HOMENS AO MAR: UMA AVENTURA EM FAMÍLIA NAS ÁGUAS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ

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O dia 9 de março de 2025 amanheceu promissor. O céu claro e o mar calmo anunciavam uma jornada perfeita. Mas como a vida costuma nos surpreender, o que era para ser um simples passeio familiar se transformou numa história de coragem, superação e, acima de tudo, de amor. Um capítulo memorável da história, escrito nas águas azul-esverdeadas de Balneário Camboriú.

A data já carregava em si um peso emocional. Neste dia, se estivesse entre nós, o patriarca Alfredo Schubert completaria 120 anos. Homem de valores sólidos, que deixou como herança não apenas lembranças, mas também o espírito de união e aventura que move seus descendentes. Coincidentemente e como se o destino quisesse pontuar o simbolismo do momento Joinville, a cidade natal da família, comemorava seu aniversário.

Mas o verdadeiro motivo da reunião era outro: a comemoração dos 43 anos de Rodrigo, neto de Alfredo, celebrado com a presença de Marlon e seu filho Otto, que vieram de Fortaleza especialmente para a ocasião. Três gerações unidas não apenas pelo sangue, mas por histórias vividas à beira-mar, entre embarcações, mergulhos e lembranças salgadas de infância.

O Jet, o Mar e as Memórias

Naquela manhã ensolarada, o plano era simples e encantador: um passeio de jet-ski pelo litoral, revisitando lugares especiais. À frente do jet, eu pilotava com alegria. No centro, o Otto autista, grande e forte, com quase 90 kg observava o mundo com olhos curiosos. E, atrás, o atento Marlon, sempre vigilante e presente.

Por questões de segurança e acessibilidade, decidimos não mergulhar, como costumávamos fazer na praia de Taquaras. Em vez disso, seguimos navegando calmamente rumo à belíssima praia de Laranjeiras, contornando a vegetação exuberante, sentindo o cheiro do sal, ouvindo o som sereno das ondas e relembrando os tempos da Mar Y Sol, a antiga lancha da família. Foi ali, anos atrás, que meus filhos aprenderam a mergulhar de snorkel. E foi também ali que, nesta temporada, Rodrigo ensinou sua sobrinha Sara a respirar com o tubo e a observar o fundo do mar olhos marejados de encanto e descoberta.

Chegamos a uma pequena baía onde a natureza parecia suspender o tempo. De cima do jet-ski, observamos o paraíso desta vez, sem mergulho, respeitando as limitações físicas do Otto. Um momento silencioso, mas pleno. Mais adiante, dois gigantes transatlânticos estavam ancorados. Um deles era o imponente *Costa Pacífica*. Decidimos chegar mais perto para tirar algumas fotos.

Foi nesse instante que o inesperado aconteceu.

Um Voo Raso Sobre as Ondas

Ao me aproximar do segundo navio, deixei o jet em marcha lenta, ia pegar o celular para fazer o registro e... uma onda traiçoeira nos atingiu de lado. O jet virou repentinamente e nós três fomos arremessados para o mar aberto. Em frações de segundo, estávamos na água.

A primeira reação foi instintiva: pedi proteção a Deus. Felizmente, o jet-ski estava com o cabo de emergência conectado ao meu colete, o que desligou o motor automaticamente. Flutuamos. Estávamos todos bem. Lembrei que, minutos antes, havia guardado o celular no compartimento estanque um alívio. Meus óculos de grau, por milagre, continuavam firmes no rosto.

Mas havia um novo desafio: como colocar o Otto de volta no jet?

Com calma e estratégia, assumi o controle. Posicionei-me na traseira do jet, estendi a mão para Otto, enquanto Marlon, dentro d’água, empurrava o filho com força e cuidado. A manobra era delicada. Um descuido e o jet poderia capotar em cima de nós. Com esforço, coragem e trabalho em equipe, conseguimos. Otto estava a bordo. Logo depois, Marlon subiu. Liguei o motor: nho, nho, nho... e, para nosso alívio, funcionou.

Seguimos em direção a uma pequena Ilha das Cabras. Aproximando-nos devagar, atracamos com cautela. Amarramos o jet e decidimos caminhar, explorar. Marlon lembrou com carinho que há quatro décadas havia estado naquele mesmo local, junto da prima Maialu. A ilha, quase intocada, era um resgate do tempo.

O Barulho da Preocupação

Após o passeio, voltamos até onde estava o jet-ski, mas, por intuição, decidi dar uma volta sozinho. Ao dar partida, ouvi um som nada agradável como pedra sendo triturada. Tentei acelerar, saiu fumaça, o rendimento caiu. Era claro que algo obstruía a turbina. E foi então que o acaso, ou a sorte divina, mais uma vez se manifestou.

Bem à frente, avistei uma lancha da equipe da Escola Náutica  a mesma onde conquistei minha Carta Náutica para conduzir embarcações. Acenei, pedi ajuda. Marlon, solidário e incansável, já vinha nadando da ilha, rebocando Otto com um braço, enquanto levava numa das mãos uma garrafinha de água e um par de chinelos.

O pessoal da escola foi de uma generosidade admirável. Avisaram a marina sobre nosso problema. A espera foi longa. Marlon e Otto estavam exaustos de tanto tempo na água. Pediram para a lancha nos levar até a praia e dalí da lancha seguiriam a pé até em casa, mas os instrutores pediram que aguardassem mais um pouco.

Diante da demora, resolveram acionar o plano B: amarraram um cabo no jet para rebocar a embarcação até a marina. Mais uma vez, os três homens eu, Marlon e Otto enfrentaram o mar com coragem e serenidade.

Gratidão ao Final do Dia

A jornada que começou com a intenção de ser contemplativa, quase meditativa, acabou ganhando tons de aventura épica. Mas, ao final, estávamos todos bem. Salvos. Unidos. E, acima de tudo, agradecidos.

Momentos assim reforçam o verdadeiro sentido da vida. Em meio a imprevistos e perigos, é o amor que nos ancora, a fé que nos impulsiona e a família que nos resgata.

Ao olhar para trás, posso dizer com firmeza: o mar nos levou ao limite, mas também nos trouxe mais próximos uns dos outros. Como dizia meu avô Alfredo, que nesta data especial certamente nos acompanhava de algum lugar, “as melhores histórias são aquelas que o mar ajuda a contar”.

E esta, sem dúvida, foi uma delas.









Por: Marcos Eugênio Welter - Vice-Presidente Nacional da Academia de Letras do Brasil, 
Membro do Conselho Superior Internacional da Academia de Letras do Brasil.




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