HOMENAGEM AO MEU PAI

0 Comments
José Nivaldo Júnior.


O médico, pecuarista e escritor José Nivaldo tem recebido de Surubim, terra que ele escolheu para viver, amar, criar os filhos e enterrar para sempre o seu coração, muitas e justas homenagens.

Porém, memória é como a flor, tem que regar sempre.

Por isso, vou dedicar esse espaço a alguns tópicos do belo texto que a escritora Fátima Quintas, sua e minha colega na APL dedicou à sua vida e obra, durante homenagem em no já distante ano de 2003.

Abre aspas.

Unge-me como bênção celestial debruçar-me sobre a grandeza desse escritor pernambucano, plural e único. Mergulho na sua estética e na sua plástica literária, incrustadas no universo regional e universal. Mas, mergulho, sobretudo, no homem, sinônimo de bondade e paixão em tudo que faz e em tudo que diz.(...)

Eis a pintura de José Nivaldo. O seu coração, o seu cofre, os seus portos, os seus tombadilhos, os seus lugares. Surubim. Recife. O mundo. (...)

Entre o dia e a noite, entre a vida e a morte, José Nivaldo canta o seu pranto ou a sua própria história. Cenários lúdicos e, por vezes, hilários. Não lhe faltam o toque de humor à Charles Chaplin, a reversão de uma dureza aparentemente sem fim, o lado oculto de uma medalha de face dupla. A veia otimista do sertanejo, que jamais duvidou da felicidade, parece eternizar-se na construção da sua narrativa. E a felicidade lhe tem um nome: Neise, companheira inseparável, na festa e nos intervalos da festa, os sete filhos, nascidos de um amor perene, os amigos a quem devota os lírios de um jardim.(...)

Cabe-lhe a porção mágica de transformar o mais simples acontecimento da rotina em semente germinal. Prosa literária, alcatifada de poesia, sabor da palavra, com o halo de messe, textos e contextos simples e mundanos pululam por entre personagens humaníssimos. Ficção e realidade, num mesmo plano de beleza. A estética de um dizer, com destino atávico. E o pensamento, a doar-se àqueles que não têm voz, ou cuja voz silencia diante da hecatombe da seca ou do holocausto da pobreza. Não, ao gesto artificial; sim, ao gesto símbolo, bússola de luta fremente. Som, imagem, arte. Juntos, na celebração do espaço e do tempo. Do jeito de José Nivaldo: “No correr da vida, não passa uma vírgula de tempo sem medição.(...)

O escritor, José Nivaldo, alcança o paroxismo da letra-viva. A dimensão abstrata e quase etérea do intangível abraça-o por inteiro. O que os olhos não enxergam, os sentimentos intuem.(...)

Do sertão mais longínquo “de areia seca rangendo debaixo dos pés, de paisagens duras doendo nos olhos, de mandacarus, de bois e cavalos angulosos, de sombras leves como umas almas-do-outro-mundo com medo do sol”, aos plácidos mares de um oceano Pacífico ou Atlântico, o homem é o mesmo — igual ao mais igual dos semelhantes. Com prazeres e dores, euforias e reveses, mansidões e rancores. Mas, sobretudo, com a força da esperança. A esperança que você sempre me ensinou, com seu riso largo, sua espontaneidade visceral, sua franqueza de menino. O menino traquino, de olhos trelosos, que desde cedo cultuou o amor. E sem tergiversar, conclamou: Esperança morre? Não morre nunca. “Pode ficar em quase nada, mas fica sempre um fiapo solto.”

E com esse trecho aspeado, fecha aspas.

Obrigado em nome de toda a família, brilhante escritora Fátima Quintas.

Por: José Nivaldo Junior - Publicitário, Escritor, Membro da Academia Pernambucana de Letras e Autor do Best-Seller internacional “Maquiavel, o Poder”




You may also like

Nenhum comentário: