que tenta o curso de medicina. "São cerca de dez pessoas entre mãe, pai, tios e primos. Foram lá para casa ontem me dar apoio e rezar comigo. Hoje, estão todos em uma corrente de oração. Eles só irão parar de orar quando eu sair da prova", contou ao procurar um terço na bolsa. "É para me dar sorte", explicou.


Chrislayne Carvalho fez o primeiro dia de provas do Enem, no Recife (Foto: Thays Estarque/G1)
Abraços

Com faixas coloridas, sete alunas da Universidade de Pernambuco (UPE) ofereciam abraços e palavras de incentivo aos candidatos. As jovens fazem parte do Grupo de Estudo Bíblico (GEB) da faculdade. São estudantes de cursos como medicina, psicologia e fisioterapia que abdicaram de um fim de semana para acordar cedo e rezar com os candidatos.

"Estamos aqui para trazer uma palavra de conforto aos estudantes. Nós já passamos por essa experiência e sabemos que é possível se acalmar em Cristo, em Deus", disse a aluna de medicina da UPE Naaty de Andrade, 22 anos.

Ao fundo, um violão acompanhava o canto das outras estudantes. A música animava e confortava as mães dos candidatos. "O trabalho é voltado também para os pais e mães que trazem deus filhos. Eles também ficam muito nervosos e apreensivos. Por isso, nós cantamos e oramos com eles também", acrescentou ao formar uma roda de oração.

Grupos de estudo bíblico motivou estudantes que estão fazendo Enem no Recife (Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press)
Por: G1.


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