PAULO FREIRE VIVE

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“A educação como prática de dominação mantém a ingenuidade dos educandos para que se acomodem à opressao.” (1)

Virginia Pignot.

I Introduçao


Este ano do centenário do nascimento do pedagogo e educador Paulo Freire foi marcado por muitas comemorações e atos no Brasil e pelo mundo para lembrar a obra viva do terceito autor  da area das ciências humanas mais citado no mundo. (2)
O professor recebeu 29 titulos de doutor Honoris Causa,  “foi reverenciado pela Unesco, a Organizaçao das Naçoes Unidas para a educaçao, Ciências e Cultura ,com o prêmio Educaçao para a paz, em 1986. ” (3)
Aqui no Brasil, ele ganhou fama em 1963, quando conseguiu alfabetizar em pouco tempo agricultores analfabetos em Angicos, no Rio Grande do Norte, com um método criado por ele, em ação então financiada pelos americanos, no programa “Aliança para o Progresso”. Ele mostrou que não tínhamos modelos adequados para a nossa realidade. “Ele foi o primeiro a pensar em um método educacional voltado para a realidade brasileira”.(4)
Depois desta experiência exitosa ele foi chamado a colaborar com o governo João Goulard. Mas as oligarquias acostumadas a se manter no poder pelo “voto de cabresto”, não apreciaram que a população mais pobre tivesse chance de escapar à dominação. Com o golpe militar que tirou Jango do poder, o educador foi chamado de comunista, foi preso, e depois partiu para o exílio. Vamos ver nesse artigo um pouco da história de vida e da obra deste grande pernambucano festejado no Brasil e no mundo, mas que foi chamado de “energúmeno” pelo atual presidente da República do Brasil.

II Um método educacional voltado para a realidade brasileira


Em 1963, quarenta por cento da população brasileira era analfabeta. O método criado por Paulo Freire parte dos conhecimentos e da realidade vivida pela população alfabetizada na hora de ensiná-las a ler e a escrever, não utiliza livros de alfabetização infantil para adultos. Seu método reforça a utilização do conhecimento prévio dos educandos, diminui a distância entre estes e os educadores, e acaba socializando a educação. Os 300 alunos da experiência de Angicos acederam à alfabetização em 45 dias. Paulo Freire considera e utiliza o conhecimento que as pessoas têm na hora de ensiná-las a ler e a escrever. 
A convite do Presidente Joao Goulart, Freire elaborou um projeto de alfabetização de âmbito nacional, que previa em 1964 a instalação de vinte mil círculos de alfabetização, que deveria alcançar 2 milhões de pessoas. O golpe militar impediu que esse projeto se instalasse. Nos 16 anos de exílio, e após o retorno ao Brasil ele continuou a se dedicar à sua obra. Ele esteve no Chile, foi professor convidado na Universidade de Harvard nos EUA, ensinou e praticou na Universidade de Genebra. “Ele estudou o conteúdo didático, que pode servir de instrumento de opressão, quando se estabelece numa relação entre colonizador e colonizado. Contra a manipulação de uma cultura dominante que pode impor uma prática freando a criatividade do aluno oprimido, Freire propõe o dialogo como canal de libertação da opressão imperante.(2)
Na volta do exílio, Freire ensinou na USP. “Em 1989 ele assumiu a pasta de secretário de Educação da Prefeitura de S. Paulo, sob a gestão de Luiza Erundina, então no PT. Com o apoio de inumeros educadores, promoveu uma mudança radical na educaçao no municipio, transformando-a uma prioridade.”(2)
A professora da USP Maurilane de Souza Biccas lembra que “sua prática de educador e consultor inspirou e tem inspirado inúmeras pesquisas acadêmicas e praticas pedagógicas que são realizadas no Brasil e em vários países do mundo.”(4) Ele lançou mais de trinta livros. A Pedagogia do Oprimido foi traduzido e publicado em mais de vinte idiomas.  “Ele mostrou que não tínhamos modelos adequados para a nossa realidade. Não podemos confundir seu método com a sua obra. Ele foi muito mais que seu método, foi um filósofo e um revolucionário da educação, e por causa desse sucesso ele ficou reconhecido internacionalmente,” diz o professor Italo Francisco Curcio. (4)

III Conclusão: Experiências Freirianas. Reconhecimento e criticas. 


As teorias e método freirianos inspiram experiências pedagógicas variadas e surpreendentes, que vou enumerar sem aprofundar nesse artigo:
Seu método e filosofia de Ensino foram adotadas em países com educação considerada de excelência, como a Finlândia

Projeto de orquestra sem maestro na Rússia, e em outros países.
Experiência de cinema com finalidade pedagógica.
Inspirada por Paulo Freire, a professora Maria Madalena Torres alfabetiza adultos na Ceilândia (D.F.) há mais de trinta anos: “é uma escola de educação popular, na comunidade, mais de dezesseis mil adultos foram alfabetizados”…e por ai vai. 
No entanto, o método do educador nunca foi usado em larga escala no Brasil. Seria difícil aplicar a filosofia de Paulo Freire pela maneira rígida como são construídos os currículos no Brasil. Segundo Erlando Reses a escola tem que seguir o currículo, mas vai depender da forma como o professor trabalha esses conteúdos. Se ele ouve as experiências do aluno, não poda, ele estará aplicando a filosofia freiriana. (4)

Ataques


Segundo Moacir Gadotti, presidente de honra do Instituto Paulo Freire, o alvo da campanha contra Paulo Freire não é só ele: o alvo é o direito à educação pública.
O Instituto Paulo Freire lançou um e-livro em 2020 avaliando a situação: Paulo Freire em tempos de Fake News: “Essa deconstrução tem um endereço, um propósito: atacar o que ele defendia que era uma escola democrática, popular, emancipadora.”(4)
Segundo a professora Maria Madalena “o grande medo é porque a metodologia freiriana esclarece e no capitalismo a classe dominante quer ter todos os lucros e gente que estuda é mais esclarecido.”
As pessoas que criticam Paulo Freire o fazem por desconhecimento ou por interesses escusos. “Nos livros dele só tem coisas boas. Ele diz que educação exige respeito, dialogo, esperança, liberdade, amor. Ser contra ele é ser contra tudo isso.”(4)

Vamos continuar  citando O Correio Braziliense: O Brasil ainda tem 11 milhões de analfabetos, e a educação enfrenta mais um desfio com a crise provocada pela pandemia. Muitos estudantes não conseguiram participar de aulas remotas. O governo economizou com o fechamento das escolas, mas não reverteu em planos de internet e cestas básicas para os alunos, deplora a professora Maria Madalena.

Minha conclusão:  O desgoverno atual prefere atacar um pedagogo genial reconhecido internacionalmente e pacifista brasileiro, do que investir na fundamental educação publica.


Bibliografia


1Pedagogia del Oprimido. Paulo Freire. Edit. Siglo, segunda edicçao, espanha, pag. 70
2 Haroldo Ceravolo Sereza, Fernando Carvall; Paulo Freire: a pedagogia da igualdade Opera Mundi 26-02-2020
3 Edison Veiga; Por que a extrema direita elegeu Paulo Freire seu inimigo. Opera Mundi, 19-09-2021 
4 Thays Martins; O centenário de Paulo Freire: admirado no mundo, também é vilão da extrema direita, correiobraziliense.com.br, 20-09-21

Por: Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE


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