Mulheres além do seu tempo

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Fátima Quintas - Socióloga e Escritora (Crédito/Divulgação).


Num retrospecto que chegou aos primeiros anos do descobrimento do Brasil, a socióloga e escritora Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras, dirigiu sua fala a respeito do donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, aquele que exclamou “Oh linda posição para uma cidade” no momento em que, do alto da montanha, avistou Olinda. Aí foi só o começo de explanação da escritora, no Espaço Cultura Nordestina Letras e Artes, no Poço da Panela, no Recife, uma abertura para chegar a Dona Brides, mulher do donatário, avançada para sua época e ainda hoje lembrada pelos que chegam à velha Marim dos Caetés. Ela assumiu a direção da capitania quando o marido morreu em 1554, e a partir daí até o fim de sua vida em 1584. Os filhos chegam à maioridade em 1560 e, mas não se firmam e em 1572 saem, seguem para Portugal.

Outra mulher além do seu tempo citada pela escritora no encerramento das festividades em homenagem à mulher foi Ana Paes que aos l8 anos assumiu a direção do Engenho Casa Forte um dos mais importantes das várzeas do Capibaribe. Ela foi casada com o português Pedro Correia da Silva, que veio a falecer. Em convívio com a corte de Nassau por considerar mais livres as mulheres europeias, chega a casar com um dos comandantes da guarda de Nassau, Charles Tourlon e tem com ele uma filha. Tourlon foi extraditado por Nassau de volta à Holanda. Ela casa com outro.  Foi, também, amante do ativista contra os holandeses André Vidal de Negreiros, exilado em decorrência da invasão holandesa em Pernambuco.

Também uma figura extraordinária é Branca Dias, polêmica, viveu no Engenho Camaragibe, foi educadora, primeira mulher a ensinar em casa, em 1560.

LIBERTAÇÃO FEMININA – Mas só o século XX é reconhecido como o da libertação feminina; um século incrível para a mulher. Na sua segunda década, diz Fátima Quintas, a mulher vai abandonar o espartilho, a crinolina (anágua), as anquinhas. Na realidade, vai haver liberdade total do aparato com Coco Chanel, já no século XIX para o homem, que abandona cartola,bengala, terno, torna-se mais elegante com  a liberação da moda. Anterior a Chanel, em 1910 Paul Poiret tentou tirar os excessos da mulher – Segundo o conceito de termômetro social de Levy Strauss, a Primeira Guerra, de 1914, permitiu mudança, uma ruptura. Com Cristian Dior a mulher mostra as pernas, época, porém, em que a sociedade sofre avanços e recuos – o terninho foi eliminado do seu vestuário em 1928, mas o chapéu permaneceu como um resquício até 1930, que assinala a Semana de Arte Moderna, com a presença de Tarsila do Amaral autora do famoso quadro Abaporu, e de Anita Malfati mulher do escritor Oswald de Andrade, um dos baluartes do Movimento Modernista, até chegar a década de 60 importante para o mundo todo: conquista espacial, morte do presidente americano John Kennedy e do líder negro Mater Luter King em 1968, a guerra do Vietnã, o surgimento da pílula anticoncepcional, do movimento hippie, lançamento do filme Hair, os Beatles aparecem e marcam sucesso. É ainda dos anos 1968 o movimento estudantil, entrada de jovens na faculdade e sua permanência até conclusão do curso – no Brasil da década de 1980 perdido pelos economistas vai levá-lo para o mercado do trabalho. Retomada em 1985. A literatura com Gabriel Garcia Marques é a transubstanciação  do real, entram diferentes elementos – a memória, o inconsciente. Passado é o tempo sólido que temos, é a história de cada um – metáfora, símbolo, exige cognição – palmas são o único símbolo universal. Literatura tem significante (estilo) e significado (conteúdo) – importante transformar um texto em literatura. Sonoridade, cadência, maneira de dizer – poesia clímax da literatura – é justamente o som, a musicalidade. Nísia Floresta precursora na luta pela emancipação, mulher à frente do seu tempo. Targélia Barreto, uma grande poetisa do princípio do século 20. Filha de Tobias Barreto, uma mulher além do seu tempo. Amélia Bevilácqua, sergipana, casada com Clóvis Bevilácqua, autora de romances e contos, escrevia na revista O Lírio. A primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras foi Rachel de Queiroz em 1977, porque, segundo cláusula regimental, só era permitido o ingresso de homens. A primeira mulher na Academia Pernambucana de Letras foi Edwirges Sá Pereira em 1920e a primeira na Academia Paulista de Letras foi Prisciliana Duarte de Almeida em 1906. Acontece que Edwirges  desde 1901 já era sócia correspondente da APL, além de jornalista, catedrática da Escola Normal, autora de contos e romances.


O voto feminino veio com a escritora Berta Lutz, cuja Cadeira nº 7 foi ocupada em 1960 por Dulce Chacon. Marta de Holanda, de Vitória de Santo Antão, autora de um único livro, o romance “O Delírio do Nada”, foi a primeira mulher a requerer judicialmente o direito de votar em 1932. Na França o voto feminino é de 1945, na Suíça na década de 1970, EUA em 1920, Inglaterra em 1928, Alemanha 1918, Portugal 1970, Finlândia 1906, Nova Zelândia 1893. “A vida tem que ser reinventada todos os dias”, como acentua Fátima Quintas.  

Por: Ariadne Quintella.


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