INHOTIM, MINAS GERAIS, ONDE A NATUREZA, O BELO E A ARTE ESTÃO SEMPRE JUNTAS

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Segundo a sabedoria popular, o sábio viaja e o louco vagueia. Nada mais preciso quando partimos em direção ao desconhecido e encontramos, ao longo da estrada, as maravilhas que a natureza nos oferece. Como tive a oportunidade de constatar em Inhotim, parque ecológico que o Estado de Minas Gerais vem preservando com tanto carinho.



Inhotim tem, no dizer dos guias de turismo, um museu a céu aberto cujo acervo é enriquecido pela natureza. O local em que hoje encontra-se o jardim botânico do parque costumava ser uma fazenda, que, em 2002, recebeu novas “pinceladas”, chamando a atenção do público, atraindo novos visitantes e recebendo, em 2010, o título de Jardim Botânico.
A arquitetura, arte saída das mãos do homem, fez nascer um rico espaço onde não faltam água e vegetação. Projetos importantes como a Galeria Adriana Varejão, desenhada por Rodrigo Cerviño Lopez, atraem a atenção de personalidades icônicas do cenário arquitetônico mundial. 
Pode-se dizer que ao fragmentar a visitação em diferentes pavilhões, construídos em momentos diversos, torna-se um parque de exposições que propõe uma nova maneira de ver o mundo contemporâneo, como diz seu idealizador e empresário da mineração, Bernardo Paz, que, em 1980, comprou uma gleba em Inhotim, pequeno vilarejo nas proximidades de Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte. Conta-se que ele se encantou com o tamboril, árvore centenária ali plantada, encantamento que cresceu ao conhecer Roberto Burle Marx, que ofereceu algumas ideias para o jardim que começou a visitar em 1984. Se Burle Marx é o patrono do paisagismo de Inhotim, o querido e então falecido Tunga, como era conhecido Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, figura emblemática no cenário artístico nacional, foi quem convenceu Paz nos anos 1990 a tornar-se o maior colecionador de arte contemporânea do país. 
Hoje o empresário tem sua atenção maior voltada ao museu, considerando colecionar obras de arte uma “vaidade” que já não dispõe. Comprou todos os terrenos vizinhos e abriu Inhotim ao público, como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) - atualmente o lugar é o mais importante centro de arte contemporânea do país e, de acordo com os especialistas, um dos mais significativos do mundo, contando com 500 obras de artistas como: Cildo Meireles, Chris Burden, Dan Graham e Olafur Eliasson, recebendo anualmente 400 mil visitantes.
Porém, Inhotim ainda não é autossustentável, contando com cerca de mil funcionários, e as despesas com programas socioeducativos chegando a 35 milhões de reais por ano, Paz chegou a vender uma empresa por 250 milhões de dólares para investir no parque.

PERFIL DO EMPREENDEDOR


Bernardo Paz, 66 anos, nascido no bairro de Sion, localizado na cidade de Belo Horizonte, provém de uma família de classe média, onde o pai era engenheiro e a mãe dona de casa. Começou a vida profissional trabalhando num posto de gasolina do pai, com o intuito de aprender a lidar com o público. Vendeu roupas masculinas para boutiques, operou no mercado financeiro e não cursou faculdade, mesmo passando no vestibular. Fez fortuna ao usar parte da herança de uma de suas mulheres que era filha de um banqueiro para comprar uma empresa de mineração falida, “trabalhava 20 horas por dia”, contou. O preço do minério foi às alturas e ele ficou rico ao ser o primeiro a vender para a China em 1985. Casou-se sete vezes e teve sete filhos.
Todos da família ficaram surpresos quando informou a decisão de transformar sua coleção em um museu com 12 galerias aberto ao público. Assinale-se que o pavilhão de Adriana Varejão, primeira obra de Inhotim, é o ponto alto da integração da arte contemporânea com a arquitetura. O pavilhão, segundo os entendidos, mudou o paradigma das construções em Inhotim. 
Em todos os pavilhões o exposto causa surpresa aos visitantes, pois a ideia é viabilizar aquilo que o artista imaginar. Por exemplo, um artista disse que queria instalar um trabalho que já havia utilizado em outra performance e imaginava colocar um trator dentro de uma cúpula que ficasse como uma mata de reflorestamento e tivesse um caminho com minério do meio da mata, trata-se da obra “De Lama Lâmina (2009), Mathew Barney”.
A Galeria Cosmococa, reunião de cinco trabalhos audiovisuais de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida, criados em 1973, foi construída numa antiga área de pasto com pouca vegetação. É uma espécie de labirinto, onde as cinco salas de tamanhos diferentes, revestidas de pedras, estão isoladas entre si e o vazio entre elas permite a circulação e os acessos. Em frente à Cosmococa deve ser construída agora a Grande Galeria, um projeto ambicioso que agrupará obras de artistas diversos, conta com quatro mil metros quadrados de área construída, o que praticamente dobra a área expositiva. 
Para a maioria é um privilégio trabalhar em Inhotim por ter a liberdade de participar de projetos e programas interessantes. A escultura Beam drop Inhotim (2008) do norte-americano Chris Burden é formada por vigas antigas que foram jogadas numa piscina de concreto fresco. Por enquanto o gargalo do desenvolvimento de Inhotim é a infraestrutura, e, nesse sentido, o restaurante Oiticica foi um avanço. Construído em quatro meses desafogou a demanda dos visitantes por alimentação. 

