FLORISTAS

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Malude Maciel.


Muita gente denominava a Rua Tobias Barreto, em Caruaru, como sendo: Rua das Flores; porque era lá que se vendia todo tipo de flor e as flores, com seu cheiro e sua beleza, tomavam conta de toda a via pública, que parecia um enorme jardim. Essa artéria também era conhecida como: “Cafundó”.

As pessoas se encantavam em meio às diversas cores e espécies, como: gladíolos, carinho de mãe, dálias, copos de leite, monsenhor, etc. E também folhas ornamentais, tais como: avencas, mimos e folhagem em geral.

Eram inúmeras as barracas dos(as) floristas que ali acampavam negociando praticamente durante toda a semana fazendo daquele local seu habitat. Sendo que, nas sextas-feiras e sábados eram os dias de maior permanência, devido à vendagem que aumentava consideradamente. Havia, assim, famílias inteiras, vivendo e convivendo numa vizinhança saudável, como se estivessem em suas próprias moradias. Os fatos corriqueiros, como também os acidentais, eram compartilhados com simplicidade e solidariedade impressionantes.

Podia-se observar indivíduos jogando damas, cartas, dominó, gamão, etc. escutando rádio, acompanhando futebol, etc. mulheres pintando unhas, comprando Avon, enfim, trabalhando, esperando os fregueses. Homens, mulheres, crianças, jovens, velhos, todos juntos: sorrindo, falando (alto, normalmente), conversando, contando histórias, onde tudo era comunicado, numa vivência comum.

Existia ainda a figura do “peru”: aquele que vem de fora e fica somente apreciando o jogo e dando palpites. Se alguém ficava com fome, ia buscar comida em algum barzinho, nas imediações, ou pegava sua marmita e sacolas que traziam de casa; verdadeiros farnéis com guloseimas caseiras, arranjando um lugarzinho conveniente para degustar seu almoço (imenso prato com feijão, arroz, cuscuz, carne de bode, etc.) ou lanche (frutas, café, pão, bolachas, etc.), sem nenhuma cerimônia, nem acanhamento. Os pequenos, eram mantidos e alimentados com mamadeiras, copinhos de sucos e os maiorezinhos tinham direito ao prático e tradicional sanduíche americano, depois os menores são colocados pra dormir embaixo de algum toldo ou em outra cama improvisada. Os adultos, acham uma folga pra dormir e roncar sobre ou sob seu banco de flores. Era só improvisar com criatividade, enquanto o cliente não vinha…

Interessante era verificar como todos(as) os(as) floristas aguavam suas flores numa atividade constante, para que elas não murchassem e se mostrassem sempre frescas e viçosas; catando as folhas ressecadas, e decorando seu tabuleiro com ramalhetes para atrair os compradores, recebendo encomendas diversas. No momento em que o cliente aparece e se mostra interessado ou faz algum pedido, os vendedores se agitavam para escolher determinada espécie de flor de acordo com a finalidade (se para coroas, buquês de noiva, etc.), também a quantidade desejada, bem como providenciar a melhor maneira de transportar a mercadoria frágil, sem danos; embrulhando em jornais, papel salofane ou comuns, amarrando com cordões, barbantes, fitas, laços, fazendo qualquer negócio para satisfazer a clientela. A turma sabia orientar e dar sugestões para festas em geral, casamentos, ornamentações de igrejas, enterros, etc. pois cada ambiente e ocasião tem as flores certas e determinadas.

Entre aquelas figuras folclóricas de FLORISTAS que trabalhavam naquele ofício, naquela rua, antes da mudança da feira para o Parque 18 de Maio em 1992, no primeiro mandato do prefeito João Lyra Neto, havia pessoas que, por seu temperamento e espontaneidade tornavam-se populares, conhecidas, líderes, fazendo parte da paisagem. Posso citar uma senhora por nome de Terezinha que era a mais procurada pelo seu dom de resolver quaisquer problemas.

Em todo setor de trabalho, estudo ou demais atividades, há naturalmente destaques; ali, entre a turma que vendia flores, não era diferente. Terezinha dominava o grupo com habilidade. Inclusive na época das eleições, ela liderava como cabo eleitoral e fazia sua campanha com entusiasmo.

Flores são sempre bem-vindas! Seu perfume e sua diversidade de cores e beleza, muito nos cativam.

Malude Maciel - Jornalista, Escritora e Membro da ACACCIL 
Cadeira 15 – Profa. Sinhazinha.


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