O SEGREDO REVELADO

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Maria Teresa Freire.


Os encontros casuais são obras do destino? Isso existe? Esse tal destino? Refletia Robert, um empresário prático, que liderava várias empresas relacionadas à construção civil. Não tinha tempo para devaneios sobre destino. Aliás, nem se dava ao trabalho de pensar se ele existia ou não. 

Todavia, era um homem sensível que se preocupava em defender o meio ambiente. Era também interessado em arte e cultivava seu gosto pelas demonstrações artísticas, visitando exposições e adquirindo obras dos artistas iniciantes para incentivar suas criações.

Foi assim com Marina, artista plástica de muito talento que só pintava paisagens e também apoiava os movimentos em defesa do meio ambiente. Ele sempre ia às exposições dela, mas nunca logrou conhecer a artista. Foi encontrá-la em uma pequena cidade do interior, onde ela morava e ele havia iniciado um empreendimento imobiliário.

A pequena cidade era atraente. Uma natureza exuberante, paisagens bonitas, vegetação abundante com arvoredo frondoso, plantas e flores que cresciam viçosas transformavam o lugarejo em local agradável para dispender dias de folga e morar.  Várias pessoas estavam buscando uma localidade assim. Próxima de uma cidade grande, não era isolada de recursos necessários. Entretanto, propiciava um ambiente muito aprazível e tranquilo para moradia. 

Roberto avaliou essa oportunidade e decidiu construir um condomínio de casas bem adaptadas à natureza sem destruir a beleza natural, ao contrário, preservá-la. Portanto, passaria mais tempo na cidadezinha.  Era uma boa oportunidade de conhecer melhor Marina, a intrigante artista plástica que o encantava. Esse tempo a mais no lugar era, na realidade, por causa dela. Disse-lhe que havia comprado vários quadros dela e só agora tinha a oportunidade de conhecê-la. Convidou-a para visitar o novo empreendimento imobiliário dele. Encomendou a ela vários quadros de paisagens da região para decorar as casas a serem construídas. Insistiu em acompanhá-la aos locais escolhidos para as pinturas. Carregava os apetrechos para ela. Enquanto Marina pintava, ele a observava. Quanto mais o fazia, mais se encantava. 

Na noite chuvosa em que a encontrou perambulando, completamente desnorteada, Roberto descobriu o segredo de Marina. Naquele momento triste, em que ela se sentia desamparada, encontrou nos braços dele o refúgio que precisava. Abraçada por ele, Marina lhe contou: “meu pai foi um político acusado de receber um suborno alto para defender e convencer outros vereadores a aprovarem lei que beneficiava empresas de construção civil para construir em terrenos preservados. O escândalo à época foi grande e alastrou-se por toda a região. O pessoal do interior não desculpou meu pai e não esqueceu o caso. Eu não fui poupada das falações. Meu pai sofreu demais com o falatório, com as constantes acusações e não aguentou. Teve um infarto fulminante”.  

O problema de Marina não parava por aí. Onde ela aparecia, as pessoas lhe apontavam o dedo, chamando-a de “a filha do corrupto!”. Ainda adolescente, essas acusações lhe causaram muito impacto. Ela continuou relatando a ele: “eu era uma enxadrista imbatível. Ganhava todos os campeonatos em que participava. Era sempre desafiada, pois desejavam me vencer. Porém, depois do caso com meu pai, começaram a me insultar durante os campeonatos e quando eu ganhava diziam que a minha inteligência servia para ajudar meu pai a roubar. Eu fui desenvolvendo medo das pessoas e suas reações agressivas. Parei de participar dos campeonatos. Ficava apavorada que as pessoas me reconhecessem e começassem a me agredir. Desenvolvi o que os médicos denominam agorafobia, ou seja, medo ou ansiedade incontrolável de estar em situações em que eu estivesse insegura e não pudesse escapar. No meu caso, um pavor de estar em local público, em meio à multidão que me atacasse e eu perdesse o controle.  Por isso, eu me isolei, não participo das minhas exposições e não aceito convites para eventos de grande porte. Agora você sabe de tudo, Roberto”.      

Ele a abraçou mais forte e ela chorou bem mansinho. Roberto entendia a dificuldade de Marina e nunca exigia nada que ela não se sentisse bem para fazer. Ele foi ficando na cidade, convivendo com ela. Queria protegê-la ao máximo, pois no convívio com poucas pessoas e, sobretudo, amigas, ela era brincalhona, afetuosa, sensível e muito inteligente. Roberto conseguiu convencê-la a ir à capital. Levou-a à galeria onde estavam expostas suas pinturas (as que ainda não tinham sido vendidas). Não era dia de vernissage, portanto, quase vazia. Foram também em outros locais, de grande fluxo de pessoas, mas em horário menos lotado. Junto a ele, de mãos dadas, sentia-se protegida. Ele queria estar ao lado dela. Ela o queria ao seu lado. 

Ela passou a frequentar os eventos aos quais ele era convidado. A presença dela era bem discreta. E no final, os dois saíam rapidamente, evitando aquele burburinho dos ouvintes que queriam cumprimentá-lo. Eram vistos sempre juntos. Como um casal, de mãos dadas, braços dados. Amorosos.  Até que anunciaram o casamento. As solicitações de entrevistas foram várias. Afinal os dois eram famosos. Mas, o casamento foi discreto. Somente família e amigos íntimos. 

Em uma entrevista, o jornalista perguntou ao Roberto por que sua esposa não gostava de aparecer em público e como ele faria com os compromissos dele? Roberto respondeu: “isso é assunto nosso. Como participaremos dos eventos aos quais somos convidados ou pelos quais somos responsáveis é questão nossa para ser resolvida. Se comparecermos, vocês saberão”. 

A insistência para entrevistas continuou. Jornalistas e fotógrafos não davam sossego, querendo saber a razão das raras aparições da esposa do famoso empresário, defensor do meio ambiente, que era convidado para inúmeros eventos. Então, Roberto anunciou que eles dariam uma entrevista coletiva. 

No dia, no espaçoso hall do edifício em que se localizam os escritórios das suas empresas, preparado para a entrevista, Roberto cumprimenta a todos, explica que sua esposa falará e recebe Marina, elegantíssima em um vestido vermelho, de corte simples, mas perfeito para valorizar sua silhueta. 

Ela cumprimenta os presentes e de mãos dadas com Roberto diz: “vocês todos tem curiosidade em saber da minha vida. Hoje, eu explico a razão do meu comportamento arredio para que não haja mais questionamentos futuros”. Marina faz o relato das dificuldades pelas quais passou na vida que ocasionaram a sua atitude esquiva. E termina declarando: “graças ao amor, carinho, paciência e apoio do meu marido eu estou superando, aos poucos, essas dificuldades. É esse amor verdadeiro que me faz seguir adiante, sem medo!” 

Por: Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 
Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.



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