SEDUÇÃO OBSSESSIVA

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Maria Teresa Freire.


Buenos aires. Há muito tempo. Ao assistir as apresentações de tango, apaixonei-me pelo ritmo e pelas letras das canções. Falam de amor sofrido, o tema que mais me chamou a atenção. Outros sentimentos também aparecem nas músicas e transparecem na dança. Em um dos famosos cabarés onde o tango é ‘milonga’, sedução, sofisticação e paixão, conheci uma mulher que foi convidada para subir ao palco e dançar, mas não era dançarina profissional. 

Entretanto, interpretou de tal maneira graciosa, sedutora e totalmente entregue à dança que chamou a atenção de todos, sobretudo a minha. Dirigi-me à mesa onde estava com um grupo de amigos. Um deles era um conhecido meu e apresentou-me a ela. Ao ouvir meu nome e sobrenome, ela perguntou: “da empresa com o mesmo nome?” Surpreendi-me com o conhecimento dela da empresa da minha família. “Eu sou o CEO dessa empresa”, respondi.

Conversamos um pouco, convidei-a para jantar no dia seguinte. A nossa conexão foi forte e imediata. Passamos a sair diariamente. O amor se fortaleceu e a paixão explodiu. Encontrávamo-nos todas as noites para ficarmos juntos e nos amarmos. Durante o dia, quando os compromissos de negócios permitiam, saíamos a passear pela cidade, visitando os vários locais históricos e turísticos. Até compras, pois a cidade oferece em quantidade e de todos os tipos. Eu me encantava com ela escolhendo produtos variados. 

Chegou o dia de voltarmos para o Brasil. Eu teria que contar a ela sobre minha vida. Casado, mal casado com dois filhos. Uma adolescente que estudava no exterior e uma garotinha de oito anos. A mãe, minha esposa era uma mulher de temperamento tranquilo, até passivo. Nosso casamento aconteceu, mas não por amor. Vivíamos placidamente. Até eu conhecer Verônica. Com ela eu tinha a paixão a flor da pele, sempre a desejava só de pensar nela. Todavia, ela me manipulava com o amor, pois seu desejo verdadeiro era se vingar do pai, que fora levado ao suicídio ao ver sua empresa falida, com perda de todos os bens, falência provocada por minha empresa. 

Eu me apaixonei loucamente por Valéria, a ponto de esquecer tudo, ou melhor quase tudo. Da minha empresa ainda conseguia administrar, até por que tinha um excelente secretário, que me dava um suporte para todos os compromissos, as decisões e me punha ao par do que acontecia. O resto eu não dava atenção, pois o meu desejo era estar com Valéria sempre que possível. Em casa, minha atenção era somente para minha filha pequena. Nada mais me interessava. 

Valéria era assessorada por um advogado amigo de infância que a amava. Um bom homem e um advogado competente. Ele era ético tanto pessoal como profissionalmente. Valéria entrou com um processo contra mim para reaver seus bens, e receber a indenização devida. Ela tinha razão, pois seu pai fora incriminado por fraude fiscal injustamente.  Os nossos advogados e contadores armaram para ele. 

Com todas as provas que Valéria tinha sobre uma ação corrupta totalmente armada e falsa, para ficar com suas ações e patrimônio, além de um processo bem fundamentado, eles ganhariam a causa e nós teríamos que realizar o ressarcimento de toda a nossa apropriação. Eu ofereci um acordo devolvendo tudo que havíamos roubado, mas queria seu perdão e seu amor. Ela aceitou. Quis tudo para me deixar na bancarrota como sua família, mas aceitava ficar comigo. Que incoerência e loucura de nós dois. Era realmente uma obsessão que tínhamos um pelo outro, como se estivéssemos entranhados na pele, correndo no sangue, embotando nossa mente, controlando a nossa vontade, nossos desejos, nossas ações. 

Todavia, quando ela soube da gravidez de risco da minha esposa, que poderia levar à mote ela e o bebê (um menino), ela retrocedeu. Não queria o mal de pessoas inocentes. Queria seu patrimônio que lhe fora tirado da pior maneira. A gravidez de minha esposa fora descoberta enquanto eu estava em viagem. Eu nem sabia, na época. Como mal falei com minha esposa ao retornar da viagem, ela nem teve chance de me contar. Fiquei sabendo quando ela passou mal, foi levada ao hospital e me chamaram. O médico explicou todo o estado de saúde dela. 

Então, em face dessa nova situação, Valéria decidiu reaver somente parte dos bens e não ficar comigo. Deixou-me ir, ou voltar para minha família. Eu queria Valéria desesperadamente. Mas não podia abandonar totalmente minha família. Minha mulher e filhas não tinham culpa das vidas infelizes de seus pais. 

Encontramo-nos para uma conversa final. Os dois desolados. Ela olhou-me com imensa tristeza e disse: “esse amor obcecado terá seu fim. Vou embora. Tenho quem me ame com afeto, carinho, cuidados e calma. Você é responsável por uma família. Não o tirarei dela”. Angustiado, perguntei: “é o fim do nosso amor? Acabará assim?” Valéria me respondeu tristonha, porém realista: “não, mas a obsessão sim”.

Saiu andando, ao encontro de quem sempre esteve ao seu lado, cuidando dela. Ela não teve coragem de arrasar com minha vida familiar. Acabou com o amor vivo em meu coração. Conheci o amor forte, intenso, que abalou a minha estrutura, que me fez viver intensamente. Não a esquecerei jamais. Pensarei nela em tantos momentos. Somente uma eterna lembrança, uma imensa saudade. Não pude ter o que mais quis na vida. Não, naquele momento. Poderia ter no futuro?

Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 
Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.
Presidente da ALB - Paraná.



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