'Crônicas' FERNANDO DE NORONHA – MERGULHOS - 24/11/1998

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Marcos Eugênio Welter.
Quando aqui estive pela primeira vez em 1994, disse que voltaria, assim, num cruzeiro marítimo a bordo do “Princess Danae” retornei em 1996 e novamente me propus a voltar de tão encantadora que é esta ilha. Agora, a bordo do “Funchal”, navio com 9.000 toneladas, construído em 1970, aqui estamos noutro cruzeiro, saindo de Fortaleza, rumamos 369 milhas náuticas, cerca de 680 km até Fernando de Noronha, onde ancoramos na baía de Santo Antônio. 
Acordei às 6 horas para o café, em seguida peguei a senha e com o primeiro escaler às 7 horas deixei o navio e navegamos ao porto, na baía de Santo Antônio procurando a escola de mergulho Atlantis, junto com o Dr. Paulo Henrique Conti e outros sete mergulhadores.
Nossa primeira parada foi na ilha Rata, lugar Cagarras onde mergulhamos a uma profundidade de 25 metros durante 33 minutos. No início custei a acertar a compressão do ouvido, mas depois foi só desfrutar a água com boa visibilidade, com temperatura de 26 graus, vimos três tubarões, arraia, tartarugas, lagosta,  sargos e muitos peixes. Valeu o mergulho, mas não foi especial, apenas médio.
Enquanto parte do grupo fazia seu batismo (o primeiro mergulho acompanhado de técnicos), ao pararmos na Ressurreta, lugar já conhecido meu de mergulhos em anos anteriores, peguei uma máscara e as nadadeiras e fiquei cerca de uma hora desfrutando das maravilhas daquela parte submersa da ilha, com visibilidade de uns 20 metros de profundidade e uns 40 metros de horizonte. Só por essa apneia teria valido a ida a Fernando de Noronha, tamanha a quantidade de peixes. Em seguida, com cilindro e equipamento seguimos nosso guia o “Bacana” e por 36 minutos aproveitamos aquele que considero o melhor mergulho feito até hoje (no Brasil), embora a uma profundidade de só 14 metros. Vimos três tubarões em lugares distintos, uma raia, uma tartaruga, uma lagosta de mais de 50 centímetros de corpo com cerca de três quilos. Nas tocas e cavernas por baixo das pedras acumulavam-se centenas, milhares de peixes, como o bodião, papagaio verde, sargentos, etc. Águas transparentes e mornas, uma fartura e variedade muito grande de peixes. Uma satisfação indescritível estar em contato com a natureza, tão pródiga nesta região. Nestes momentos agradeço a Deus pelo privilégio de estar em contato com lugares tão magníficos e gostaria que as pessoas a quem quero bem pudessem estar junto para partilhar dessa maravilha e destes momentos sublimes. Acordei às 6 da manhã e agora são 1h30 da madrugada, estou extasiado e certo de que voltarei a mergulhar aqui em Fernando de Noronha, onde, de bugue acompanhado de amigos visitei o forte dos remédios, a praia da Conceição, do Boldró, Cacimba do Padre, a baia dos Porcos, do Sancho, e dos Golfinhos, onde estes nos brindaram com seus saltos rotadores, um espetáculo encantador.
A bordo do Funchal navegamos de Noronha até Natal, 200 milhas, ou 372 Km. onde, de carro, visitamos as praias de Ponta Negra, Pirangi, o maior cajueiro do mundo, Búzios, Barra de Tabatinga, Camurupim e Barreta, todos ao sul de Natal, sendo que ao norte ficam as dunas de Genipabu, onde já havíamos feito um passeio de bugue.
De Natal a Maceió foram mais 271 milhas marítimas, 500 km, onde visitamos a Barra de São Miguel, praia do Francês, Fazenda do Gunga com seus magníficos coqueirais à beira mar. À noite fomos no “O Lampião”, um forró onde houve a apresentação da peça “Maria Chiquinha e Cabra da Peste”.
De jangada percorremos uns 500 metros até os arrecifes de areia, onde mergulhamos.
De Maceió a Salvador foram mais 273 milhas, aproximadamente 505 Km, sendo que em Salvador fomos de ferry-boat durante 40 minutos até a ilha de Itaparica, onde tomamos banho na praia de Penha, vimos as instalações do Club Méditerranée À noite comi um acarajé no Pelourinho e retornamos ao Funchal, seguindo mais  210 km até Ilhéus, que foi dos lugares visitados o que menos nos chamou a atenção, por suas águas um pouco sujas e detritos na praia (há que se considerar que viemos de um paraíso chamado Fernando de Noronha). Estivemos na estação hidrotermal de Olivença, com suas águas medicinais cor de mangue recomendadas para tratamento de pele e outros. Tomei banho também na praia dos Milionários onde, apesar da pompa do nome, imperava o lixo na areia, em grande parte em função das chuvas que tinham ocorrido nos dias anteriores. De Ilhéus até o Rio de Janeiro foram 635 milhas, ou 1.175 km que levaram muitas horas, pois o velho transatlântico se deslocava a 19 milhas, ou seja, 30 km por hora.
Com cinco andares, servidos por um só um elevador, o Funchal tem três salões internos para shows, além de áreas externas para apresentações, área de piscina, de jogos, etc. Dois conjuntos musicais e seis cantores individuais se revezavam em apresentações para animar os 450 turistas que cantavam com um grupo de 150 tripulantes distribuídos nas mais diversas tarefas, sendo servidas cinco refeições diárias. À meia-noite iniciava a discoteca.
A entrada na baía de Guanabara é um espetáculo, pois se avista a Pedra da Gávea onde os atletas saltam com suas asas-deltas e voam até a praia de São Conrado. Vê-se o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, todas as praias, inclusive Copacabana, Leblon, Botafogo, Flamengo, etc. Tínhamos 5 horas de tempo livre no Rio, assim seguimos de táxi inicialmente até o Cristo, cruzamos toda a Floresta da Tijuca, saímos em São Conrado, seguimos pela orla pela Barra da Tijuca, Copacabana, Leblon. Rodamos quatro horas e meia e pagamos R$ 115,00 por mais um belo passeio. 

