A BASE DO MUNDO É DINHEIRO

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Virginia Pignot.


 I Introdução

Minha avó dizia: “O veio do mundo é dinheiro”, enfatizando a importância na vida das pessoas da base monetária, que permite trocas entre o trabalho realizado, a produção e sua remuneração.

Essa lembrança familiar vai servir de introdução ao nosso artigo.

Dinheiro no bolso contribui em sessenta por cento para o bem-estar das famílias.(1) O dinheiro que chega à base da sociedade é gasto na sua quase totalidade, a redução das desigualdades estimula a economia.(2) Diferente do dinheiro das grandes riquezas, utilizado frequentemente em aplicações financeiras que não financiam mais os meios de produção, enviado para paraísos fiscais isentos de impostos, ou usado pelos banqueiros para extorquir a população com taxas de juros astronômicas, que enforcam as famílias e paralisam a economia.

Veremos as armadilhas do crédito que endividam, em vez de permitir o desenvolvimento de uma pessoa, família, região, nação. Citaremos soluções que funcionam para frear essa hecatomba da agio-tagem dos bancos, e como escolhas politicas impulsionam ou entravam a economia. 

O objetivo do artigo é o de transmitir informações para que as pessoas possam escapar da engana-ção que as torna vítimas, através do conhecimento. Vitimas de propagandas enganosas que escon-dem o real valor de uma taxa de juros embutidos. Vitimas de uma mídia que não tem vergonha na cara, e que levou com mentiras e enganações o povo a colocar “A Burrice no Poder”( 3). Esse é o título de um artigo do Professor de Economia da PUC, Ladislau Dowbor, meu autor de referência  neste artigo.  Ele trabalhou na ONU participando da elaboração de programas de aplicação de recur-sos para desenvolvimento em diversos países, e aqui no Brasil, participou da elaboração de progra-mas sociais com Dona Ruth Cardoso, no governo FHC, e em governos do PT.

II O Brasil tem recursos sugados pelo capitalismo ultraliberal.

Temos recursos hídricos, energéticos, em biocarburantes, agrícolas, minerais...

Se dividimos o PIB brasileiro, o que produzimos, pelo conjunto da população, dá onze mil reais por mês por família de quatro pessoas. Mesmo que com a desigualdade uma família tenha três mil, e ou-tra 20 mil, temos recursos para que todos os brasileiros vivam decentemente. 

Mas no modelo ultraliberal que o ministro da Economia Guedes está implementando “a toque de caixa” e de privatizações no Brasil, os recursos são drenados para acionistas de grandes empresas, especialmente no mundo das finanças, deixando a população ao “Deus dará”. O que aconteceu em Marianne com a Samarco, no entanto, deveria servir de exemplo do que não deve ser feito. Com a privatização da Vale no governo FHC, os donos vivem ganhando rios de dinheiro com o nosso miné-rio, mas não querem investir na segurança. Os profissionais tinham alertado sobre os riscos de ruptu-ra da barragem, mas os acionistas, entre eles um grupo de investimento do Bradesco, que não que-rem perder nada, bloquearam os investimentos necessários para evitar o drama. E nem foram citados no processo! Por isso eu falo de ditadura do sistema financeiro. E como esses grupos compraram a imprensa, através da compra de rede de tevês, ou pela propaganda que financia os grupos de comu-nicação, a imprensa se tornou cúmplice destes crimes, omitindo informações comprometedoras para os verdadeiros culpados envolvidos. Há também uma cooptação do sistema judiciário por grandes empresas.

Vladimir Safatle, Professor de Filosofia, diz que para aplicar o modelo econômico do ultraliberalis-mo, a elite precisa da despolitização da sociedade.(4) Vem dai os ataques e a tentativa de jogar dis-crédito pela mídia e parte do judiciário mesmo contra políticos honestos. A elite produz e gerencia a crise para colocar em prática a idéia da austeridade, que por sua vez perpetua a crise e paralisa a poli-tica. Dentro de uma crise você da graças a Deus por ter um emprego e aceita redução de salário, au-mento da idade da aposentadoria… Com a austeridade e a redução de gastos públicos em investi-mentos (saúde, educação, saneamento…), aumenta o desemprego e a precariedade das famílias. Quando categorias organizam protestos contra o retrocesso e a perda dos direitos, a vertente totalitá-ria que é outro elemento deste modelo utiliza o aparelho repressivo. Vimos policiais atirarem bombas de gás ou balas de borracha contra manifestações pacificas de professores, de opositores ao governo. Essa é uma critica que Safatle faz aos governos pós constituinte de 88, inclusive aos governos do PT. De terem deixado intacto o núcleo autoritário invisível do estado brasileiro, os porões da ditadura, da P.M. e do exército, os esquadrões da morte.

III O que nos vitimiza, e como nos proteger?

A agiotagem dos bancos.

