Levante

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 “Se eu cair, eu me levanto!”

DRª Virginia Pignot.


Uma questão de vida, e de morte.

Neste mês que celebra para os cristãos a vida do Cristo redentor, do Deus de amor, que morreu na cruz para trazer uma mensagem de salvação, vou falar de um filme brasileiro que trata de uma questão delicada, relativamente frequente, a da gravidez indesejada. Não se trata de fazer polêmica, mas de não ocultar ou tratar como tabu uma realidade relativamente frequente, e que encontra soluções diferentes, inclusive em função da classe social.

Através da personagem principal adolescente, do seu desejo decidido de não ser mãe aos dezessete anos, dos obstáculos encontrados inclusive pelo confronto com ativistas antiaborto, o filme nos lembra, delicadamente, da nossa condição de mortais, e que, para todos nos, a vida pode se segurar por um fio, fio que deve ser tratado com cuidado para não romper.

Lei na França não trata o aborto como crime.

Na França, foi preciso a coragem de uma mulher de origem judia, Simone Veil, então deputada, para que a lei permitindo a interrupção voluntária de gravidez por um pedido a um médico antes da décima semana de gravides fosse aprovada. Desde Novembro de 1974, as mulheres podem fazê-lo sem risco de pena. Na época, a lei foi justificada por estudos que traziam o número alarmante de abortos clandestinos, 300 mil ao ano, com suas consequências nefastas às vezes fatais para a vida das mulheres, e da flagrante injustiça social deste desastre. As pessoas ricas iam abortar em outros países europeus onde o aborto era autorizado. Dez anos depois, foi votado o acesso ao aborto legal pelo SUS francês. No Brasil, as pessoas que podem pagar abortam em clínicas privadas, com toda discrição.

Crítica ao filme e contexto


O que diz a critica de cinema francês sobre o filme:

“Sofia, jovem jogadora de vólei cheia de talento, descobre que ela está grávida na véspera de um jogo que pode mudar o seu destino. Ela procura abortar ilegalmente e se torna vítima de perseguição por um grupo fundamentalista. Mas nem Sofia nem seus próximos têm a intenção de se submeter ao cego fervor da massa.

Levado por uma energia comunicativa, Levante associa interpretação convincente, montagem vibrante, e trilha sonora estupenda: um primeiro filme potente, atual e entusiasmante!”

O filme está sendo usado na França como base para o debate sempre atual sobre a questão do aborto. Pelo mundo afora cá e lá o fundamentalismo religioso, regimes políticos autoritários buscam impor leis e regras em detrimento de uma realidade social às vezes devastadora, e às custas da liberdade individual.

Entrevista com a realizadora


A realizadora Lilah Halia explica na Semana da crítica do festival de Cannes deste ano que o filme resulta de um projeto de sete anos. Foi um projeto que cresceu e mudou com ela. 

As atrizes não se conheciam antes da filmagem, grande parte da sinergia que sentimos vem do fato que elas são incríveis como pessoas, há uma sinergia de grupo entre elas. Mas havia também um espaço de trabalho, com rodadas de discussão para falar dos pontos de dificuldades, achar a solução, continuar. Durante a realização do filme, Lilah Halia criou um grupo de Whatsapp para o grupo de atores. Quem quisesse poderia postar fotos, observações, sugestões. Ela não queria que a história viesse só dela, mas de um encontro.

Conclusão


Lilah Halia indica que Levante quer dizer insurreição, mas também a bola que no vôlei a gente levanta para dar uma ‘cortada’ 

Ela nos explica que o filme se tornou também uma resposta, como um documento histórico face à subida do fascismo no Brasil. Como achar, em um momento paralisante da nossa história, meios imaginários para sair dele. Se trata de criar coletivamente estratégias para atravessar, ultrapassar este momento violento.

Por: DRª Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE
Correspondente da França.


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