TIRADENTES - O Herói da Independência -21 DE ABRIL

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 Marcos Eugênio Welter.


Joaquim José da Silva Xavier nasceu a 12 de novembro de 1746, na Fazenda do Pombal, freguesia da Santa Rita do Rio Abaixo, em Minas Gerais; de pai português e de mãe brasileira.

Muito cedo ele aprendeu, com seu padrinho, Sebastião Pereira Leitão, o ofício de dentista prático, no qual se tornou perito e que lhe rendeu o apelido de “ TIRADENTES”. Aos 25 anos de idade começou a fazer viagens com fins comerciais e profissionais, entre Minas e Rio de Janeiro, as quais continuaram durante cinco anos. Aos 29 anos, assenta praça cavalaria da Companhia dos Dragão de Vila Rica, com o posto de alferes. Alferes (do árabe: al- farc = cavaleiro) é um antigo posto do Exército brasileiro, correspondente ao atual segundo- tenente.

Muito expansivo e falante tornou- se bastante conhecido entre Vila Rica e Rio de Janeiro, nas estalagens, nas fazendas, nas casas comerciais e nos destacamentos militares. Em 1781, comandava o posto de vigilância no caminho do Rio, com a missão de reprimir o contrabando na serra da Mantiqueira. Também dedicou-se à construção de estradas, com a ligação de Sete Lagoas a Paracatu e o melhoramento de variante do Caminho Novo do Rio de Janeiro. Interessou-se pela descoberta de novas lavras e teve uma fracassada experiência agrícola. Era portanto, um homem “dos sete instrumentos”.

Nunca se casou, mas teve uma filha, de nome Joaquina, de sua ligação com Antônia Maria do Espírito Santo.

Suas permanentes movimentações fizeram-no, além de conhecido, estimado, ainda mais em consideração ao seu temperamento simpático e expansivo, à sua língua solta e a sua personalidade pitoresca. Sendo recebido em todos os meios, logo iria se associar aqueles que se queixavam da opressão fiscal, dos impostos extorsivos, dos peculatos, da corrupção e dos desmandos das autoridades.

O ano de 1788 marcou os seus decisivos contatos, no Rio de Janeiro, com homens que iriam marcar a sua vida e a sua atuação daí em diante. Em março ele se aproxima do padre Rolim, que, tendo sido acusado de contrabando e fraude justamente, diga-se de passagem- fora expulso de Minas Gerais, com ordem de se fixar na Bahia (ordem que não seria cumprida). A 23 de julho ocorre o importante encontro dele com Maciel, que acaba de chegar da Europa. Este lhe dá conta da correspondência entre Maia (Vendek) e Jefferson, do encontro entre os dois e lhe entrega um exemplar.

A partir daí ele começou a sua pregação, participando de conventículos e da importante reunião dos principais ativistas do movimento, em 26 de setembro de 1788, na casa de Freire de Andrade, para formalizar os planos de um levante armado contra a coroa portuguesa.

Essa pregação do alferes, todavia, ao invés de se limitar ao segredo de recintos fechados, como convém a revoltosos, acabou atingindo reuniões em locais públicos, nas ruas, nas praças, nos quartéis, nas tabernas, ou seja, em qualquer lugar em que pudessem existir ouvintes que poderiam aderir ao movimento. Suas falas sobre a corrupção dos governadores, a exploração da colônia pela metrópole, as riquezas da Capitania e a perfeição do regime republicano, que faria emergir essas riquezas em benefício dos brasileiros, passavam de boca em boca e iam comprometendo o futuro da revolta, que, evidentemente, teria que ser absolutamente secreta para ter êxito.

Era um entusiasta, que expunha suas ideias com fervor e que ia articulando seus planos para o movimento, garantindo, a todos que o levante seria apoiado por gente do Rio de Janeiro, do Pará, da Bahia, de Pernambuco e até da França, que havia de mandar naus de Bordéus. Graças a isso, muitos de seus companheiros o consideravam um visionário.

Quando parecia delineado o movimento, o Tiradentes volta ao Rio de Janeiro, a 11 de março, depois de ter recebido licença no dia 10 A 14 do mesmo mês é suspensa a derrama- conforme carta enviada por Barbacena à Câmara de Vila Rica e no dia seguinte, 15, o delator do movimento, Silvério, dos Reis, apresentava, verbalmente, a sua denúncia, conforme atestado do Visconde de Barbacena, incluído no Vol. 1 dos Atos da Devassa. A suspensão da derrama cobrança dos quintos em atraso. A qual, supostamente, desencadearia o levante foi, portanto, anterior à denúncia de Silvério.

