O JESUS HISTÓRICO E O JESUS REAL

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 As festas de fim de ano, pautadas em torno do que seria o nascimento de Jesus de Nazaré, estão no fim, com o dia dedicados aos “Reis Magos”. Mas o restante do ano segue, e todos os grandes eventos de inspiração religiosa, com  a Semana Santa/Páscoa, o São João e muitas outras festas menores ou de expressão local. São  exemplos, os dias de São Sebastião ou São José. Comunidades inteiras param para festejar os seus padroeiros.

JESUS EXISTIU?

Do ponto de vista rigorosamente historiográfico, não se pode dizer que sim ou que não. Na realidade, não existe nenhuma prova que passe pela crítica histórica sobre a passagem terrena do Jesus bíblico. Do nascimento na manjedoura à morte na cruz, inexistem evidências comprovadas pelo crivo da ciência. Existem narrativas,  hipóteses, tradições.  Relatos de cunho religioso não constituem provas. A se acreditar em versões religiosas, teríamos que acreditar que Zeus e sua corte de deuses existiram. Que Osíres existiu. Que Mitra existiu. Que Thor existiu. Que Adão e Eva existiram. E por aí vai. Narrativas religiosas se aplicam ao âmbito da fé, não da ciência. Aliás, não há contraposição entre elas. Fé e ciência não se conectam nem se contrapõem. Trafegam em frequências diferentes na vastidão das mentes humanas. Logo, discutir fatos históricos não significa lançar dúvidas sobre a fé de ninguém.

HIPÓTESE

Eu trabalho o tema (Em “Maquiavel, o Poder” há um capítulo dedicado a Jesus)  com uma hipótese: existiu um ou existiram alguns profetas na época próxima ao tempo bíblico de Jesus com perfil semelhante. E discursos diferentes, que se complementaram e/ou se conflitavam. Talvez um deles tenha servido de eixo para a construção do personagem. Que, aliás, segue ainda hoje cercado de incompreensões e polêmicas.

O NASCIMENTO

Da forma como os evangelistas descrevem, simplesmente não aconteceu.

Primeiro: a seguir o calendário cristão, no ano I, que marca o que seria o do nascimento de Jesus, Herodes, o Grande, aquele que teria mandado matar as criancinhas, já tinha morrido há pelo menos quatro anos. Não há registro de matanças. Os romanos, alias, jamais permitiriam o desatino para privá-los de futuros súditos trabalhadores e pagadores de impostos. Sem mais detalhes, assunto encerrado.

Nos anos em torno do suposto nascimento, não aconteceu nenhum recenseamento na Judeia dominada pelos romanos. Roma era rigorosa nos registros, promovia recenseamentos com relativa regularidade. Todos muito bem documentados. Nenhum naqueles anos. Ponto.

Mesmo que tivesse acontecido o recenseamento, jamais seria a causa do deslocamento de José com a jovem esposa Maria, grávida, de Nazaré, onde supostamente José morava com vários filhos de casamento anterior, para Belém, o seu alegado local de nascimento. Os romanos não exigiam o recenseamento no local de nascimento mas no de moradia. O objetivo não era saber onde os homens nasceram e sim onde viviam. Basicamente, onde pagavam impostos e onde poderiam ser encontrados para eventual repressão ou serviço militar. Cai a versão bíblica.

ISSO SEM FALAR

Em narrativas totalmente absurdas, como a conversa dos “Magos do Oriente”, os tais Reis Magos. Poderosa do ponto de vista simbólico, porém sem pé nem cabeça do ponto de vista real. Reis de onde? De quais reinos? De qual Oriente? Bem, da Pérsia, da Mesopotâmia, não eram. Para vir de além, em camelos, seriam  meses de viagem. E como se reuniram para formar a comitiva? Serem recebidos por Herodes, impossível, pois, como dito, aquele rei já tinha morrido.  Sucessão inverossímil de alegações que, repito, não questionam a fé. Mas se o tema é historia, nem precisa recorrer à ciencia. São contestadas pelo simples bom senso.

O 25 DE DEZEMBRO

Dá um Google aí.

“ A data do 25 de dezembro como, dia do nascimento de Jesus, foi fixada pela Igreja Católica em 525 para coincidir com as festas pagãs do Oriente e de Roma. Segundo alguns historiadores, foi o Papa João I quem oficializou a comemoração, embora alguns digam que ela já existia desde os tempos do Imperador Constantino”.

INCORPOROU

Nesse mês, também os romanos celebravam a Saturnalia, festa dedicada ao deus Saturno “em que se penduravam guirlandas, se distribuíam presentes e até havia árvores como a nossa no Natal”.

Ou seja, ainda citando o que é de domínio público, “o Natal teve origem em festas pagãs que eram realizadas na antiguidade. Nessa data, os romanos celebravam a chegada do inverno (solstício de inverno). Eles cultuavam o Deus Sol (natalis invicti Solis), e ainda realizavam dias de festividades com o intuito de renovação”.

Sobre isso, é o bastante.

A CONSTRUÇÃO DA MANGEDOURA

Nos primeiros tempos do cristianismo primitivo (a redundância é proposital) não se falava do nascimento de Jesus. Isso começou a acontecer e foi ganhando força quando a nova religião chegou a Roma e foi, a custa de muita perseguição e martírios, conquistando o coração do Império.

Uma religião muito seguida entre as camadas populares romanas era o Mitraismo.

Mitra, em versão muito anterior ao cristianismo, era filho de uma virgem. Nasceu numa caverna num 25 de dezembro. Foi adorado por pastores. Para atrair os seus seguidores, os cristão mimetizaram os dois nascimentos. E assim, junta daqui, junta dacolá, Jesus ganhou um berço para sua “ biografia”.

PREVALECE A FÉ

Nada disso contesta a fé de ninguém. Para quem acredita, o Jesus histórico não lança dúvidas sobre o Jesus real. Este é o que as pessoas acreditam. Ele existiu, se você acredita. A fé funciona assim. Fé é crença, ciência é razão. Se fatos históricos põem sua fé em dúvida, melhor revisar sua fé. 

EXISTIU

Jesus, para mim. é um personagem simbólico, fascinante.  Que merece uma grande comemoração. Bastaria a mensagem de paz e fraternidade, igualdade e justiça que ele traz. 

Só por ter inspirado o espírito do Natal, Jesus justificaria uma existência.




Por: José Nivaldo Junior - Publicitário. Historiador. Da Academia Pernambucana de Letras.  
Autor do best-seller internacional “Maquiavel, o Poder”. 


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