Mudança de protocolo e recusas das famílias atrapalham transplantes em Pernambuco

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Saldo desses gargalos é a fila que se forma na espera por um órgão, que acumula 990 pessoas atualmente



Com entraves, doadores são perdidos ou nem mesmo triados
Foto: Fotos públicas

Alerta sobre o cenário de transplantes em Pernambuco. O acompanhamento quadrimestral realizado pela Central de Transplantes do Estado (CT-PE) verificou decréscimos quando comparados os resultados de janeiro a abril de 2017 com 2018. Se no ano passado foram realizados 561 procedimentos, agora são 540 - 3,7% a menos. A queda tem como fator contribuinte o aumento das recusas familiares, que já ultrapassaram as de doações. Até agora 52% (53) das famílias optaram por não fazer a doação contra 48% (48) que decidiram positivamente.

Outro aspecto que vem dificultando os procedimentos foi a mudança no protocolo de diagnóstico de morte encefálica, que passou por uma atualização do perfil profissional. O saldo desses gargalos é a fila que se forma na espera por um órgão, que acumula 990 pessoas atualmente.

A coordenadora da CT-PE, Noemy Gomes, comentou que as dificuldades para reorganizar os fluxos para o diagnóstico da morte encefálica impactaram bastante no sistema de transplantes. A atualização do protocolo, que antes condicionava apenas aos médicos neurologistas o diagnóstico, abriu o leque de profissionais para poderiam atestar o quadro. Contudo provocou dúvidas entre quem estaria apto a atestar com segurança a morte.

“Isso gerou toda uma mudança de rotina, uma mudança de entendimento dos profissionais médicos. Com a atualização do protocolo, o Conselho Federal de Medicina (CFM) estabeleceu, para fazer esse diagnostico, o médico que tem um ano de experiência com pacientes em coma, ter feito dez exames de morte encefálica, ter visto dez exames de morte encefálica ou ter feito o curso especifico”, explicou a coordenadora mencionando como funcionam as novas regras. Como não era conhecido quantos profissionais se encaixavam nesse perfil, a CT-PE e o Conselho Regional de Medicina (Cremepe) tiveram que fazer uma força-tarefa para identificá-los em vários hospitais da rede.

Nesse processo de identificação e capacitação dos médicos para atestar a morte encefálica alguns possíveis doadores foram perdidos e outros nem mesmo triados. Na ponta, as famílias de possíveis doadores também foram atingidas pelas incertezas.

“As coisas agora já estão se acomodando. As pessoas já entendem a nova resolução. Isso traz mais tranquilidade ao processo. Acima de tudo, esse aumento da negativa familiar reforça a ideia de que temos que nos capacitar sempre”, disse Noemy Gomes. Quando a gente tem profissionais conhecedores do processo de doações e diagnóstico, o processo é conduzido com muito mais tranquilidade e a família se sente muito mais confortável para exercer o direito da doação”, completou a coordenadora.

O cenário negativo dos primeiros quatro meses do ano já vem sendo revertido, segundo ela. Em maio, por exemplo, 20 famílias já optaram pela doação, o maior número mensal registrado em 2018. A coordenadora reforça que a doação, apesar de acontecer em um momento de dor, é um ato de amor e solidariedade que salva muitas vidas.

Transplantes


Dos 540 transplantes realizados até abril deste ano, 264 foram de córnea (redução de -14% em relação a 2017), 143 de rim (+ 24%), 73 de medula óssea (+4%), 42 de fígado (+2%) e 18 de coração (-14%). Em 2018 não foram realizados transplantes de rim/pâncreas, fígado/rim e válvula cardíaca. Em 2017 aconteceram três transplantes de rim/pâncreas, um de fígado/rim e dois de válvula cardíaca.


Por: Folha PE.


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