A NOVA LONDRES

0 Comments

 

Marcos Eugênio Welter.


A novidade é que, sobreposta a esta Londres do Big Ben e da cerimônia da Troca da Guarda, existe outra cidade, que não aparece naquele guia que você tem em casa. É a Londres da London Eye, da Milleniun Bridge, da Tate Modern, do novo pátio coberto do British Museum. Uma Londres novinha em folha, que ficou pronta em cima da hora para comemorar o milênio e ainda hoje parece recém-tirada da embalagem.

Em vez de cadeirinhas que balançam, a London Eye tem cápsulas: 32 delas, feito bondinho da Interpraias de Balneário de Camboriú, com um banco no centro e capacidade para 25 passageiros, Na metade do “vôo” o bondinho paira a 135 metros, o ponto mais alto de observação de Londres aberto ao público. Cada “viagem”consiste de apenas uma voltinha de 30 minutos redondos numa velocidade mais que suave- tempo suficiente para identificar todos os marcos da cidade: Big Ben, a Abadia de Westminster, o palácio de Buckingham, o Hyde Park, a Catedral de São Paulo, a Tower Bridge.

Os caçadores de atrações turísticas (e quem não é?) ganharam uma coleção de desculpas para voltar à cidade. Mas essa nova Londres é muito mais do que um monte de novos cartões-postais inaugurados quase ao mesmo tempo. A cara renovada de Londres está no ar – e pode ser captada com mais facilidade ao nível da rua do que do alto da London Eye.

Se você permite um pouco de política e economia nesse city-tour, a coisa toda pode ser simplificada da seguinte maneira: demorou, mas o arrocho dos anos Tatcher resultou em prosperidade; daí veio Tony Blair e capitalizou este momento com charme e inteligência, estimulando o talento e a inovação dos ingleses sob o slogam “Cool Britannia” ( algo como: a Inglaterra é bacana). No epicentro deste terremoto criativo está Londres, cada vez mais estabelecida como pólo de moda e design.

Até a mais ortodoxa das instituições londrinas, o pub, não escapou de um revisionismo. Primeiro porque milhares deles ( 15.000, mais exatamente) hoje são propriedade de japoneses e alemães. Essa internacionalizada se refletiu no astral destes lugares. Quem não tem o paladar treinado para as amargas  ales inglesas já pode escolher entre diversas marcas importadas de chope. Um quadro negro costuma informar os vinhos exclusivos da casa. E os pubs mais descoladinhos chegam até mesmo a oferecer comida inventiva – são os chamados gastropubs.  No caminho para o seu pub você vai precisar resistir a alternativas bem menos londrinas de matar a sede, é cada vez mais fácil topar com cafés ao estilo europeu, bares tradicionais (existe até uma rede deles, muito decente, chamada All Bar One) e expresso bars. Aliás, uma das melhores atrações da margem sul do Tamisa é Vinópolis, um museu-loja-parque de diversões dedicado aos vinhos do mundo inteiro.

Sim, é a globalização. Mas na sua manifestação mais benigna: aquela que globaliza o café expresso, o azeite de oliva extravirgem e os tintos australianos - um fenômeno benigno que, com um pouco de boa vontade, poderíamos chamar não de globalização, mas de californização.

Mas.....como? Você quer a velha Londres de volta? A Londres dos guardas de chapéu esquisito, do chá das cinco, da cerveja à temperatura ambiente, dos ônibus de dois andares, dos telefones públicos vermelhos, dos oradores inflamados do Hyde Park, do Museu de Cera de Madame Tussaud, dos punks de cabelos moicanos, dos táxis pretos? Não se preocupe. A sua Londres continua quase toda lá, no lugar de sempre. Você só não vai conseguir encontrar duas coisas. Uma: os táxis pretos. Por dentro eles continuam os mesmos, mas por fora viraram anúncios ambulantes, pintados com cores nada xiitas, como laranja ou roxo (ás vezes laranja e roxo). Outra: os punks. Salvo um ou outro exemplar de museu, não existem mais punks em Londres. O que é perfeitamente compreensível. Pensado bem, nesta Londres alto-astral de hoje, rebelar-se contra a sociedade é bem menos divertido do que relaxar e aderir completamente ao sistema.

Ninguém vai à Inglaterra esperando sol, sombra e água fresca: não espere temperaturas acima de 20 graus nem mesmo no verão. Se você não levar um guarda-chuva portátil, vai acabar comprando um por lá, porque chove o ano inteiro. O inverno, de novembro a fevereiro, é só para os mais estóicos: as temperaturas ficam na faixa dos 8 graus. No verão, entre junho  e agosto, elas sobem para 19 graus.

Por: Marcos Eugênio Welter - Trabalhou como Advogado e Funcionário do Banco do Brasil, 
Membro do Conselho Superior Internacional da Academia de
 Letras do Brasil.


You may also like

Nenhum comentário: