BELEZA FORJADA

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Maria Teresa Freire.


Elisa se olhou no espelho. Ficou mais infeliz. Viu uma mulher gorda. Casada há alguns anos, o marido a chamava assim: “oi gorda!” Ele se afastou dela. Não tem nenhum contato visual. Na realidade, nem olhava para ela. Como se não existisse, tamanha era a rejeição dele por ela. Contato físico, nem pensar, obviamente. Era um casamento praticamente inexistente. 

Ela nunca havia sido magra, mas era somente ‘cheinha’ como ele dizia. Gostava das ‘cheinhas’. Entretanto, Elisa foi engordando após o casamento. Sentia-se infeliz, totalmente esquecida pelo marido e isso a deprimia. E por que o marido estava rejeitando-a dessa maneira tão intensa? 

Elisa resolveu prestar mais atenção na movimentação do marido para captar algum esclarecimento do comportamento dele, que havia mudado completamente nos últimos dois anos. Passou a segui-lo e descobriu a razão da mudança: traição!  Seu marido encontrava-se constantemente com uma mulher bonita, elegante e magra. Almoçavam juntos, viam-se após o trabalho. Estava explicado o motivo de chegar tarde da noite diariamente. Nos finais de semana, havia reuniões extras de trabalho, seminários, enfim uma série de atividades que exigiam a participação do marido. Elisa acreditava em todas as justificativas que ele dava, até que deixou de pensar somente na sua depressão (e deprimir-se mais ainda) e voltar sua atenção para o marido.

Essa mudança foi incentivada por sua melhor amiga que conversava bastante com ela e abriu seus olhos para a realidade do seu casamento. Havia mais um agravamento: Elisa herdara alguns imóveis da avó e dos pais, todos falecidos. Tinha uma situação financeira muito boa. A herança da avó era um prédio comercial, ainda que pequeno, com lojas e escritórios que pagavam aluguéis e lhe davam uma renda cobiçada pelo marido e a família dele. Por enquanto os imóveis estavam no nome dela, mas ele estava insistindo para transferir para ele, “a fim de gerenciar melhor”, dizia ele. Interesseiro, isso sim!

Elisa decidiu que a situação mudaria. Para o próprio bem dela. Para a sua saúde mental, inclusive. Resolveu buscar ajuda para voltar ao seu peso normal ou diminuí-lo, se possível. Pesquisou várias clínicas de tratamento estético. Encontrou uma muito bem conceituada com excelentes comentários na internet. Para se certificar, pediu à amiga para investigar com médicos conhecidos. 

Após comprovar que a clínica era de extrema confiança, agendou uma consulta e gostou muito do médico chefe, que lhe inspirou segurança. Ele explicou detalhadamente sobre o tratamento específico para ela. Será um investimento nela mesma, pois até agora procurou agradar a todos com quem convivia e menos a ela. Marcou o tratamento para começar dali a nove dias. Avisou ao marido que passaria um período com uma amiga do interior, onde ela morou. Ele concordou rapidamente. Afinal, livrar-se-ia da ‘gorda’! 

Para realizar o tratamento, que terá cirurgias, Elisa precisava de um prazo longo. Na realidade queria desaparecer. Refletiu muito e em conluio com a amiga do interior, ela fingiu um acidente grave de carro, na estrada para a cidade, em que ficou muito ferida e desmemoriada. Precisou ser internada com urgência em uma Clínica (obviamente, a mesma do tratamento, que atendeu ao chamado de socorro extremamente rápido) e a amiga se responsabilizou por ela. O marido e a família foram avisados. Eles apareceram para uma visita rápida, pois ela estava sedada, e logo foram embora. Ficaram aliviados por não terem que cuidar dela.

Poucos dias depois, Elisa inicia o tratamento: perda de peso, para depois realizar cirurgias estéticas a fim de corrigir os problemas no corpo que advém da perda de muito peso.  O médico dono da clínica é responsável pela maior parte do tratamento e, principalmente, pelas cirurgias. É um cirurgião competente, respeitado no meio médico. Ele se sensibiliza com o relacionamento problemático de Elisa no seu casamento e a apoia em todas as ações necessárias.

À medida que o tratamento de Elisa avança, ela vai se transformando em outra pessoa. Passa a se aceitar melhor com sua nova aparência e se sentindo mais confiante como mulher.  Todo esse processo acontece durante um longo tempo. O resultado da primeira cirurgia permite que Elisa comprove a eficácia do tratamento completo. 

Como permaneceu longo período na clínica, convivia com o médico em um relacionamento mais próximo. Elisa transformou em uma mulher bonita. Ela é meiga, alegre e divertida. Foi conquistando o médico, com o modo tranquilo dela em aceitar todos os conselhos dele e, sobretudo, em se mostrar confiante nas decisões médicas que ele tomava.

Dr. Renato se dedicava mais à Elisa. Com a convivência, eles descobriram gostos em comum que alimentavam conversas interessantes. Não somente conversas, mas o interesse um pelo outro. Ao observá-la, D. Renato reflete: ‘agora ela é o oposto de quando chegou aqui: linda, magra e autoconfiante. É criação dele’, pensa, vaidoso e possessivo.  Uma atração forte se forma entre médico e paciente, que se adensa, se transforma em paixão que alcança intimidade sensual e os leva ao ápice do entrosamento sexual. Completam-se. Transformam-se em um só na plenitude da paixão avassaladora. 

Porém, ela quer se vingar do marido que a desprezava. Desejava reaparecer para ele, reconquistá-lo e humilhá-lo, como tantas vezes ele fez com ela. Ele trabalhava em um Escritório de Advocacia. Elisa fez contato com o Escritório a fim de contratar um advogado para abrir um processo de divórcio. Explicou que lhe indicaram o Dr. Paulo V. (seu marido). Quando ele a atendeu, Elisa controlou a raiva e a vontade de esganá-lo. Todavia percebe que ele não a reconheceu e se interessou por ela como mulher e não somente como cliente.  Elisa alimentou o contato e os dois se encontravam frequentemente. D. Renato ficou doido de ciúmes, mas sabia que ela precisava finalizar aquela fase da sua vida.

Por fim, o marido começou a desconfiar quem ela realmente era, apesar de ser difícil de acreditar. Uma série de acontecimentos obrigaram Elisa a contar sua verdadeira identidade. Surpreso, ele declara que não lhe dará o divórcio. Entretanto, ela tem outro advogado, amigo do Dr. Renato, que entrou com o pedido oficial de divórcio, comprovando a traição com fotos e testemunhos. Não houve como negar os fatos comprovados e o marido se viu pressionado a assinar os papéis do divórcio. Elisa se sentia triunfante! Expôs a traição do advogado Paulo V., tão arrogante e convencido.    

Na realidade, ela foi duplamente vitoriosa! Resolveu a situação do seu casamento, fazendo a justiça necessária e ainda encontrou o amor verdadeiro. Assim é a relação dela com o médico que realizou seu sonho, que a amou desde o início, sem levar em conta sua aparência, mas seu caráter e personalidade. Que a apoiou em todas as circunstâncias e estava a sua espera para aconchegá-la em seus braços e amá-la como ela merecia. Elisa retribuiria esse amor com toda a força do seu coração. Que surpresa extraordinária a vida lhe preparou! 

Por: Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 
Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.
Presidente da ALB - Paraná.



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