DRª Virginia Pignot.

Grande vitória do Trump 

Já falamos em artigo anterior (O Poder 9-11-24) das eleições americanas. Neste artigo vamos continuar a tratar do tema. Antes das eleições o Presidente Lula se posicionou a favor da candidata democrata, como os democratas apoiaram a democracia no Brasil se posicionando contra a tentativa de golpe bolsonarista do 8 de janeiro 2023. 

Em breve, o Brasil assumira a presidência do BRICS, em seguida Trump chega ao poder. Ele já anuncia uma guerra comercial com países exportadores, entre eles o Brasil, a China em primeiro lugar. Neste contexto de tensão e de disputa pelo poder entre a China e os EUA, se abre para o Brasil a oportunidade ter uma politica externa mais autônoma e equilibrada, nem submetida àquela dos EUA, nem submetida àquela do eixo euro-asiático. Isso Lula e Celso Amorim sabem fazer.

Um pouco de história

Quando Reagan assumiu, depois de sucessivas derrotas americanas, (no Vietnã, no Afeganistão; com choques do petróleo nos anos 70), ele iniciou uma reestruturação capitalista liberal conservadora. Esta passou por projetos de redução do Estado, de privatizações de telecomunicações, energia, pela desregulamentação ou abertura comercial e financeira, pela aproximação com a China, voltada para levar indústrias para fora dos EUA. Esta reforma econômica liberal conservadora republicana foi pautada pela doutrina do choque, pelo consenso de Washington, e trouxe como consequência endividamento, insolvência, desemprego, mas foi mantida depois pelos democratas Clinton e Obama. Em luta contra a deslocalização, Trump se elegeu em 2016 propondo trazer indústrias e emprego de volta ao país. Na eleição atual ele se posicionou, por exemplo, contra a permissão do estado para mudança de gênero de menores pelo acesso a tratamentos hormonais e cirúrgicos, e foi contra a legislação que permite a atletas transgêneros de sexo genético masculino poder disputar com atletas femininas, ganhando eleitores que concordam com ele.

Novo governo Trump projeto extremista 

O cientista politico Pedro Costa Jr. do Jornal GGN defende a tese que o governo Trump 2025 será pautado pelo que ele chama contrarrevolução liberal extremista. Este projeto inclui uma reestruturação administrativa do poder que daria poderes quase ditatoriais ao presidente, enxugando funcionários que cometeram crimes, que utilizaram a máquina estatal para pregar doutrinas falsas, até ai tudo bem. Com o risco do autoritarismo: “Os servidores que não forem exonerados, vão ter que defender a cartilha trumpista”, diz o cientista politico. 

Caminho livre para governar 

Trump foi eleito desta vez com maioria no Congresso, no Senado, e com parte da Suprema Corte indicada por ele. Sua politica protecionista intensificará a guerra comercial com a China, e com países exportadores como o Brasil, aumentando a taxa de produtos de importação, prejudicando países exportadores. Trump vai impor custos à Europa com a OTAN. O projeto do novo governo visa privatizações dos serviços sociais e dos cuidados: saúde, educação, previdência, vai intensificar ataques à Venezuela, ao Irã…  

Democratas foram prejudicados pelo apoio dado ao projeto republicano 

Os democratas erraram em manter as medidas liberais de Reagan que empobreceram os trabalhadores e fragilizaram a classe média. Em seguida, escolheram a candidata Hilary Clinton em vez de Bernie Sanders; este tinha uma plataforma para resgatar os trabalhadores empobrecidos com a globalização no combate contra Trump. Acusando Sanders de “radical”, os democratas jogaram seu eleitorado trabalhista nos braços de um candidato “radical” de direita. 

Brasil : União progressista contra a extrema direita

Para a Prof. da USP Amanda Harumy, face à ameaça da extrema direita, os governos progressistas da América Latina devem criar uma politica comum, um cordão antifascista latino-americano.  Podemos nos perguntar, com a lição da derrota democrata, se face à extrema direita, a esquerda não deveria “se radicalizar, ir às raízes” das suas propostas, sem conchavos com a direita.