E SE FOSSEM 594 PESQUISADORES?

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Luiz Antônio Medeiros


A impressa, de vez em quando, abre espaço para falar sobre projetos de pesquisas importantíssimas na área da saúde. Na maioria dos casos, a desilusão toma conta de pesquisadores que não recebem o devido apoio financeiro para custear estudos laboratoriais importantes na descoberta de meios capazes de melhorar a condição de saúde da população brasileira.

O noticiário ocupa 99% do seu espaço mostrando um Congresso Nacional onde reina a desmoralização, o descalabro, a descompostura e a falta de decoro. O que se gasta com essa gente, daria para deixar o país com uma capacidade evolutiva extraordinária em favor da pesquisa científica.

- O corte de 44% no repasse de verbas federais para a produção científica no País, denunciado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências, também afeta Pernambuco. As áreas voltadas às ciências físicas e naturais são as que mais vêm sendo prejudicadas, conforme pesquisadores. Além das universidades e institutos federais, incluídos nos gastos diretos de Brasília, entes ligados ao Governo do Estado e que recebem transferências de recursos têm visto os aportes diminuírem.

Enquanto isso, TV Senado, TV Câmara e outros meios de comunicação sustentados pelo dinheiro do povo, passam 24 horas divulgando sessões plenárias e de comissões do Senado e da Câmara dos Deputados que causam verdadeiros vexames ao Poder Legislativo.

- Na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação confirma que “houve grande impacto” no setor e que, além das dificuldades no gerenciamento dos projetos que já estavam em andamento, “faltam novos editais de fomento, afetando todas as áreas de conhecimento”. A instituição ainda diz que, com a ausência de investimentos, “a situação crítica deve se estender por anos, mesmo que haja novos recursos, devido a essa grave lacuna”. Por fim, afirma que até o pós-doutorado de seus pesquisadores no exterior vem enfrentando dificuldades.

No Senado e na Câmara dos Deputados, discursos inócuos, discussões inoportunas, atitudes ilícitas e espetáculos de posturas deprimentes chegam aos olhos e ouvidos do povo brasileiro que paga muito caro para sustentar os desafios à moralidade pública. O Congresso Nacional é o espelho de gastos desnecessários, posturas políticas inadequadas e trabalho improdutivo de deputados estaduais e vereadores que consomem o dinheiro do contribuinte brasileiro.

- Um país não faz ciência apenas investindo financeiramente em cientistas e laboratórios. Esses investimentos são necessários, mas não são suficientes. É preciso ter em mente que o progresso está naquilo de positivo que a ciência pode oferecer a um país e aos seus cidadãos. E isso fica claro quando se analisa a situação do apoio à pesquisa científica no Brasil, que ainda sofre, muito mais do que de falta de recursos, de uma burocracia sem fim que atravanca toda e qualquer iniciativa. Além disso, os cientistas brasileiros estão enfrentando grandes desafios desde 2016, com cortes ainda maiores nos orçamentos e a arrecadação menor afetando as agências de financiamento. (Cristina Sanches).

Se compararmos o que fazem os nossos incansáveis batalhadores pelo desenvolvimento da pesquisa científica no Brasil e esse contingente depreciativo do legislativo brasileiro, sem muito especular, constataremos que se tivéssemos pelo menos 594 brasileiros recebendo o equivalente a esses senadores e deputados federais, mais deputados estaduais em 26 Estados da Federação e o Distrito Federal e ainda, vereadores em mais de 5.500 municípios, sem precisar da mídia degenerativa dos meios de comunicação que o Poder Legislativo dispõe, seríamos um país com vergonha na cara.

- Desenvolver vacinas contra o vírus, fazer vigilância epidemiológica nos estados, todo esse trabalho requer dinheiro. E a demora dos repasses prejudica os projetos. O governo federal só liberou os pagamentos pendentes do CNPq – o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – no fim do ano passado. O conselho recebeu R$ 500 milhões – obtidos pela repatriação.

Que vergonha!

É profundamente lamentável essa constante convocação do “povo” para ir às ruas defender coisas absurdas que ferem, moralmente, a dignidade do próprio povo brasileiro.

- Para contornar a crise, pesquisadores têm recorrido, mais do que nunca, a parcerias. O diretor do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), José Luiz de Lima Filho, diz que buscou aumentar a colaboração internacional. “Temos startups e ONGs de países como Japão, Estados Unidos e Inglaterra conosco. É uma reflexão a fazer: repensar a forma de financiamento da pesquisa. Os cortes já ocorrem há alguns anos e interferem na chegada de novos bolsistas, na manutenção. É preciso buscar outras fontes de recursos”, afirma.

Não, doutor! É preciso que tenhamos consciência para fazermos do nosso voto a palavra decisiva em defesa dos interesses da Nação Brasileira. Infelizmente, haveremos de amargar, ainda, uma expressiva maioria da população que vive à mercê do mercadinho, bodega e, até, do agiota, com anotações no caderno de cobranças, à espera do “dinheiro bolsa família”.

Por: Luiz Antônio Medeiros - Escritor e Professor da Rede 
Pública do Estado.



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