Editorial: reflexão sobre a Via Mangue

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Para que os deslocamentos dos recifenses fiquem mais ágeis, vai ser necessário aprofundar as ações de reengenharia do trânsito



O Recife ganha a Pista Leste da Via Mangue num momento que a mobilidade urbana liga-se cada vez mais à qualidade de vida. Mas também à maior produtividade das pessoas. Uma cidade bloqueada reduz o tempo de vida familiar e social. E diminui o tempo de vida laboral e intelectual. É certo que não se pode reduzir a mobilidade nas cidades às obras viárias. Até porque elas jamais acompanharão o crescente número de pessoas em deslocamento nos veículos. Há que criar as condições para que a matriz do transporte possa ser mais equilibrada. Se outras cidades conseguiram ampliar o uso do transporte coletivo e de meios alternativos como a bicicleta, claro que uma cidade plana como o Recife também poderá fazê-lo. Mas, enquanto essas condições não amadurecem, é estimulante ver pronta uma obra viária que vai ajudar a desafogar o trânsito da nossa Zona Sul.

Para que os deslocamentos dos recifenses fiquem mais ágeis, vai ser necessário aprofundar as ações de reengenharia do trânsito sincronizando semáforos e sentidos de vias. Em alguns casos, eliminando controles excessivos de velocidade. O reexame dos redutores eletrônicos ajudaria a desafogar o trânsito e a diminuir a irritação cotidiana dos motoristas submetidos a multas constantes mesmo numa cidade em que o redutor de velocidade já é o próprio trânsito engarrafado. Poder-se-ia ao menos ampliar as velocidades limites desses redutores, sabido que as pessoas tendem a diminuir suas velocidades muito além do que a lombada exige e, assim, a causar mais engarrafamentos.

Sem essas medidas de reengenharia, corre-se o risco de transferir o congestionamento para um ponto mais adiante dos percursos. Nesse caso do sistema de circulação da Zona Sul, há risco de concentração excessiva na antiga Ponte do Pina. Sobre ela, pesará a pressão do tráfego vindo tanto da via leste da Via Mangue quanto da Av. Boa Viagem. Por isso, no mesmo instante em que o recifense celebra a nova Pista Leste, deveria começar a se mobilizar pela duplicação da Ponte do Pina. Também precisamos não descuidar de continuar perseguindo outras intervenções viárias, mas sobretudo a melhoria das condições para o uso mais amplo dos outros modais de transporte, sobretudo os coletivos.

Em meio ao regozijo também cabe a reflexão sobre as idas e vindas da Via Mangue. Uma primeira lição é a de que os três entes da federação precisam agir em harmonia para superar os obstáculos burocráticos que se antepõem a qualquer obra pública no Brasil. Do custo total da obra de R$ 431 milhões,  R$ 412 milhões serão suportados pelos recifenses, que têm a obrigação de pagar o empréstimo de R$ 331 milhões à Caixa Econômica, além dos R$ 81 milhões de recursos diretos da PCR. O aporte direto de R$ 19 milhões pela União soma-se à colaboração na viabilização do empréstimo da Caixa Econômica. Outra lição é a constatação de que a sociedade precisa ser ouvida e os governantes devem ter a humildade de remodelar os projetos em decorrência do debate.

O projeto da Via Mangue foi idealizado e executado em várias administrações da Prefeitura do Recife. A concepção original da gestão Roberto Magalhães foi adaptada aos novos influxos surgidos na gestão João Paulo, que reformulou o projeto, realizou as obras iniciais do túnel e de algumas vias de acesso, bem como promoveu as adaptações de moradia para a população do entorno.  A realização das obras de terraplenagem e a conclusão dos habitacionais executadas na gestão João da Costa também implicaram adaptações que foram dando novo contorno ao projeto. Cabe o alerta, todavia, que naquele momento, a ausculta foi incompleta e o planejamento foi insuficiente. Tanto urbanistas quanto engenheiros têm realçado que a engenharia mais apropriada seria a construção de um túnel passando sob as avenidas Herculano Bandeira e Antônio de Góes, com a duplicação da Ponte do Pina para fazer a ligação com o Viaduto Capitão Temudo. Finalmente, a gestão do atual prefeito Geraldo Julio, ao concretizar a construção das duas pistas e implantar as soluções de engenharia de tráfego, também aportou as adaptações que ainda eram possíveis na execução do projeto herdado para adequar-se às exigências da sociedade.

Por: Diário de Pernambuco.


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