Crônicas & Turismo - VAIDADE

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Marcos Eugênio Welter.


“O Pecado” é uma atitude humana contrária às leis divinas. Os sete pecados capitais provenientes da natureza humana são: avareza, gula, ira, luxúria, preguiça, soberba e vaidade.

“E o pó volte à Terra, como o era, e o espirito volte a Deus, que o deu. Vaidade de Vaidade, diz o pregador, tudo fé e vaidade” (Eclesiastes, capítulo 12, versos 7 e 8.)

O Livro da Lei, ou as sagradas escrituras trazem em média 58 versículos onde encontramos referências à palavra vaidade.

O Eclesiastes é um livro do Antigo Testamento, sendo o segundo dos livros Sapienciais e atribuído a Salomão. Eclésia, em grego significa “assembleia do povo” e em nossos dias “igreja”.

Nos dicionários a palavra vaidade é definida como “qualidade do que é vão, instável, inútil, desejo imoderado de atrair a admiração dos outros, vanglória, presunção, ostentação, fatuidade, coisa vã, futilidade. A vaidade é o composto da transformação das pessoas para pior. Ela distancia os seres, maltrata os corações, polui as mentes e deteriora relações e sentimentos.

A sociedade capitalista só reconhece que o sujeito atingiu o ápice do sucesso quando acumulou conhecimento, poder e, sobretudo, dinheiro. Se acrescentar a isso um corpo esbelto, o exemplo fica completo. Ser inteligente, bonito, poderoso e rico é o kit básico do projeto de ascensão social. A partir daí conforme a permissão, a vaidade toma conta em maior ou menor escala.

A saúde espiritual, que deveria servir de combustível para impulsionar a vida, fica delegada ao segundo plano. O apego em demasia à matéria vai nos afastando dos cuidados mínimos e necessários com o Eu interior. Por egoísmo e ambição acabamos criando empecilhos para uma vida saudável, solidária, fraterna, com paz, amor e justiça. Não só para “os nossos mais chegados”, mas principalmente para aqueles que vivem excluídos, sem vez e voz. As ações impensadas e as reações inesperadas são praticadas fora do contexto de nossa real vontade.

Como resultado ferimos pessoas que amamos ou gostamos com uma força muito maior do que um tiro desferido de uma arma. Só depois, lembramos que possuímos dois ouvidos para ouvir, dois olhos para ver e uma boca para falar.

A vida no plano terreno é tão curta que não podemos nos dar ao luxo de perder tempo com picuinhas e armações desnecessárias.

O termo vaidade traduz uma palavra hebraica que significa vapor que se dissipa no ar. Estas palavras refletem um estágio singular da fé: aquilo em que se crê na existência e no juízo de Deus, na vida além da morte.

A vaidade está sempre fundada na crença de que somos o objeto de atenção e de aprovação. O rico se glorifica em sua riqueza porque acredita que ela naturalmente atrai para ele a atenção do mundo, e que a humanidade está disposta a acompanha-lo em todas aquelas emoções agradáveis que as vantagens de sua situação tão prontamente lhe inspiram. Quando ele pensa nisso, seu coração parece crescer e dilatar-se dentro de seu corpo, e ele aprecia a sua riqueza mais por esse motivo do que por todas as outras vantagens que ela possibilita. O pobre, ao contrário, tem vergonha de sua pobreza. Ou ele sente que a pobreza o coloca fora da atenção da humanidade ou que, se esta lhe dá um mínimo de atenção, não tem, entretanto quase nenhum sentimento solidário para com a miséria e a provação de que ele padece.

Dessa forma, é a vaidade, mais que tudo, que exemplifica o controle do comportamento do agente por desejos sub-racionais.

No fundo, todo indivíduo deseja ser estimado, ou seja, assegurar para si os bons sentimentos e a disposição favorável daqueles que o rodeiam. Os homens são vaidosos, mas não gostam de ser considerados - nem mesmo de imaginar-se a si próprios - como tais.

Podemos ainda comparar um ser humano com outro, descobrindo assim que são muito poucos aqueles que podemos chamar de sábios ou virtuosos. Isto, porém, constitui uma falácia, pois ao invés de atribuir sabedoria às pessoas em gradações suaves, acabamos por considerar virtuosas ou sábias somente aquelas pessoas que possuem tais qualidades em elevadíssimo grau.

