Ave rara, batuíra-bicuda reproduz em Itamaracá

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Após 26 anos, pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco testemunharam um ninho de batuíra-bicuda na Coroa do Avião



A descoberta inédita foi aprovada para publicação na revista periódica Brazilian Journal of Biology e será divulgada no primeiro semestre de 2019
Foto: Wallace Telino Jr. / Cortesia

A natureza não cansa de surpreender, mesmo com toda a interferência humana. Só após 26 anos, pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) testemunharam, pela primeira vez, a reprodução da ave marinha batuíra-bicuda (Charadrius wilsonia) na Coroa do Avião, banco de areia próximo à ilha de Itamaracá, no Litoral Norte do Estado. É nessa ilhota - situada a 35 km da Capital pernambucana - que ainda residem (e resistem) os últimos três casais da espécie, considerada criticamente ameaçada de extinção, conforme a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

A descoberta inédita foi aprovada para publicação na revista periódica Brazilian Journal of Biology e será divulgada no primeiro semestre de 2019. A trajetória desses pássaros é acompanhada pelos estudiosos da UFRPE desde 1989, quando as aves receberam anilhas de identificação. Um dos monitoradores desses pássaros na Coroa do Avião é o professor de zoologia da UFRPE Wallace Telino Júnior. Ele ressalta que esse fator inédito não é só surpreendente, como também é motivo de comemoração, uma vez que a população de batuíras-bicudas caiu consideravelmente nos últimos três anos devido à pressão turística. Segundo ele, até 2015 ainda era possível avistar cerca de dez casais. Mas, desses, só três permaneceram no pequeno banco de areia.

“Registrar um acontecimento desse em campo mostra que, mesmo com toda a perturbação antrópica que lá existe, alguns indivíduos (de batuíra-bicuda) adotaram a resiliência”, observa ele, que também é um dos autores da pesquisa. Porém, a comemoração durou pouco tempo. A triste notícia veio 15 dias após voltar à Coroa do Avião: o ninho com os ovos de batuíra-bicuda não estavam mais no mesmo lugar. Para Telino Júnior, a predação é a causa mais provável do desaparecimento. Lá, a presença de animais domésticos, como cães e gatos, é algo recorrente diante dos estabelecimentos comerciais que existem na ilhota.

De forma geral, avalia o estudioso, o achado inédito revela que a espécie é, sim, capaz de se reproduzir na costa pernambucana - embora só tenha presenciado o acontecido em campo quase 30 anos após o monitoramento. Mas, reforça, essa pressão causada pelo turismo não sustentável precisa ser reavaliada pelas autoridades locais, diante da particularidade que a Coroa do Avião tem: em Pernambuco, um dos principais pontos de repouso de pássaros - inclusive, das aves migratórias que vêm do Ártico em busca de descanso e alimento - é nesse banco de areia.

“É necessária a adoção de medidas urgentes para mitigar esses impactos. Garantiria a conservação das espécies e a proteção de outras aves que usam esse mesmo banco de areia para descansar, se alimentar e se reproduzir”, alerta o pesquisador.

Batuíra-bicuda


Essas aves, tão pequenas, chegam a medir entre 16,5 e 20 centímetros de comprimento e pesa entre 44,2 e 80 gramas. São amarronzadas na parte superior, possuem uma coleira fina, e têm o papo e a parte inferior na cor branca. A batuíra-bicuda procuram seu alimento andando lentamente pela areia das praias. Caranguejos, insetos e vermes marinhos são o cardápio predileto das batuíras-bicudas.

O período reprodutivo, que inicia no fim de abril e vai até novembro, resulta na colocação de até três ovos por ninhada, geralmente, colocados próximos às áreas de restinga. Para essas aves marinhas, as praias costeiras são essenciais por oferecer as condições ideais para o sucesso reprodutivo. “O que acentua a necessidade de implementar medidas de conservação para garantir o ciclo reprodutivo dessas aves“, reforça Telino Júnior.


Por: Folha PE.


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