A FUGA

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 Maria Teresa Freire.


Uma festa elegante em um local refinado faz jus ao convite sofisticado enviado para um grupo seleto. O palacete que fora, outrora, de uma família importante e abastada, passou a ser um espaço para eventos chiques. Nesse, havia políticos, homens ricos, alguns muito ricos, cuja riqueza não se formara com o suor dos seus rostos, mas com atuações ilegais cuidadosamente planejadas para que não fossem descobertas pela polícia. Portanto, o requinte era aparente, demonstrando-se nas vestimentas, nas joias das mulheres, nos carros que entravam pela alameda e deixavam seus opulentos ocupantes. Em todos os detalhes que decoravam os salões em que a festa se realizava. 

A segurança era ostensiva. Com tantos marginais presentes, ou devo dizer empresários? Enfim, eram homens e mulheres considerados importantes na sociedade. Essa ‘importância’ é bem diferente do significado original da palavra. Entretanto, com esperteza e dinheiro é possível conseguir convite para frequentar a festa. Ainda mais que esses ‘figurões’ não comparecem em qualquer festa, a oportunidade era ideal para que alguma ação, talvez, violenta, se concretizasse.   

Assim aconteceu. Uma tentativa de assassinato. Em meio a uma multidão para que o assassino não fosse facilmente descoberto e a fuga facilitada pelo tumulto que ocorreria entre as pessoas. O tiro foi evitado por uma ação rápida de um defensor. Apenas um homem obrigado a concretizar o plano de outra mente perversa e vingativa. Este sim precisava ser aprisionado. Mas foge em meio ao turbilhão e à algazarra instalada. Mas não se evade sozinho. Arrasta junto uma mulher que poderá ser seu salvo-conduto naquela empreitada ardilosa e arriscada.  

Uma ordem de prisão! Em alto e bom som! Para todos ouvirem e não somente o alegado fugitivo. Não surte efeito. Entre uma ordem e sua concretização há uma grande diferença. Foi, na realidade, essa diferença que se concretizou. Ordem desacatada. Fuga em disparada. O malfeitor some por uma das saídas do grande salão, levando a refém. Uma corrida desesperada para escapar às mãos justiceiras que o penalizariam por crimes cometidos. Todavia, a refém não será levada sem reação.

O defensor, na ânsia de salvar a mulher e prender o mandante do assassinato observa ansioso e apreensivo o salão repleto de pessoas convidadas para a festa. Na escadaria à frente, vazia, a descida foi mais rápida do que seria se estivesse fugindo do diabo. Procurou por todo o hall uma saída mais próxima. Seguiu na perseguição desenfreada, correndo desenfreado pelos gramados e jardins. À sua frente mais de uma possibilidade de caminhos para a fuga. Escolheu aquele que o levaria ao meio de transporte menos suspeito. Uma barcaça no leito do rio, aguardando o transgressor. A raiva e a ansiedade lhe aceleravam as pernas que se movimentavam em uma rapidez que nem ele acreditava alcançável. Uma corrida desabalada.

Vislumbrou o homem que puxava a mulher debatendo-se para conseguir livrar-se das mãos de ferro que a impediam de correr livremente para bem longe daquela ameaça. De longe não conseguiria acertar o tiro no homem sem perigo de atingir a refém. E ela serviria de escudo para outras tentativas de proteção por parte do bandido.  Ao se posicionar em um nível mais alto, foi possível estar quase diretamente sobre eles. E a pontaria seria mais certeira. A mulher, percebendo sua posição, ataca seu agressor e raptor, fazendo-o desequilibrar e afastar-se um pouco dela, permitindo que o tiro que o alcançou lhe fosse fatal. 

Trêmulos, a mulher e o homem se abraçam O defensor cumprira seu papel, salvara a mulher que ansiosamente aguardara que adentrasse ao salão. Em um piscar de olhos viu-a em perigo de perder sua vida nas mãos de um homem sem escrúpulos. A raiva lhe toldou a mente e a única preocupação era salvar a quem amava. Todavia, essa mesma raiva instigou-o a reagir rapidamente. Sua reação destemida livrou a mulher daquela ameaça terrível. O pavor chegara ao final.   

Por: Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 
Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.



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