Às 18 horas zarpamos acotovelados nos decks superiores, apreciando as maravilhas do Rio de Janeiro, agora de novo vistas pelo oceano. Às 10 horas da manhã seguinte chegamos a Santos, mas só pudemos desembarcar às 12 horas, seguindo direto até Guarulhos aonde chegamos às 14 horas e voamos de volta para Navegantes.          Agradeço a Deus pelas maravilhas que vivi.

Agora estamos no ano de 2021, assolados pela covid-19, isolados há mais de ano, sem encontros presenciais, o mundo está praticamente parado, já foram vitimadas mais de 2,5 milhões de pessoas, os sobreviventes usam máscara, sendo mantido o “distanciamento social”, os aeroportos de todo o planeta estão praticamente parados e eu, com uma saudade imensa de viajar, comecei a procurar rascunhos de viagens anteriores só para relembrar os bons tempos em que conheci 70 países mundo afora e encontrei o acima descrito e não entendo por que, há cerca de vinte anos não tem mais havido cruzeiro pela costa brasileira que passa por Fernando de Noronha. Rezo com muita fé para que logo toda a população seja vacinada, para acabar esta pandemia, para que possamos voltar a nos abraçar alegremente e passear para conhecer as maravilhas feitas por mãos humanas e divinas.           

Por: Marcos Eugênio Welter - Trabalhou como Advogado e Funcionário do Banco do Brasil, 
Presidente da Academia de Letras do Brasil - Seccional de Brusque-SC, 
Membro do Conselho Superior Internacional da ALB.



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