NATAL: OS DE ONTEM E OS DE HOJE

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José Vieira Passos Filho.


Aproxima-se o Natal.

O ciclo natalino vai de 24 de dezembro até 06 de fevereiro, dia de Reis. Tempo de relembrarmos os natais do passado. Os folguedos populares apresentados em praças públicas, casas de famílias e nas fazendas dos antigos engenhos de açúcar da zona da mata alagoana. Havia muitos outros folguedos mas os que mais se destacavam eram o fandango, a chegança, as baianas, os quilombos, os presépios dramáticos, os pastoris, os reisados e os cabocolinhos. Esses folguedos foram perdendo força depois que as festas de Natal deixaram de ser promovidas nas praças, no final da década de 1980. Em Maceió o folclorista Pedro Teixeira de Vasconcelos era o grande encarregado dessas apresentações, primeiro em Viçosa e depois em Maceió. Era ele o grande defensor das tradições folclóricas do Estado. Quando as festas natalinas declinaram de suas apresentações nas praças, os folguedos passaram a ser ensaiados em escolas públicas. O grande destaque era o guerreiro do CESMAC que se apresentou em festivais de folclore, até em outros estados do Brasil. 

Viçosa, Chã-Preta, Mar Vermelho, Pindoba e Paulo Jacinto foram os municípios de Alagoas onde as manifestações folclóricas eram mais ativas. Théo Brandão, viçosense, dedicou-se ao estudo do folclore. Escreveu: O auto dos guerreiros é um folguedo surgido em Alagoas, entre os anos de 1927 e 1929. É o resultado da fusão de reisados alagoanos e do antigo e desaparecido Auto do Caboclinhos, da Chegança e dos Pastoris: A rainha do Guerreiro, / A rainha da nação, /   Fazendo entusiasmo, / Devagá pisa no chão. (“O Guerreiro”, 1964); ...compõe-se o Pastoril de um grupo de 12 a mais meninotas, meninas ou mocinhas, dividido em dois cordões: o azul e o encarnado, côres que ostentam nas vestes, que levam à cabeça chapéus de palhinha, ou filó, ou ainda toucados ou diademas, e que tocam pandeiros especiais de lata com cabo e sem tampo. ... Sou a Diana não tenho partido, / O meu partido são os dois cordões, / Eu peço palma, dita e flores, / O´ meus senhores, sua proteção. ... (“O Pastoril” – 1964).

Estou voltando, dando ênfase, as festas natalinas em Alagoas, muito especialmente na Viçosa.

Na década de 1960 Viçosa reviveu seus folguedos populares com o Guerreiro da Boa Sorte, ensaiado pelo folclorista Vivaldo Vilela. Salientamos os nomes dos grandes mestres de Reisado: Libânio, Maria Odilon, João Félix, João amado, Patrício, João Biata, Pedro Nunes, Manoel Lourenço, Artur José, João Inácio, Francisco do Jupi, Osório Tavares e Sebastião do Guerreiro.

Na década de 1970 o Bananal renovou os tradicionais reisados com o folguedo comandado pelo lendário Mestre Osório. O reisado do Mestre Osório passou a ser um folguedo popular famoso em todo Estado de Alagoas. Em uma das várias apresentações em Bananal, na década de 1980, Osmar Jatobá, viçosense, residente em Brasília, encontrava-se de posse de um gravador, grande novidade da época. Pediu a Osório que cantasse uma peça para ele gravar e levar para a capital da República. Osório não cantou uma peça das tradicionais, improvisou a seguinte peça, hoje um verdadeiro hino de louvação à Princesa das Matas: Ô Viçosa, do nosso Brasi, / Eu longe de ti, a saudade me mata. / É de prata, cidade mimosa, / Teu nome é Viçosa, Princesa das Matas. / Este ano, eu vou ensaiar, / Nos vamos cantar as pecinhas da vila. / Faça fila, meninas cuidado, / Que vai ser gravado, pra ir pra Brasília. Osório faleceu em 2013, aos 90 anos. 

Nos dias atuais o povoado Bananal continua a tradição dos reisados, comandado pelo mestre Expedito, filho de Osório. As figurantes são cinco jovens em cada cordão com as roupas encarnado e verde. O Reisado dança ao som de uma viola tocada por Zé Bolinha, também filho de Osório. O folguedo também é apresentado na versão com crianças de 6 a 10 anos. O Bananal da Viçosa tem garantido a continuidade das tradições da terra da cultura alagoana.

Mas os tempo são outros. Estamos no século XXI com sua globalização. A tecnologia, as modas se espalhando pelo mundo. Hoje, Bananal, Viçosa e todo Brasil comemoram o Natal com um espírito mais religioso. É a festa de Natal, com a família, com uma ceia, com a troca de presentes. É a família se confraternizando e comemorando o Natal.

Por: José Vieira Passos Filho - Pres. da Academia Alagoana de Cultura, Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Sócio Efetivo da Academia Maceioense de Letras, Sócio Honorário do SOBRAMES (AL), Sócio Efetivo da Comissão Alagoana de Folclore.




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