105 anos do Rei do Baião: 'Ele era muito mais do que o que deram', diz irmão de Luiz Gonzaga

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João Gonzaga foi adotado com três dias de nascido por Januário, pai de Luiz Gonzaga. Ele vive em Exu, no Sertão de Pernambuco.


Da direita para esquerda, Luiz Gonzaga ao lado de João Gonzaga, o neto, a nora e o filho Gonzaguinha. (Foto: Joyce de Oliveira Januário / Arquivo pessoal)
João Batista Januário retalhava um bode quando iniciamos a nossa conversa. Disposto a colaborar, ele me disse: 'sou matuto, mas estou à sua disposição’. E foi entre os cortes precisos nas juntas do caprino, que, 'o João 'Gonzaga' fez o retorno ao passado do irmão de criação e padrinho de batismo, Luiz Gonzaga, que nesta quinta-feira (13) completaria 105 anos.

João Gonzaga foi adotado com três dias de nascido por Januário José dos Santos, pai de Luiz Gonzaga e Maria Raimunda de Jesus. “Quando eu cheguei na fazenda Lagoa Grande, em Exu e de lá fui conduzido pequeninho até a fazenda Araripe. Foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida, eu jamais seria capaz de definir a importância de receber o nome Gonzaga”, afirma.

João Gonzaga carrega com carinho a foto de infância com o pai de criação Januário (Foto: Joyce de Oliveira Januário/ Arquivo pessoal )
Criado vendo Januário consertar a velha sanfona, a admiração pelo padrinho teve que esperar ele 'se entender por gente', como mesmo diz. “Um certo dia, veio meu pai e disse que eu ia conhecer Gonzaga. Eu não tinha a menor ideia de quem era Luiz Gonzaga. Eu ouvia falar dentro que ele era meu padrinho. Eu fui batizado na Igreja do Araripe, mas ele ficou muito tempo sem ir em casa”, esclarece.

A primeira apresentação de Luiz Gonzaga que ficou guardada na memória do seu João foi da festa do centenário do Araripe que aconteceu no ano de 1968 em Exu. “Foi daí que partiu minha grande admiração. Luiz Gonzaga era aquela pessoa que apesar de artista, era muito família. Ele quando estava de bem comigo, e quando estava fazendo as coisas certas, me chamava de Joãozinho, se eu não tivesse, era sujeito”, lembra.

Até o período do centenário ele veio pouco a Exu, mas isso mudou a partir da festa. “O maior bem que ele tinha na face da terra era aquele velho Januário. Quando ele fazia um show em Recife. Ele procurava um jeito de vir em Exu. Foi aí que ele comprou o Parque Asa Branca. Depois disso, que ele passou a vir mais vezes”.

Sob a luz dos seus 55 anos de idade, João ressalta o que mais chamava atenção em Luiz Gonzaga era a simplicidade. “No parque Asa Branca, ele ficava de short, usava sandália, andava tranquilo na nossa cidade. Era um homem do povão, mas quando ficava em casa gostava de ficar sozinho".

"Ele tinha as suas turradas, aqueles arranques. De repente ficava com raiva de uma coisa, falava alto, mas sabia voltar e pedir desculpa"


Luiz Gonzaga (Foto: Reprodução/TV Globo)
Segundo João, não era apenas o seu jeito de ser que era simples, havia também uma naturalidade em que ele se relacionava com a música. “Uma vez eu pude ver ele compondo, foi dirigindo. Naquela época, celular não existia e telefone era uma raridade. Ele tinha uma facilidade muito grande para compor”.

"Parece que ele esquecia que estava dirigindo, e , de repente, ficava fazendo uma batucada na direção do carro, soltava a mão e depois dizia: 'Eita, estou dirigindo'. Ele ficava cantarolando, e ali ele já estava era memorizando mais uma canção".


A humanidade do padrinho e irmão de criação também sempre chamou atenção. João conta que na casa em que vive hoje, antiga casa da família, Luiz Gonzaga fazia shows para angariar fundos e conseguir mantimentos para as pessoas mais carentes da cidade, e sempre que alguém precisava, era naquele local, que encontrava socorro.

Ao final da conversa, pergunto dos 105 anos que Luiz Gonzaga completaria neste 13 de dezembro, seu João, que vive da compra e venda de animais, endurece a voz e fala de reconhecimento:

Luiz Gonzaga merece reconhecimento como ser humano, não só como artista. Ele era muito mais do que o que deram. Mas tem muitas pessoas que lá [ em Exu ] não carregariam Luiz Gonzaga no ombro, mas muitos como eu, carregam, na mente, no espírito e no coração.


Por: G1.


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