APARÊNCIA NÃO ME ENGANA ...

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Caminho rapidamente. Em uma alameda escura, ladeada por árvores frondosas cujas sombras dançam, acompanhando o baloiçar dos galhos pelo vento, criando movimentos que parecem criaturas fantasmagóricas. Estou ansiosa para chegar ao ponto de encontro. Sempre furtivamente.


Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 

Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.



Nasci em uma família rica. Com vastos recursos, meus pais sempre me ofereceram uma vida muito confortável, plena de benefícios: excelentes escolas, festas elegantes, viagens, vestimenta finas e tudo que eu desejasse.  Um cavalo!  Da melhor raça, certamente. Sempre quis. Pedi como presente de aniversário dos meus 17 anos. E ganhei! Uma linda égua branca (puro-sangue árabe), de dois anos.  Foi entregue pelo cavalariço que cuidava dela na fazenda onde nasceu.  Um rapaz bonito, bem jovem, um pouquinho mais velho do que eu. 

Ele voltou outras vezes para acompanhar o treino da égua e sua adaptação a mim. E nesse vai e vem apaixonei-me por aquele homem vigoroso, alto, risonho e extremamente gentil comigo. Tinha um dom especial com os cavalos. Meu pai pediu que treinasse os outros cavalos que tínhamos. E assim eu o via todos os dias.  Conversávamos apenas assuntos relacionados com os cavalos.

Como isso não era suficiente, encontrávamo-nos uma vez por semana, à noite, e ficávamos juntos em locais variados. Não podíamos namorar abertamente, eu com 17 e ele com 21 anos. E por que, eu perguntava. O que a sociedade comentaria da filha de um bem sucedido cirurgião cardiovascular, dono de uma das mais famosas clínicas do país, estar namorando um reles cavalariço? A maldita aparência social a ser mantida! Ele poderia ser um homem de caráter e personalidade ilibados, mas não adiantaria. Eu estava impotente. Meu pai descobriu os encontros furtivos e fui proibida de vê-lo. Ele não voltou mais à nossa propriedade. Nós não tivemos nenhuma chance. De nos explicarmos e mantermos a nossa relação.

O preconceito social diminui um pouco quando a pessoa é bonita. Que falsidade! A aparência elegante e requintada determina a primeira impressão e o primeiro interesse. Se não houver beleza interior, a externa não alimenta amor, relacionamento e amizade. Com o intuito de afastar-me, meu pai enviou-me para fazer um curso de Belas Artes no exterior. Minha tia que morava em Paris, recebeu-me de braços abertos e cuidou de mim como sua filha. Cursos, eventos, compromissos, roda de amigos artistas envolveram-me por completo e lá fiquei por quatro anos. Sem esquecer.

Voltei com um diploma da  École Nationale Supérieure de Beaux Arts. Retomei minha vida. Como artista plástica, envolvia-me com atividades profissionais nesta área. Fui dar aulas de pintura e organizei exposições solo e coletivas, apoiando novos pintores. Também dediquei-me a projetos sociais, ajudando crianças a desenvolverem seus talentos relacionados às artes. E assim segui com as minhas atividades, todavia o coração vazio não conseguia ser preenchido.

                Os cavalos continuaram importantes na minha vida. Especializei-me em pintá-los em óleo sobre tela o que me valeu alguma fama. Uma noite, em um grande leilão de cavalos, quem encontro?  Praticamente dei de cara com ele. O jovem por quem me apaixonara. O homem que continuava sendo o amor da minha vida! 

Mais bonito, mais maduro. Conversamos. Não conseguimos evitar a aproximação. A atração era mais forte. Um veterinário de animais de grande porte, especificamente cavalos. Não poderia ser diferente. Ele sempre teve um jeito especial com aqueles animais. Também era proprietário de uma clínica especializada para tratar os equinos.  Solteiro, assim como eu.

Como as pessoas se apegam à aparência que o sucesso econômico pode permitir. Roupas caras e chiques; acessórios de marca. Como a aparente postura de ‘vencedor’ que o sucesso profissional também permite, engana a muitos. Como se essas características determinassem o valor de alguém. Todos, sobretudo meus pais, esperavam que eu me casasse com um dos médicos que frequentavam a Clínica. Interesseiros! Casar com a filha do chefe seria vantajoso. A aparência nunca me engabelou. Honestidade, sinceridade, dignidade não deveriam ser mais importantes?

Foi o nosso interesse por cavalos que ocasionou nosso reencontro. Um olhar. Um reconhecimento do que havia acontecido. E o amor antigo aflorou com toda força. Retomamos nosso relacionamento. Agora, firmes, decididos e donos da nossa felicidade. Casamo-nos! Pelo amor que sempre tivemos um pelo outro. Que nunca foi substituído e muito menos esquecido.

A aparência e o sucesso econômico e profissional eram nossos aliados. Que ironia! Tivemos nossa segunda chance. Muitos não a tem. E soubemos reconhecer que fomos vencedores frente à falsidade que apoia o valor à aparência.

Por: Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 

Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.




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3 comentários:

  1. Estou honrada com a publicação da minha crônica no seu blog! Adorei! Obrigada querida Maluma Marques, maravilhosa jornalista e amiga do coração!

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  2. Adorei sua crônica e história!👏👏👏💖🤗

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  3. Como me fez bem o final feliz.
    Já estou cansada de tanta tragédia, tristeza, afastamento.
    "A felicidade é simples; as vezes a deixamos passar de tão simples que é." Rubem Alves provavelmente teria aplaudido a sua estória, assim como eu
    👏👏👏🌹

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