Estranho, no caso, é o fato de Tiradentes, sendo principal ativista do movimento, ter viajado às vésperas da eclosão do levante, o que leva a concluir, como concluiu Kenneth Maxwell, que o plano original dos inconfidentes havia sido mudado. Quando ele viajou, Barbacena, o governador, ainda não tinha tomado conhecimento da conspiração, segundo suas próprias declarações, confirmadas, no caso, por essa viagem do alferes, já que este não teria, certamente, obtido autorização para viajar, caso a conjura já fosse conhecida das autoridades da capitania.

Denunciado o motim, ou o que restava dele, o Tiradentes passou a ser vigiado, no Rio, sendo preso no dia 10 de maio, três dias depois de ser instalada a Devassa do Rio de Janeiro. Encarcerado na ilha das Cobras, passou por vários interrogatórios, entre 1789 e 1791. No primeiro, a 22 de maio de 1789, negou tudo que lhe era imputado. No segundo e no terceiro 27 a 30 de maio, respectivamente - começa a admitir alguns fatos a respeito de sua participação. Só a 18 de janeiro de 1790 ele confessa ter sido cabeça do motim, justificando o fato de nada ter dito antes por não querer perder ninguém, mas que, diante das evidências contra ele apresentadas, reconhece que tramou tudo, sem que sofresse influência de ninguém.

O que teria acontecido para que houvesse uma mudança tão extrema? E, além de tudo, com a veiculação de uma meia verdade? Pois, na realidade, o alferes, embora reconhecidamente o mais entusiasta, não era líder incontestável da conjura- muitos pesquisadores atribuem a Gonzaga esse papel e nem a idealizou sozinho.

Talvez fosse o acme do processo de quebra de resistência, no sentido de encontrar um bode expiatório, cuja condenação justificasse a farsa da devassa montada do Rio, sem que, mesmo tempo, provocasse grandes traumas na capitania. E o Tiradentes era um réu talhado a caráter para assumir esse papel: não era influente, não tinha importantes ligações de família, não pertencia, como os demais conjurados, a plutocracia mineira, não era conhecido, como Alvarenga e Cláudio Manoel da Costa, fora do país. Ambicioso, sem grandes posses, querendo subir na escala social, igualando-se aos seus companheiros, sem todavia conseguir, era, para Lisboa, o revolucionário típico, sem prestigio social, o qual, como chefe, ridicularizaria o movimento e cuja execução provocaria impacto e serviria de exemplo, ao mesmo tempo em que depreciaria os objetivos do levante.

Seus próprios companheiros, socialmente bem situados, já haviam acentuado essa diferença: muitos evitavam falar com ele e, embora tivessem, durante os interrogatórios, evidenciado uma proteção mútua, tentando minimizar os atos dos demais, nenhum deles negou a participação do Tiradentes ou tentou amenizar a importância de suas atitudes.

Embora tenha acontecido a farsa de sentença de 18 de abril de 1792, que condenava não só o Tiradentes, mas muitos dos demais conjurados, à execução na forca, seguida de decapitação e esquartejamento, já existia uma carta régia secreta, de 15 de outubro de 1790, UM ANO E MEIO, portanto, ANTES DA SENTENÇA, recomendando clemência para os implicados, que deveriam ser então, degradados, com uma única exceção: a lei seria aplicada com todo o rigor, para o prisioneiro que, além de participar dos conventilhos, tivesse tentado disseminar o movimento, com discursos e declarações sediciosas. Essa carta régia mostra claramente, que o visado era o Tiradentes, pelos motivos já expostos. Só que ela era secreta, o público não tinha conhecimento dela. O espetáculo, a farsa, a pantomima iria ser mantida até as 12 horas e trinta minutos do de 20 de abril de 1792, quando as penas de todos os demais foram comutadas em degredo, em atendimento a carta régia, então divulgada. No dia 21 de abril, caía o pano sobre esta tragicomédia montada pelo governo.

Proclamado herói nacional, quando foi implantada a República, e patrono do Brasil, em época mais recente, Tiradentes, na realidade, merece essas honrarias póstumas, pois foi o entusiasta de uma causa de que outros se aproveitavam, assumiu todos os riscos, com o estoicismo dos predestinados e enfrentou a morte com a serenidade e a dignidade que os demais conjurados não souberam manter nos momentos mais cruciais.

Graças ao fato de ter sido levado ao degrau mais alto do altar da Pátria, como mártir da Liberdade, a sua figura sempre seduziu a todas as camadas sociais e a todos os pesquisadores da História nacional.

Por: Marcos Eugênio Welter - Trabalhou como Advogado e Funcionário do Banco do Brasil, 

Membro do Conselho Superior Internacional da ALB.




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