MAIS DETALHES


Em Inhotim a preocupação é abrigar arte e, ao mesmo tempo, negociar sua relação com a paisagem, valorizando ambas, como é o caso do Som da terra, a arquitetura foi criada por Doug Aitken e é parte integrante da obra. Para ouvir o som de microfones colocados a 200 metros de profundidade, ele desenhou um pavilhão circular de vidro, revestido com uma membrana que permite transparência total a 90 graus com a tangente e se torna mais opaca à medida que a visão se faz mais oblíqua. Como o espaço é cilíndrico, apenas um ponto dá ao visitante a visão panorâmica de Inhotim ao longe, e do jardim de pedras de minério que o rodeia: o centro com o buraco de 200 metros abaixo e um pequeno óculo acima. Em resumo, uma arquitetura feita para que um único ponto permita o contato com a paisagem – horizonte, zênite e as profundezas de onde vem o som. O mais mineiro desses edifícios é a Galeria Miguel Rio Branco, projetada por arquitetos associados. O programa em tudo se parece com a Galeria Varejão.
A Galeria Dóris Salcedo é um pequeno volume prismático pintado de branco na fronteira com o núcleo original de Inhotim, um paisagismo exuberante criado pelo homem e um dos eixos de expansão com mata nativa. Trata-se do trabalho autoral de Paula Zasnicoff Cardoso junto com o arquiteto colombiano Carlos Granada, parceiro de Dóris Salcedo. A construção foi feita para abrigar Neither, que Dóris criou após visitar o campo de concentração Auschwitz, na Polônia. 
Quanto ao centro de Burle Marx, foi criado para sistematizar o caráter formador do Instituto Inhotim e potencializar a vocação educacional de suas atividades conectadas à comunidade de Brumadinho, oferecendo programas de formação e qualificação profissional nas áreas de atuação de instituição. O acesso se dá por um anfiteatro. Com apenas um pavimento o centro educativo conta com ateliers, biblioteca e auditório com 210 lugares. Nesse local uma praça elevada com espelho d’água ajardinado abriga a obra Narcissus Garden Inhotim (2009) da artista japonesa Yayoi Kusama. São 500 bolas de aço inoxidável que flutuam ao espelho d’água e se movimentam ao sabor do vento. Esse trabalho foi apresentado pela primeira vez nos canais de Viena, em 1966, como uma forma de protesto contra a Bienal local.
Vale ainda ressaltar outros espaços criados, a exemplo da Galeria Lygia Pape, que foi criado por Thomaz Regatos e Maria Paz, idealizada para abrigar uma das principais obras da artista; a Galeria Tunga, que começou a ser desenhada em 2011 e abriga diversas obras do artista; o pavilhão Marilá Dardot, criado para abrigar a obra “A Origem da Obra de Arte”, apresentada na primeira exposição em 2002 no Museu de Arte de Pampulha, e composta por vasos de cerâmica em forma de letras; o pavilhão Carlos Garaicoa abriga a obra a hora juguemos a desaparecer (II) - 2002, sob a forma de construções notáveis como o capitólio e a torre eiffel. As velas permanecem acesas e são filmadas em câmeras de vídeo, cujas imagens são projetadas numa tela.
Em suma, Inhotim é o resultado do sonho de vários empreendedores que apostaram na harmonia entre a arquitetura e a natureza, sendo assim projetada além do tempo, deixando espaço para novas propostas, a exemplo da praça da liberdade, inaugurada em 2009. 











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