Uma costureira pega um empréstimo para comprar uma máquina de costura, ela paga três vezes o valor do produto, e ainda não sanou a dívida. Um professor universitário pega um empréstimo no cartão especial para comprar um carro, mas com os juros da dívida paga duas vezes o valor deste, e ainda está devendo... Na Inglaterra, fim 2020, foi aprovada uma lei que impede os bancos de cobrar mais de duas vezes o valor do que foi tomado emprestado. Quando você pagou ao banco duas vezes o que tomou, a divida acaba.

Desde 1995-96 a escolha politica de Fernando Henrique Cardoso de remunerar enormemente os ju-ros da dívida pública, e de retirar impostos dos lucros e dividendos enriquece banqueiros e milioná-rios, enfraquece o Estado e enforca grande parte da população. (5 )

Em 1999 José Serra propõe uma PEC transformada depois em emenda constitucional que anula o artigo 192 da Constituição Federal. Este artigo defendia o povo, estipulando regras e limites aos bancos para taxas de juros. Se ultrapassados, se constituia o crime de usura, de agiotagem. Resulta-do, os banqueiros cobram juros exorbitantes e completamente injustificados, e não sofrem pena, não pagam multa. Me parece que essas emendas parasitas propostas pelos “amigos do mercado” do PSDB, e inimigas do povo, devem ser revogadas, temos que lutar por isso pressionando deputados, senadores, votando por quem vai ter coragem de se opor à ditadura que quer se impor pelo poder do dinheiro, espezinhando a democracia. Como na democracia o poder emana do povo, não podemos nos curvar aos “mercadores do templo”.

Outro elemento que participa do desastre é que banqueiros tomaram conta do Banco Central, que devia regular os bancos, evitar agiotagem, corrupção destes. Então o Banco Central não está exer-cendo a sua função de regulação.

Dilma chegou a baixar a taxa de juros no Banco do Brasil e na Caixa Econômica, assim a população poderia pegar empréstimo sem se enforcar, utilizando a concorrência; ela também retirou o banqueiro Meireles do Banco Central e o substituiu por um funcionário de carreira honesto do Banco do Brasil, mas foi atacada pelos golpistas, que não querem permitir nem a concorrência nem a necessária regu-lação do sistema de agiotagem dos bancos. 

IV A desaceleração da economia e como combatê-la.

Com a transferência de renda para a base da população, como ocorreu segundo o Banco Mundial na “Golden decade”, a década dourada brasileira, entre 2003 e 2013, as pessoas compram, aumenta a demanda por produtos, os empresários podem empregar e vender, entram impostos para o governo investir em segurança, educação, renda básica, saneamento, estradas, ciência e tecnologia, formação de atletas, evitar desmatamento…Além de utilizada nos governos do PT, foi a estratégia usada pelo presidente americano nos anos trinta para sair da grande crise econômica e quebra dos bancos de 1929, é a estratégia usada na Alemanha, cuja população coloca o dinheiro dos seus salários em caixas de poupança públicas municipais, e participa da escolha de investimentos que dão retorno em em-pregos, melhoria alimentar, melhor qualidade da água, etc, para a população local. (1). Isso me faz pensar no orçamento participativo que funcionou bem em Porto Alegre e em outros municípios. No Brasil existem quase duzentas cooperativas que propõem empréstimos a juros corretos, e programas sociais que repassavam dinheiro diretamente às famílias, mas o governo passou uma bolada aos ban-cos, que empoçaram o dinheiro na crise do COVID, sem repassá-lo para incrementar projetos de empresas, nem para permitir a sobrevivência decente das famílias. O governo esta respeitando o teto de gastos, e reduzindo investimentos públicos essenciais mesmo durante a pandemia. No entanto, com cada dólar investido em saneamento, na qualidade da água, por exemplo, você economiza 4 dólares na saúde. Isso não é gasto, é investimento.

Mas quando a burrice no poder defende a austeridade para o povo, a lambança para poucos, a eco-nomia estagna ou retrocede, como acontece no Brasil desde que os golpistas paralisaram o governo Dilma, à partir de 2014.

Esperemos que os atletas brasileiros que nos orgulharam nas Olimpíadas de Tóquio, e que prestaram homenagem ao ex presidente Lula, opositor ao governo Bolsonaro, não se enganem: que a união da oposição ao governo atual, consiga criar um governo que investe para o bem de todos e da Nação. Que o grupo vencedor nas próximas eleições combata eficazmente a ditadura da minoria dos magna-tas da finança e outros milicianos de farda ou não, que estão mamando nas tetas da Nação Brasilei-ra, deixando o povo desamparado roer ossos na fila de um açougue.

Referências

1 A Era do Capital Improdutivo, com o economista Ladislau Dowbor, e Paulo França. You Tube, Canal Resistentes, 17-3-21

2 Programa Entre Vistas com o economista Ladislau Dowbor, You Tube, Rede TVT, 19-7-2019

3 A Burrice no Poder. Ladislau Dowbor, 22-12-2018. Google. http://dowbor.org...

4 Tutaméia entrevista Vladimir Safatle, 19-7-21, Google, Facebook

5 A Imprensa e a Verdade, Terceira Parte. Pagina 4.Virginia Pignot, Blog da Maluma, 26-7-21


Por: Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.

É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.

Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 

Natural de Surubim-PE.




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