VALEU O BOI

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José Nivaldo Júnior.


A aproximação da vaquejada, o maior e mais típico evento de Surubim, provoca um natural alvoroço e uma justificada ansiedade.

Afinal, em poucos dias, a alma e a essência de um povo explodirão em um grandioso espetáculo de pura emoção.

Creio que clima semelhante exista nas imediações da Festa do Peão de Boiadeiro, em Barretos, da Oktoberfest, em Blumenau, do Círio de Nazaré, em Belém, da Festa do Boi, em Parintins, apenas para citar alguns exemplos.

A vaquejada é um dos traços característicos mais marcantes da cultura e da tradição nordestina.

Parte de algo que poucas sociedades civilizadas possuem: uma figura típica e inconfundível.

O tradicional vaqueiro nordestino, com sua indumentária, os seus apetrechos e o seu cavalo, compõe uma personagem original e única.

Não foi copiado de nada nem de ninguém, embora incorpore traços particulares de diversas procedências históricas.

Mas os articula de forma inédita, incorporando os elementos do meio e do modo de viver da região.

O resultado é que o vaqueiro compõe a galeria dos tipos universais inéditos e absolutamente inconfundíveis. Comparável, nas Américas, ao cowboy americano, ao mexicano de sombrero, ao gaúcho dos pampas.

Em qualquer lugar do mundo, ele não é confundido com nada e é imediatamente remetido ao Nordeste brasileiro.

Inspirando inclusive desdobramentos peculiares. Na sua versão bandida, o cangaceiro, o vaqueiro matador. Na sua melhor expressão artística, os forrozeiros, como Luiz Gonzaga. Um autêntico vaqueiro tocador e cantador.

Não é pouco. Só uma cultura muito vigorosa é capaz de gerar um tipo humano assim.

Pois Surubim, Capital Mundial da Vaquejada, mostra a grandeza de espírito da sua gente ao adotar, numa difícil construção histórica, o mais marcante e duradouro desdobramento do vaqueiro, sua criação esportiva por excelência.

Que ao lado de tantas criações originais - como o forró, o xaxado, o baião, os bonecos de barro, as carrancas, a xilogravura, os folhetos de feira, os cantadores de viola, entre muitas outras - caracterizam uma verdadeira civilização nordestina, única, encantadora, motivo de orgulho para todos nós.

Este ano a vaquejada de Surubim será enriquecida pelo lançamento do livro de Fernando Guerra, provando, por A mais B, através de exaustiva pesquisa documental, que Surubim não é apenas Capital, é também o berço da vaquejada moderna.

Por tudo isso, nos dias da festa, o grito de “Valeu o boi” é muito mais que a marcação de uma derrubada perfeita.

É, também, principalmente, o símbolo de uma sociedade autêntica e generosa, que suplanta suas divergências , exclusões e injustiças e se une com um grito de guerra. Registro de uma nação que vive no coração de cada nordestino.

Por: José Nivaldo Junior
Publicitário, Escritor, Membro da Academia Pernambucana de Letras e Autor do Best-Seller internacional “Maquiavel, o Poder”.



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