MARIA JOSÉ MEDEIROS

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Mamãe soube viver e dar lições de vida. Com uma inestimável reserva moral, atravessou momentos de angústia, dando lições de superação.

Deu lições de amor materno e de condução de vida aos filhos, netos, bisnetos e todos mais.

Inteligente, ensinou-nos a falar, refletindo e assumindo o que pensávamos, dando lições de civilidade, filantropia e amor ao próximo.

Nascida nas terras do Catolé de Casinhas, mamãe foi acolhida em Olinda, que encantava e inspirava as coisas bonitas que ela cantava e gostava de falar sobre a terra que foi o berço da sua formação.

Das ondas do mar de Olinda, recebeu abraços e aconchego. No Alto da Sé, vislumbrava a beleza natural da cidade que lhe foi inesquecível.      
E pelas ladeiras de Olinda cantarolou o hino de Pitombeiras, o bloco carnavalesco que não saia da sua memória.

De Olinda para Surubim, um retorno marcado pela amizade nascida em gestos acolhedores pela gente conterrânea que estava sempre presente nas atividades filantrópicas que mamãe desenvolvia no Clube das Mães de Surubim, uma entidade social que marcou época junto às famílias carentes do nosso município.

E, para relembrar outro marco filantrópico no apoio à construção da atual Matriz de São José, a festa Ciganas X Camponesas, uma das mais belas realizações da sua filantropia.
         
 Atenta ao que se passava ao seu redor, mamãe contava estórias e se constituía numa impressionante fonte de conhecimento da história oral de Surubim.

Conheceu os meandros da política de Surubim, pois conviveu com “Padrinho Zé Natal” e “Sadido” – maneira carinhosa como tratava o seu tio, Dídimo Carneiro da Cunha, primeiro prefeito de Surubim, em 1928, o grande baluarte da emancipação política de Surubim.

Um dia, perguntei pra ela:

- Mamãe, como foi a posse do primeiro prefeito de Surubim, em 1929, já que a senhora vivenciava, na época, o convívio familiar do seu tio prefeito? Assim, respondeu:

- Sadido, era uma pessoa elegante. Usando fraque e cartola, se dirigiu ao prédio da prefeitura para tomar posse na condição de primeiro prefeito eleito de Surubim. Fomos andando até a prefeitura, sem alardes ou ressentimentos políticos. Surubim saboreava a sua emancipação política, uma conquista relevante para o povo surubinense.

Sem delongas, mamãe dissertava sobre um momento significativo para o povo. Porém, a presença do primeiro prefeito de Surubim no cargo seria breve tendo em vista as mudanças ocorridas na politica nacional.

Sobre isso, mamãe se sobrepôs aos destemperos da rusga política local e falou sobre o constrangimento vivido pelo prefeito Dídimo Carneiro da Cunha, afastado do poder pelos políticos surubinenses que apoiavam a tomada do poder no Brasil por Getúlio Vargas.

Para que possamos entender a “deposição” do primeiro prefeito de Surubim que não chegou a concluir o mandato, registramos o seguinte: Agradecido e aliado ao governador de Pernambuco, Dr. Estácio Coimbra, Dídimo Carneiro da Cunha, foi solidário ao governador que assinou o ato de Emancipação Política de Surubim em 11 de setembro de 1928.

Ainda, alimentando o sentimento de tristeza relacionado àquele episódio, mamãe narrou de forma melancólica a saída do prefeito Dídimo Carneiro da Cunha da sua amada Surubim.
- Constrangido, Sadido foi à cavalo, até Bom Jardim. De lá, foi de trem até Carpina. Em seguida, pegou outro trem e viajou a Goiana. Depois, foi para Olinda, não voltando mais a Surubim.

A história de Surubim, nos relatos de mamãe, era fruto de um conhecimento profundo e vivenciado por ela que participava dos acontecimentos sem ultrapassar os limites do papel que lhe cabia.

Sempre guardou com imenso carinho, o gesto do seu “Padrinho” José Natal Carneiro da Cunha ao doar todo o terreno destinado a Construção do Hospital São Luís e da Maternidade Nossa Senhora do Bom Despacho.

Nascida em 01 de setembro de 1910 para a vida que soube viver, cercada dos familiares e dos amigos que conviveu até o dia 01 de maio de 2017. Uma vida marcada pela fé, pelo amor e pela generosidade.

Por: Luiz Antônio Medeiros - Escritor e Professor da Rede 
Pública do Estado.



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