GUILHERMINO, MEU BARBEIRO

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José Vieira Passos Filho.


Guilhermino é meu barbeiro há mais de 55 anos. Ele mora no “Bananal dos Meus Avós”, o “País do Bananal”. Aos 81 anos continua cortando cabelo e fazendo barba, ofício que aprendeu com seu pai quando ainda era bem jovem. Nos últimos tempos sua clientela diminuiu, apenas poucos fregueses lhe são fiéis. Ele corta um cabelo por R$ 5,00 e barba pelo mesmo preço. Sentar-me em sua cadeira para cortar meu cabelo é uma satisfação. Vou sem pressa. São uns 45 minutos ouvindo ele falar sobre os mais diversos assuntos: a falta de chuva na região, o preço dos hortifrutigranjeiros, da carne de boi e do frango. Ele fala também do tempo que sua família chegou em Bananal, há mais de 70 anos, dos empregos dos filhos, sobre os netos, da mãe que faleceu com mais de 100 anos. Esgotado os assuntos locais e familiares ele passa a comentar as notícias que assiste nos noticiários da televisão, tais como: os políticos brasileiros e assuntos internacionais. Até sobre as atitudes do Papa Francisco, ele disserta. Sem contar com os elogios que me faz sobre a filantropia que pratico em Bananal. 

Na última vez que fui fazer cabelo ele comentou que, devido a redução da clientela, estava pensando em abandonar a profissão, mas foi enfático: “o cabelo do senhor eu ficarei fazendo até quando tiver condições físicas”. Respondi: - Guilhermino, quando você não puder mais cortar cabelo quero a doação da sua cadeira de barbeiro para colocar no nosso museu do Bananal. Vou prender no encosto da cadeira sua fotografia. Notei que ele ficou admirado e satisfeito. Nosso barbeiro Guilhermino merece ser lembrado, porque faz parte da história do nosso povoado

Lembro-me do tempo que a barbearia de Guilhermino sempre vivia cheia de clientes que vinham dos mais diversos recantos de nossa zona rural. Mas a população da região migrou, foi morar na área urbana de Viçosa, em Maceió ou para outras capitais do país. Também os tempos são outros. Apesar de que não esquecerem sua terra de origem, vêm sempre a Bananal para visitar os parentes. Numa ocasião, nos idos de 1975, eu estava contando cabelo, quando Guilhermino comentou que estava juntando dinheiro para comprar uma cadeira usada, mais moderna. Quando voltei para Maceió procurei seu irmão que tinha uma barbearia na Levada para me orientar sobre a compra de uma cadeira de barbeiro. Comprei e levei-a para Bananal. Foi com grade alegria que ele recebeu a “nova” cadeira. Fiz apenas uma exigência: enquanto ele tivesse condições de cortar cabelo eu não pagaria nada. Compromisso que está sendo cumprido até hoje.

Guilhermino, meu barbeiro, é de uma família antiga da região do Bananal. Seus pais, ainda jovens, migraram do Sertão de Alagoas e foram morar inicialmente na fazenda Conceição, depois mudaram-se para Bananal, terras na época de Neco Vital (tio de meu avô). São os Messias. 

Quero prestar minha homenagem, não só a Guilhermino, mas a todos que fazem parte dessa família ordeira, trabalhadora e amiga.

Por: José Vieira Passos Filho - Pres. da Academia Alagoana de Cultura, Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Sócio Efetivo da Academia Maceioense de Letras, 
Sócio Honorário do SOBRAMES (AL), Sócio Efetivo da Comissão Alagoana 
de Folclore. Presidente da ALB de Alagoas.


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