UMA DOENÇA SOCIAL

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 “Parte dos afetados foi vítima, iludidos que iam salvar o país, sequestrados mentalmente.” L. Nassif

Drª Virgínia Pignot.


 I Introdução: 8 de Janeiro

“Nos acampamentos havia senhoras rezadeiras, pessoas que tentavam comunicar com disco voador, junto com terroristas, e pessoas com fatores agravantes por serem juízes, militares, advogados.” L. Nassif

Uma semana depois de uma posse bonita e emocionante do novo governo, vivemos o traumatismo dos ataques violentos a prédios públicos com forte valor simbólico em Brasília.

Depois de 9 meses de investigações e inquéritos começaram os julgamentos e condenações dos atos do dia oito de janeiro. Os primeiros punidos são pessoas que participaram das depredações aos prédios e mobiliário, como o entregador que pegou 17 anos de prisão. A intenção exprimida no plano golpista era de criar o caos para justificar a intervenção do exército que tomaria o poder.

Essas condenações devem ser exemplares, para que cesse a longa tradição de golpes e de ataques à democracia no nosso país? Mas deve-se levar em conta a variação do grau de responsabilidade entre os diferentes participantes. Planejadores do poder executivo e militares, organizadores e financiadores do projeto de golpe, executores terroristas devem ter penas mais pesadas que os baderneiros recrutados nos municípios por 100 Reais, pra vir fazer quebradeira em Brasília. “Não podemos colocar todos no mesmo balaio”, diz L. Nassif.  

Neste artigo examinamos fatores que dividiram o país e que contribuíram para essa “doença social”, e buscamos meios que poderiam ao contrário, fortalecer a democracia.

Fatores que contribuíram para essa “Doença Social”

Para Luís Nassif os ataques e a tentativa de golpe são sintomas de uma doença social que se instalou no Brasil com o concurso de vários fatores, entre eles:

- O papel da velha Mídia e das redes socias, propagadoras desde 2005, desde o mensalão, de um discurso de ódio, de fake news, com omissão de informações que poderia contrariar projetos golpistas. Por exemplo, Moro já tinha sido julgado no STF por suspeição em 2013, com o voto do então ministro Celso de Melo, como se vê no documentário da TV GGN: “Sérgio Moro, a Construção de um Juiz Fora da Lei”, mas não saiu na Globo.

-O conluio do MPF, da P.F., com o então juiz Moro, utilizando o combate à corrupção na operação Lava Jato como meio para cometer ilegalidades. Queriam realizar projetos: de poder, como dizem em conversa apreendida: “Vamos varrer Lula e o PT da face da Terra”; e de enriquecimento pessoal ilícito junto com procuradores, como revelou relatório recente do TCU.

-Fraquezas ou incoerências institucionais, como as de membros do Supremo que seguiram  ilegalidades cometidas na Lava Jato, desmontes de direitos trabalhistas nos governos Temer e Bolsonaro, impeachment sem crime de responsabilidade, até perceberem o desastre que estavam ajudando a construir e agirem para garantir a lei e ordem.

-A atuação de Bolsonaro e de alguns militares do alto-comando estão sendo investigadas. O ex-presidente é apontado na delação de Cid como participante da tentativa de golpe do oito de janeiro, e aparece no depoimento de Walter Delgatti, como contratante do hacker, para tentar fraudar, semear dúvida em relação às urnas eletrônicas e anular as eleições. 

Reação saudável e pistas para fortalecer a democracia fragilizada

A rapidez e eficiência da reação do governo eleito fez as coisas entrarem em ordem. Policiais responderam com coragem à missão de manutenção da ordem transmitida pelo Ministro da Justiça e pelo Presidente. O afastamento do governador de Brasília, então suspeito de conivência com a tentativa de golpe, provocou o recuo dos governadores golpistas. Estes fatos nos deixam um ensino: autonomia e controle são dois pilares fundamentais da democracia exercidos simultaneamente. Com excesso de autonomia e sem controle, alguns dos poderes pagos pelo povo para servi-los trouxeram de volta o desemprego, a fome, a ameaça de autoritarismo. A tentativa de golpe do 8 de Janeiro foi contida, mas a democracia foi atacada, deixando “veias abertas”, necessitando cuidados intensivos.

Por: Virgínia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE


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