COMO NASCEU O SPINA

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Ronnaldo de Andrade.

A nova forma poética foi batizada de SPINA para homenagear o saudoso professor emérito da USP, Segismundo Spina, autor de diversos livros: Apresentação da Lírica Trovadoresca; Do Formalismo Estético Trovadoresco; Introdução à Poética Clássica; Presença da Literatura Portuguesa (Era Medieval); Na Madrugada das Formas Poéticas e, entre outros, o Manual de Versificação Românica Medieval, livro que serviu de base para a criação do SPINA.

Tomamos conhecimento de algumas abras desse exímio mestre no último ano do nosso curso de Letras. O coordenador do curso, ao ficar sabendo que iríamos fazer nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre O Trovismo, ou, como alguns chamam, Trovadorismo Brasileiro que, segundo alguns estudiosos, entre eles Eno Teodoro Wanke e Carolina Ramos, é o primeiro movimento literário genuinamente brasileiro, criado em torno unicamente de uma forma poética: a Trova. Poema de quatro versos setissilábicos rimados. Foi-nos sugerido pelo coordenador o livro A Presença da Literatura Portuguesa (Era Medieval).  Esta obra, juntamente com algumas dos insignes mestres Alfredo Bosi, Massaud Moisés e Fidelino de Figueiredo, que já faziam parte dos nossos estudos, foi fundamental para a feitura do nosso trabalho.

Há algum tempo queríamos criar um tipo de poesia que pudesse nos satisfazer (a exemplo do soneto, o haicai, a trova, só para citar alguns que são bastante cultivados no século XXI) e nos dedicamos a escrever. Tínhamos algumas regras pré-definidas. Entretanto, faltava-nos definir as estruturas estrófica e rímica. Desejávamos uma estrutura estrófica que trouxesse um quê de ineditismo, atraísse o olhar curioso de quem escreve, gosta e principalmente estuda e entende de poesia.

Para atingirmos esse nosso objetivo, pesquisamos tipos de estrofes; contudo, foi na numerologia que encontramos o esquema estrófico do SPINA.

Estávamos nós trabalhando quando surgiu, entre às nove e dez horas da manhã, do dia dez de dezembro de dois mil e dezenove, data do aniversário de nossa filha, qual uma luz em extrema escuridão, a intuição de vermos o resultado numerológico de nossa data de nascimento. Sem hesitarmos, fizemo-lo e o resultado foi 35.  Somando os números temos um 8. Com o resultado em mãos, começamos a enxergar algumas sombras, mas precisávamos de mais nitidez. Tínhamos que transformar esse número em estrofe(s), não sabíamos se com ou sem métrica (regular), se teria rimas nem a quantidade de versos, se optássemos por um poema com mais de uma estrofe. Foi quando decidimos usar o resultado numerológico (35), mais a soma das duas unidades numéricas (8).  Sendo o 8 a quantidade total dos versos que comporia o poema, e o 35 seria usado para construir duas estrofes (3+5): a primeira com três versos e a segunda com cinco. Até aí nada de diferente estava sendo apresentado, pois a estrutura estrófica é de um terceto e uma quintilha. Precisávamos de algo a mais, além do que estávamos habituados. Para isso, esquematizamos a estrutura estrófica em um pedaço de madeira e nos pusemos a pensar, enquanto trabalhávamos, na estrutura dos versos. Compreendemos que definir como sendo uma das regras obrigatória do SPINA o verso isométrico, iria restringir largamente sua aceitação, pois sabemos que a maioria dos poetas atuais não utiliza esse recurso, principalmente os poetas das redes sociais, alguns da internet. Devido a isso, optamos pelo heterométrico. Todavia, continuávamos no mesmo impasse. Voltamos a analisar os dois blocos estróficos do SPINA e encontramos neles o que procurávamos, o lugar onde fixaríamos a sua principal, imutável, regra, a espinha dorsal do poema, já que optaríamos em não colocar a métrica regular como uma das obrigatórias, diferenciando-o, com isso, dos demais poemas heterométricos: a quantidade de palavras por verso. Cada estrofe passaria a ter uma quantidade diferente de palavras.  A sequência rímica também nos fez pensar, porque não tínhamos o intuito de rimar todos os versos. A princípio estabelecemos como obrigatória a seguinte sequência para ela: último verso da primeira estrofe rimará sempre com o terceiro e quinto verso da segunda estrofe. Sendo facultativas as rimas nos demais versos do poema SPINA. Assim o SPINA foi apresentado ao público. Passamos a observar a funcionalidade desse esquema rímica. Percebemos que a maioria dos SPINAS trazia rima em todos os versos. Nosso objetivo não era criar um poema todo rimado; no entanto, com algumas rimas, pois acreditamos que a rima contribui com a melodia do texto. Por esse motivo decidimos padronizar o esquema rímica, deixando uma única rima distribuída em duas sequências. Vejamos. Primeira sequência:

O último verso da primeira estrofe rima com o terceiro e quinto verso da segunda estrofe. Segunda sequência (esta é facultativa): o último verso da primeira estrofe rima com o primeiro, terceiro e quinto versos da segunda estrofe. São estas as sequências rímicas aceitáveis no SPINA.


Por: Ronnaldo de Andrade - Poeta e Professor, tem quatro livros publicados 

e organizou quatro antologias de poemas SPINAS.



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