A GUERRA RUSSO-UCRANIANA, O OUTRO LADO DA NOTÍCIA

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Virginia Pignot.


 I Introdução

“Nesta guerra, quem mais ganha é a OTAN, quem mais perde é o trabalhador ucraniano.”

A mídia empresarial brasileira tem um envolvimento crônico, patológico, com os interesses do imperialismo americano no mundo, e no Brasil. Ela tem a tendência perniciosa de só fornecer para leitores, espectadores e ouvintes brasileiros uma versão dos fatos, ocultando dados que contradizem a sua versão. 

Nesta guerra tivemos a versão da Rússia vilã que ataca o “herói” presidente da Ucrânia e o heroico e resistente povo ucraniano, reacendendo o discurso ocidental da guerra fria. O artigo é um convite a entrar nos meandros desta questão, no outro lado da notícia. Pois os citados como “bonzinhos”, os americanos que fornecem armas para os ucranianos, e encorajam a entrada do país na OTAN, podem incitar o conflito para vender armas e ter lucros, como terá vendendo seu gás de chiste muito mais caro à Europa que o gás russo, sem se importar com a mortalidade de ucranianos associada à empreitada belicista.

II Breve retrospectiva política e histórica. 

a) A Ucrânia está de “rabo preso” a oligarcas corruptos do seu próprio país.

A Independência da Ucrânia da União soviética se deu em 1991. Nos anos noventa, com a desintegração da República Federativa soviética, houve um processo de privatização de empresas estatais, dando nascimento a oligarcas nas áreas da comunicação, do gás, do petróleo… Os oligarcas descobriram que a propriedade dos meios de comunicação pode ser um instrumento político.

Em 2011 assumiu um presidente amigo dos russos, que desagradou a parte da população que se sente mais próxima da Europa. Manifestações contra o presidente foram incentivadas pela principal empresa de comunicação ucraniana, com a participação de grupos de extrema direita. O presidente pro russo renunciou pois além das manifestações contra seu governo, sua família estava sendo alvo de ameaças de morte. Um político corrupto que desagradou à população o sucedeu. 

b) Criação de um candidato pela imprensa

Então, um comediante ator de uma série de sucesso na televisão ucraniana foi levado, pela empresa de comunicação que o empregava, difundindo sua série, à condição de candidato às eleições presidenciais, e de herói do combate à corrupção de lá. (Como aconteceu com Collor no passado, e com Moro, mais recentemente, aqui). 

Zelenski, o atual presidente da Ucrânia, foi eleito em maio de 2019, sob a bandeira do combate à corrupção.

O Combate à corrupção não ocorreu de verdade, mas sim a perseguição a adversários políticos, assim como licitações fraudadas para favorecer oligarcas amigos ou próximos do poder.(1) Antes da guerra a taxa de rejeição de Zelenski estava alta, (mais de 70%), comprometendo sua reeleição.

III As razoes da guerra

Olha o que escrevia o pesquisador Robson Coelho Cardoch em 2015: “O conflito entre as forças regulares ucranianas e rebeldes pró-Rússia já dura um ano. O envolvimento da Rússia no conflito é evidente. Por causa disso, o país está sofrendo sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e pela Europa.”(2)

Um artigo do secretário de estado norte americano no governo Trump no The New York Times dizia que a OTAN devia cercar a Rússia, que a Ucrânia devia entrar na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte)

A OTAN, criada para proteger a Europa das investidas da União Soviética, deveria ter sido desfeita depois da dissolução desta, nos anos noventa. Mas um acordo foi firmado no qual a Europa, especialmente a França e a Alemanha deveriam impedir o avanço da Otan em direção ao Leste europeu, para não ameaçar a Rússia, potência nuclear. Do mesmo modo que os Estados Unidos não queriam de modo algum que a então União Soviética instalasse misseis ou outros equipamentos de guerra em Cuba, durante a guerra fria, e fizeram de tudo para evitá-lo. Na Europa houve o não cumprimento deste item, com o avanço da OTAN em direção ao leste europeu, fazendo que a Rússia se sentisse cercada, com a sua integridade ameaçada. 

Outros elementos que contribuíram para o conflito.

O golpe de 2014 na Ucrânia, com a ascensão de forças neonazistas que passaram a integrar as forças armadas ucranianas, cometendo massacres junto à população Pró Russa do leste da Ucrânia(3).

O isolamento da Rússia, após o fim da União Soviética 

A Ascensão da China, acabando com o poder único dos Estados Unidos, e obrigando a uma nova divisão geopolítica do mundo( 3).

IV A guerra de narrativas

“Houvesse jornalismo, o distinto público saberia que, numa ponta ha um autocrata insensível- Vladimir Putin- e noutra, políticos oportunistas que faturam em cima da indústria da guerra- como Joe Biden”(4)

No Brasil os jornais corporativos, servos dos interesses geopolíticos norte-americanos, têm tendência a mostrar horrores de guerra, cometidos pelos malvados russos, encabeçados pelo “desvairado” Putin.

Quem evoca, fora da mídia alternativa, os fatos que levaram Putin a atacar a Ucrânia, entre eles, o não cumprimento dos acordos de Minsk pelos europeus, pela OTAN, e pelos governos pos golpe de 2014  na Ucrânia? 

V Conclusão

“A Grande indústria da guerra fica escondida sob o manto diáfano da luta pela democracia contra as ditaduras. E os principais protagonistas ‘do nosso lado’, têm seus vícios e interesses ocultos.”(4)

O padrão do jornalismo brasileiro caiu muito depois que as equipes aderiram ao pensamento único de um chefe de redação, por sua vez atrelado à censura tácita exercida pelos donos dos meios de comunicação, que demitem aqueles que se afastam dos seus pregoes e interesses. Por isso Nassif fala daqueles que não mais informam mas “fazem paçoca”, seguindo todos a mesma receita. Vamos voltar ao nosso pesquisador Robson Cardoch(2) para nos afastarmos deste “pensamento único” que não informando o contexto e a complexidade dos fatos, tende a nos empobrecer, emburrecer, enganar. Cardoch dizia, já em 2015 sobre o conflito Rússia -Ucrânia “Antes que a Ucrânia se transforme numa espécie de novo Vietnam, não seria menos custoso, politica e economicamente, reconhecer a influência russa na região em troca da estabilização das relações comerciais com seu principal parceiro estratégico no setor de energia, óleo e gás natural?”

Bibliografia

1 A guerra da Ucrânia e a morte do jornalismo, Luís Nassif, Alcides Peron, jornal GGN de 20hs

2) Em 2015, EUA já apostavam em uma guerra na Ucrânia. Luís Nassif (comenta artigo de Robson Coelho Cardoch Valdez) jornal GGN

3 Um roteiro para entender melhor a guerra Rússia - Ucrânia, Jornal GGN, 26-02-2022

4 Guerra na Ucrânia: Diferenças entre fabricantes de paçoca e de noticias, Luís Nassif , jornal ggn

Por: Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE.


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