A vaidade se encontra oculta no estado de inocência da infância, mas, com o tempo, vai crescendo e tomando conta de nossas vidas. A vaidade surge como contágio contraído a partir das relações e convenções dos homens. No entendimento facilmente se infecciona com as opiniões próprias e com as alheias, com as vaidades próprias e com as dos outros. Em contrapartida, é dos delírios produzidos pela vaidade que resulta e depende a sociedade. O desejo de adquirir fama infunde tal valor nos homens que os transforma em heróis, em cientistas, em pessoas geniais e virtuosas. Eis porque o homem sem vaidade sente um desprezo universal por tudo, começando por si mesmo. A reputação aparece-lhe como uma fantasia, o respeito como uma dependência servil, a benignidade como uma virtude mercenária, a lealdade como uma submissão necessária e a fama como um objeto vago, incerto, que vale menos do que custa para conseguir.

A VAIDADE NA MAÇONARIA

O coração como na poesia, deve ser polido para que nele seja reconhecida sua pureza. O polimento deve objetivar escoimar suas impurezas mundanas para que ele possa refletir, na fidedignidade do espelho, sua beleza completa. O espelho, é realista, e mostrará com absoluta frieza, a realidade que lhe propomos refletir.

Eu mesmo tive um caso de pura vaidade. Estava no aeroporto de Orly em Paris e vi uma pequena maleta, de camurça, onde caberiam só documentos e pequenos objetos, um charme, e tinha alças metálicas longas como se fosse uma mala, não resisti a tentação, comprei, coloquei nela o passaporte, duas máquinas fotográficas, filmadora e voei para Barcelona onde peguei uma condução até o hotel. Desci do taxi, coloquei as malas na calçada e peguei a reserva do hotel para conferir se o endereço era realmente aquele. Quando estava lendo a reserva vi que um camarada estava com a cara a um palmo do meu  rosto fazendo perguntas. Isto não é normal, e perguntou para onde ia aquele ônibus, respondi que não sabia e ele tornou a fazer a pergunta. Quando olhei as malas, cadê aquela pequena com as máquinas, passaportes, reservas? O comparsa do meliante havia levado.

Era uma sexta-feira final do dia e eu sabia que sem os passaportes não entraria no navio cruzeiro que havia adquirido e que partiria domingo. Comecei a pensar: “não posso para perder esse cruzeiro que sai de Barcelona, para em Roma, onde vou ver o Coliseu, o Museu do Vaticano, vou andar em Mônaco, na pista de Fórmula 1, vou estar em Pompéia onde o vulcão Vesuvio soterrou tudo no ano 79 DC e está tudo intacto como no tempo de Cristo, vou caminhar na Grécia junto a Acrópole e muitos templos do saber, vou passear na Croácia junto ao límpido mar Adriático, vou passear de gôndola em Veneza, mas sem passaporte não se embarca”. Deixei as malas no hotel, pensei: “O meliante vai ficar com as máquinas fotográficas e filmadora, mas talvez vai jogar o passaporte no lixo”. Passei horas noite a dentro abrindo as lixeiras de Barcelona. Na manhã seguinte fui até a Embaixada do Brasil, era sábado e feriado, tinha uma placa escrito: Somente em casos de extrema urgência, tipo morte, ligue para o n. tal. Liguei, uma moça me atendeu, ela perguntou o que houve, narrei os fatos que precisava que fizessem a gentileza de excepcionalmente abrir o consulado para emitir meu passaporte, ao que ela respondeu: - O senhor não leu a placa, somente em caso de extrema urgência, tipo morte. Ligue na segunda. Eu pedi para ela por favor me ouvir e falei: Por gentileza anote a seguinte frase: “Entre os irmãos está tudo Justo e Perfeito “. O telefone do hotel onde estou hospedado é tal. Queira ligar para o embaixador, cite a frase que você escreveu. Estarei no hotel esperando a resposta. Agradeci e desliguei. Em seguida ela me ligou dizendo: - Não sei porque, mas o embaixador mandou eu abrir a embaixada e emitir seu passaporte. Foi a única vez na vida em que fiz uso desta sublime instituição para resolver um problema meu. Dias depois, jantando no navio, um senhor me falou que era dos Estados Unidos, que em Barcelona haviam roubado seu passaporte, teve que esperar segunda feira para abrir o consulado e depois pegar o avião até o porto seguinte pois o navio já havia partido na véspera.

Vivemos uma pandemia do coronavírus que gerou o isolamento social, o fechamento de milhares de empresas, já ceifou mais de 600 mil pessoas só no Brasil.

Que esta fase negra da história nos faça revermos nossos conceitos.


Por: Marcos Eugênio Welter - Trabalhou como Advogado e Funcionário do Banco do Brasil, 
Membro do Conselho Superior Internacional da Academia de Letras 
do Brasil.


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